Cotidiano

Covid 19 mata cacique Aritana de 71, um dos ícones da defesa dos índios do alto Xingu, em MT

A Covid 19 matou nesta quarta feira, 05, o cacique Aritana Yawalapiti, de 70,um dos ícones da defesa dos indios do alto Xingu, em Mato Grosso

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA 05/08/2020
Covid 19 mata cacique Aritana de 71, um dos ícones da defesa dos índios do alto Xingu, em MT
Fotos: Arquivo
A Covid 19 matou nesta quarta feira, 05, o cacique Aritana Yawalapiti, de 70,um dos ícones da defesa dos indios do alto Xingu, em Mato Grosso. Aritana estava internado há 14 dias em uma Unidade de terapia Intensiva(UTI) do Hospital São Francisco de Assis, em Goiânia , Goiás. Líder do Alto Xingu, onde vive ceca de  6.000 indígenas de 16 etnias, Aritana ficou em um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por 14 dias. Aritana era conhecido pela defesa dos direitos dos indígenas e da proteção da Amazônia. “Aritana Yawalapiti tinha 71 anos e foi uma das maiores e mais antigas lideranças do Alto Xingu. Ele era um dos últimos falantes do idioma tradicional de seu povo, o yawalapiti, mesmo nome da etnia. Além de guardar a memória de sua língua natural, Aritana também falava português e outros quatro idiomas tradicionais indígenas”, disse a família do cacique em nota. "Era um grande defensor da luta pela preservação e perpetuação da cultura de seu povo para as novas gerações, e constantemente denunciou os efeitos do desmatamento no entorno de seu território, como a extinção de peixes dos rios e a contaminação das águas." Uma das lideranças mais tradicionais da região Aritana trabalhou com os irmãos Villas-Bôas para a criação do Parque Nacional do Xingu. O impacto da Covid-19 sobre os povos indígenas é motivo de grande preocupação, conforme destacado recentemente pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que apontou o risco particularmente alto para essas populações. Segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), 633 índios já morreram de Covid-19 no Brasil, com 22.325 casos confirmados até o momento. O Ministério da Saúde registra um número menor, de 294 óbitos entre indígenas e 16.509 casos confirmados. Índios que deixaram as aldeias e se mudaram para cidades não são contabilizados separadamente pelo governo. No mês passado, a Apib e seis partidos políticos ingressaram com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo medidas legais imediatas de proteção, alegando risco real de genocídio da população indígena devido à pandemia. O STF vai retomar o julgamento da ação nesta quarta-feira, após o relator da ação, ministro Luís Roberto Barroso, ter determinado em decisão liminar que a União formulasse em 30 dias um plano de enfrentamento da Covid-19 para os povos indígenas.

Repercussão

A morte de Aritana Yawalapiti foi lamentada pelas redes sociais, incluindo entidades, indígenas e parlamentares. O neto do cacique Raoni, Patxon Metuktire, se manifestou em seu perfil: "Quando morre um cacique, a comunidade perde um líder. Quando morre um mestre e um ancião, é um livro cheio de informações que se fecha para sempre". A Aldeia Multiétnica, iniciativa em defesa da cultura e dos direitos dos povos indígenas na Chapada dos Veadeiros que reúne diferentes tribos, também lamentou a perda de Aritana. O presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Agostinho (PSB-SP), lembrou que o líder do Alto Xingu era uma das vozes indígenas de maior projeção nacional. Robin Hanbury-Tenison, presidente da Survival International, ONG internacional que milita pelos direitos dos povos indígenas ao redor do mundo, afirmou que a morte de Aritana "é particularmente triste" no momento no atual contexto político brasileiro. "É uma tragédia que, somada a diversas outras (perdas em) tribos que estão sucumbindo à Covid-19 no Brasil, agora atinge uma de suas maiores lideranças", esccreveu Hanbury-Teninson, que conheceu Aritana pessoalmente em 1971.