Cotidiano
Após anos de apagões, Justiça obriga Energisa a reformar rede elétrica em Alto Garças
Decisão atende ação do Ministério Público e impõe multa de até R$ 10 milhões por descaso no fornecimento de energia; população sofre há anos com quedas diárias e falta de resposta da concessionária

Após anos de descaso e silêncio diante do sofrimento da população, a concessionária Energisa S.A. foi finalmente acionada pela Justiça e terá que prestar contas pelos sucessivos apagões e pela precariedade na rede elétrica de Alto Garças, município do interior mato-grossense.
Em decisão firmada na última quarta-feira (30), o juiz Luiz Antônio Muniz Rocha acolheu pedido do Ministério Público de Mato Grosso (MPMT) e determinou que a empresa realize vistoria e manutenção completa na rede elétrica local — além de apresentar relatórios técnicos e se justificar sobre as inúmeras falhas de fornecimento.
A ação civil pública foi movida após uma série de investigações conduzidas desde 2022 pelo promotor de Justiça Thiago Marcelo Francisco dos Santos. Os documentos apontam para um verdadeiro colapso na infraestrutura elétrica do município, com quedas de energia ocorrendo diariamente, chegando a cinco interrupções em um só dia. Em um dos episódios mais graves, a cidade ficou mais de 18 horas sem luz, comprometendo hospitais, escolas, pequenos comércios e a vida doméstica dos moradores.
"Estamos diante de um cenário inaceitável, que ultrapassa qualquer justificativa técnica. Não se trata de eventos isolados ou causados por intempéries climáticas, mas de um padrão de negligência, de falta de investimento e de respeito com os consumidores", afirmou o promotor na petição inicial.
Segundo relatos constantes da população, o fornecimento de energia em Alto Garças se tornou sinônimo de incerteza e insegurança. Pequenos empreendedores contabilizam prejuízos recorrentes, aparelhos domésticos são danificados, e a qualidade de vida dos moradores foi duramente afetada. Apesar das constantes reclamações, a concessionária manteve uma postura de omissão, sem apresentar soluções concretas ou medidas estruturais para corrigir os problemas.
Na decisão, a Justiça determinou que a Energisa apresente, em 10 dias, os projetos completos da rede de alta e baixa tensão, além do da subestação elétrica da cidade. Também foi fixado o prazo de 30 dias para a entrega de um relatório minucioso contendo todas as interrupções de fornecimento registradas entre 2020 e 2025, com datas, horários e causas.
A empresa deverá ainda realizar uma inspeção e reparos em toda a rede que atende o município. O não cumprimento de qualquer uma das ordens acarretará multa diária de R$ 10 mil, limitada a R$ 10 milhões — valor considerado necessário para pressionar a concessionária a assumir suas responsabilidades.
Até o momento, a Energisa não emitiu qualquer nota pública sobre a decisão judicial, mantendo o mesmo silêncio que marcou sua atuação diante das falhas crônicas no município.
A ação do MPMT e a decisão da Justiça representam um respiro para os moradores, que esperam que, finalmente, a concessionária pare de tratar o fornecimento de energia como um favor, e cumpra seu papel essencial na prestação de um serviço público digno e eficiente.