Economia e Negócios

Dólar chega a R$ 5,28 com mudança da meta fiscal e conflito no Oriente Médio no radar; Ibovespa cai

No dia anterior, a moeda norte-americana avançou 1,24%, cotada em R$ 5,1847, no maior nível desde março de 2023. Já o principal índice acionário da bolsa brasileira encerrou com um recuo de 0,49%, aos 125.334 pontos

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM G1 16/04/2024
Dólar chega a R$ 5,28 com mudança da meta fiscal e conflito no Oriente Médio no radar; Ibovespa cai
O dólar opera em forte alta nesta terça-feira (16), com investidores ainda repercutindo o aumento das tensões no Oriente Médio e a mudança da meta fiscal brasileira | Pixabay

O dólar opera em forte alta nesta terça-feira (16), com investidores ainda repercutindo o aumento das tensões no Oriente Médio e a mudança da meta fiscal brasileira.

O mundo segue observado a possibilidade de que Israel possa revidar o ataque realizado pelo Irã no último fim de semana, o que pode agravar e espalhar o conflito na região.

Com o mercado já estressado pela tensão geopolítica, a notícia de que o governo deixará de perseguir um superávit das contas públicas já em 2025 aumentou o mau humor dos investidores. Agora, a projeção é de déficit zero no ano que vem, além de redução do superávit previsto para os anos seguintes.

Em meio ao cenário negativo, o Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, a B3, opera em queda.

Veja abaixo o resumo dos mercados.

Dólar

Às 14h55, o dólar subia 1,52%, cotado a R$ 5,2633. Na máxima do dia, chegou a R$ 5,2873. Veja mais cotações.

No dia anterior, a moeda norte-americana avançou 1,24%, cotada em R$ 5,1847, no maior patamar em um ano.

Com o resultado, acumula altas de:

  • 1,24% na semana;
  • 3,38% no mês; e
  • 6,85% no ano.

Ibovespa

No mesmo horário, o Ibovespa caía 0,65%, aos 124.517 pontos.

Na véspera, encerrou em queda de 0,49%, aos 125.334 pontos.

Com o resultado, acumula quedas de:

  • 0,49% na semana;
  • 2,16% no mês; e
  • 6,60% no ano.

O que está mexendo com os mercados?

Apesar do conflito no Oriente Médio pesar sobre os mercados, o destaque do dia no Brasil é a avaliação de que houve aumento do risco fiscal do país.

Ontem, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou a redução da meta do governo Lula 3, que agora é ter déficit zero em 2025, e que o salário mínimo deve ser de R$ 1.502 no próximo ano. Na LDO anterior, o projetado era de superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para 2025 e de 1% para 2026.

Conforme apuração do blog do Valdo Cruz, essa mudança na meta significa abrir mais espaço para gastos, diante de uma dificuldade para aumentar receitas no próximo ano. O mercado financeiro não gostou do afrouxamento ainda no segundo ano da existência do novo arcabouço fiscal.

Ontem, o dólar fechou no maior patamar em um ano e continua subindo neste pregão, enquanto o Ibovespa enfrenta uma sequência de quedas. Investidores enxergam a medida como uma derrota da equipe econômica, que havia projetado superávit de 0,25% em 2025.

Segundo o blog, o governo poderia ter optado por cortes para atingir esse patamar, mas a equipe econômica acabou avaliando que o clima no Congresso não é mais favorável a aumento de receitas e, por outro lado, o presidente Lula não quer sacrificar projetos de investimentos.

Também na noite de ontem, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, alertou que mudar a meta fiscal não é o ideal e que a política monetária precisa andar junto à política fiscal. Em outras palavras, indicou que o patamar de juros no final do ciclo de quedas pode ser reavaliado.

No boletim Focus (relatório que reúne as projeções de economistas) desta semana, as estimativas para a taxa Selic já saíram de 9% para 9,13% em 2024. Juros altos por mais tempo são prejudiciais para a economia porque tornam o acesso ao crédito mais caro e reduzem o consumo.

Mudar meta fiscal não é o ideal, diz Campos Neto

Além disso, o mercado também segue atento aos desdobramentos dos conflitos no Oriente Médio. No fim de semana, o Irã lançou um ataque de mísseis e drones contra Israel, após um suposto ataque israelense contra a embaixada iraniana na Síria.

Há um esforço diplomático internacional, principalmente dos Estados Unidos e Europa, de conter a escalada das tensões, impedindo que Israel responda ao ataque.

No entanto, o governo israelense prometeu uma retaliação e voltará a se reunir nesta terça para discutir uma resposta. A intenção do governo israelense é realizar uma ofensiva que atinja o território iraniano mas que não seja forte o suficiente para provocar uma nova guerra no Oriente Médio, segundo fontes do gabinete ouvidos pela agência de notícias Reuters.

O Irã disse, depois do ataque, que tratava a questão como encerrada, mas alertou que vai revidar no caso de um novo ataque de Israel.

Neste contexto de incertezas, investidores recorrem aos títulos que são tidos como mais seguros para proteger seu patrimônio. Assim, o dólar ganha vantagem sobre outras moedas, principalmente as de países emergentes, como o Brasil.

Além disso, dados dos EUA voltaram a vir fortes, fazendo investidores acreditarem que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) pode não reduzir suas taxas de juros de maneira significativa neste ano. Atualmente, os juros nos Estados Unidos estão entre 5,25% e 5,50% ao ano.

Ontem, o Departamento do Comércio dos EUA informou que as vendas no varejo aumentaram 0,7% em março, acima do 0,3% projetado por economistas ouvidos pela Reuters. Já os dados de fevereiro foram revisados para alta de 0,9%, em vez do 0,6% informado anteriormente.

Os números fizeram os rendimentos da Treasury de dez anos — referência global de investimentos seguros — superarem os 4,60%.

O vice-chair do Federal Reserve, Philip Jefferson, disse nesta terça-feira que "será apropriado manter a atual postura restritiva da política monetária por mais tempo" caso a inflação não desacelere como esperado.

"Minha perspectiva básica continua sendo a de que a inflação diminuirá ainda mais, com a taxa básica mantida estável em seu nível atual, e que o mercado de trabalho permanecerá forte, com a demanda e a oferta de trabalho continuando a se reequilibrar", disse Jefferson em comentários preparados para um discurso em uma conferência de pesquisa do Fed em Washington.

"É claro que as perspectivas ainda são bastante incertas, e se os dados disponíveis sugerirem que a inflação é mais persistente do que espero atualmente, será apropriado manter a atual orientação política restritiva por mais tempo. Estou totalmente empenhado em fazer a inflação voltar a 2%."

Os investidores seguem à espera de falas do próprio chair, Jerome Powell, durante a tarde, que podem exercer influência sobre os ativos no Brasil.