Economia e Negócios

Dólar sobe forte e fecha em R$ 5,73, maior valor em mais de dois anos e meio; Ibovespa tem queda

Moeda americana está na maior cotação desde 21 de dezembro de 2021. O principal índice de ações da bolsa fechou em queda de 0,20%, aos 127.395 pontos

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM G1 01/08/2024
Dólar sobe forte e fecha em R$ 5,73, maior valor em mais de dois anos e meio; Ibovespa tem queda
O primeiro fator que investidores repercutiram no pregão de hoje foram as decisões de política monetária do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC) e do Federal Reserve | Karolina Kaboompics/Pexels

dólar fechou em forte alta nesta quinta-feira (1°), aos R$ 5,7349. É maior valor de câmbio para a moeda americana desde 21 de dezembro de 2021 (R$ 5,7388).

O primeiro fator que investidores repercutiram no pregão de hoje foram as decisões de política monetária do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC) e do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

Ontem, as duas instituições decidiram manter suas taxas de juros inalteradas. No Brasil, a taxa Selic permaneceu em 10,50% ao ano, mas com sinalizações de que o Copom está cauteloso com o cenário econômico.

Já nos Estados Unidos, o Fed manteve os juros em uma faixa de 5,25% a 5,50% ao ano. Em entrevista a jornalistas, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que um corte na taxa poderá ser discutido na próxima reunião, caso os dados econômicos caminhem conforme o esperado.

"Hoje é um dia de dólar forte no mundo como um todo, por aversão a risco e uma apreensão pela inação do Fed ontem e o payroll [relatório de emprego dos EUA] de amanhã", diz Filippe Santa Fé, head de multimercados do ASA.

"Mas, localmente, a postura bem menos 'hawk' [menos rígida] que o esperado do Copom faz o real ter resultado bem pior que os pares nesse ambiente adverso", explica. "Não tivemos nem perto de uma sinalização de que a alta está iminente, o que vários esperavam. A palavra 'subir' ou 'alta' não estão presentes no comunicado."

O mercado se dividiu sobre quanto esse endurecimento atendeu às expectativas, em meio a um cenário de aumento das expectativas de inflação. Analistas falaram ao g1 nesta quinta-feira. (veja mais abaixo)

O segundo ponto foi a escalada do conflito no Oriente Médio. O chefe do Hamas, Ismail Haniyeh, foi morto nesta quarta-feira (31). A morte marca uma nova tensão em meio ao conflito na Faixa de Gaza, com anúncios de retaliação do Irã e do Egito.

Em meio ao ambiente de aversão ao risco, o Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, a B3, fechou em queda.

    Dólar

    O dólar fechou em alta de 1,43%, cotado a R$ 5,7349. Na máxima do dia, chegou a R$ 5,7434. Veja mais cotações.

    Com o resultado, acumulou:

    • alta de 1,36% na semana;
    • ganho de 1,43% no mês;
    • alta de 18,18% no ano.

    No dia anterior, a moeda norte-americana teve alta de 0,66%, cotada em R$ 5,6541.

    Ibovespa

    O Ibovespa fechou em queda de 0,20%, aos 127.395 pontos.

    Com o resultado, o Ibovespa acumulou:

    • queda de 0,08% na semana;
    • recuo de 0,20% no mês;
    • perdas de 5,06% no ano.

    Na véspera, o índice fechou em alta de 1,20%, aos 127.652 pontos.

    O que está mexendo com os mercados?

    Os agentes do mercado financeiro analisam com cuidado os resultados das reuniões de política monetária do BC do Brasil e dos EUA.

    No Brasil, o Copom optou por manter a taxa Selic em 10,50% ao ano, numa decisão que já era amplamente esperada. O tom do comunicado foi mais duro, o que reforçou a perspectiva de que o colegiado pode voltar a subir os juros se julgar necessário.

    "A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, ampliação da desancoragem das expectativas de inflação e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária", diz trecho do documento.

    Em reportagem nesta segunda-feira, g1 mostrou a reação de alguns analistas ao comunicado.

    Para Adriana Dupita, economista de mercados emergentes da Bloomberg Economics, o tom geral do comunicado do Copom foi realmente mais duro do que o da reunião de junho – e em linha com a piora na perspectiva para a inflação.

    “Mas ainda não foi dessa vez que o BC sinalizou que contempla dar a alta de juros que o mercado precifica”, diz.

    A especialista afirma que, até a próxima reunião do Copom, em setembro, novas informações relevantes vão ser divulgadas e consideradas pelo Comitê. Entre elas, o Orçamento de 2025, a possível indicação de novos membros para a autoridade monetária e o possível início dos cortes de juros pelo Federal Reserve.

    “Nesse sentido, o comunicado desta quarta deixa ainda alguma flexibilidade para o BC reagir aos novos dados.”

    O economista Danilo Passos, da WHG, ressalta que o comunicado desta quarta mostra um Copom ainda um pouco indeciso sobre se realmente precisa ser mais hawkish (no sentido de elevação dos juros).

    “O comunicado tem vários marcadores hawkish [tom mais duro]. Em diversos trechos, o BC fala em um acompanhamento diligente, em uma cautela na política monetária. Por outro lado, há sinalizações que o mercado esperava, mas não vieram”, diz.

    Passos destaca, por exemplo, que o texto não mencionou uma “assimetria no balanço de riscos pela inflação”. "Esse poderia ser um marcador mais claro de que o cenário estaria, na visão do próprio BC, se deteriorando muito – e que o próximo passo poderia ser uma alta nos juros.”

    Já no exterior, a decisão do Fed já era esperada pelo mercado e veio após o comitê ter mantido o mesmo referencial na última decisão, em junho — chegando, agora, à oitava reunião consecutiva de juros inalterados.

    Em entrevista a jornalistas, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que um corte na taxa poderá ser discutido na próxima reunião, caso os dados econômicos caminhem conforme o esperado.

    “Uma redução em nossa taxa básica de juros pode estar na mesa já na próxima reunião, em setembro”, disse Powell. “As leituras de inflação do segundo trimestre aumentaram nossa confiança, e novos dados positivos fortaleceriam ainda mais essa confiança."

    Em comunicado, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) afirmou que, nos últimos meses, houve algum progresso adicional em direção à sua meta de inflação, que é de 2%.

    Apesar disso, voltou a afirmar que não considera apropriado reduzir o intervalo de juros até que tenha "maior confiança de que a inflação está evoluindo de forma sustentável" para a meta. Segundo o colegiado, a inflação diminuiu no ano passado, "mas continua um pouco elevada".

    O Fomc também destacou que está "preparado para ajustar a orientação da política monetária conforme apropriado caso surjam riscos que possam impedir o alcance de seus objetivos".

    Sobre o mercado de trabalho, o comitê afirmou que "os ganhos no emprego permaneceram moderados e a taxa de desemprego subiu, mas continua baixa". Disse ainda que "os riscos para atingir suas metas de emprego e inflação continuam a se mover para um melhor equilíbrio".

    O colegiado ponderou, no entanto, que a perspectiva econômica é incerta, e que segue "atento aos riscos para ambos os lados de seu mandato duplo".

    Participantes do mercado acreditam que o corte deve acontecer já em setembro, tendo em vista o ambiente inflacionário mais controlado na maior economia do mundo.

    O PCE — que é o índice de inflação preferido do Fed, pois considera, em seu cálculo, apenas uma cesta dos bens e serviços mais utilizados pela população em determinado período — desacelerou no último mês a 2,5% na taxa anual, em linha com as projeções.

    Amanhã, o mercado observa os resultados do payroll, relatório de emprego dos EUA, que mostra o aquecimento do mercado de trabalho e seu potencial de pressão sobre a inflação americana.

    Outro rebote importante de fortalecimento do dólar vem do agravamento do conflito geopolítico no Oriente Médio.

    De acordo com uma investigação realizada pelo jornal "The New York Times" divulgada nesta quinta-feira (1º), o chefe do Hamas, Ismail Haniyeh, foi morto não por um ataque aéreo, mas pela detonação de uma bomba escondida em uma base militar em Teerã, no Irã, durante dois meses.

    Irã e o Hamas, além de diversos países do Oriente Médio, culparam Israel, que não se posicionou. Hanyieh foi assassinado dentro da residência militar na qual estava hospedado. Seu guarda-costas também foi atingido e morreu.

    O funeral do chefe do grupo terrorista Hamas, Ismail Haniyeh, foi realizado nesta quinta-feira (1º) em Teerã, no Irã, com protestos e promessas de vingança a Israel.

    "Perseguiremos Israel até arrancá-lo da terra da Palestina", disse o ministro das Relações Exteriores do Hamas, Khalil Al Hayya, que participou da cerimônia.

    Também nesta quinta-feira, Israel anunciou ter matado o chefe do braço militar do Hamas, Mohamed Deif. Deif comandava a brigada Al-Qassam, espécie de forças armadas do Hamas, e foi um dos terroristas que arquitetaram a invasão a Israel em 7 de outubro de 2023.

    No entanto, Israel não assumiu a autoria do assassinato de Haniyeh. Na quarta-feira, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse apenas que seu país deu "golpes esmagadores" em aliados do Irã, mas não mencionou o chefe do Hamas.

    "Várias companhias aéreas americanas estão cancelando voos para Tel Aviv, há uma escalada de tensão por lá. A meu ver, [a alta do dólar] não é um fenômeno brasileiro, até porque hoje de manhã a curva de juros estava caindo. Esse movimento começou a se agravar mais agora à tarde", diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.