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Argentina inicia abertura progressiva da quarentena obrigatória

09/05/2020
A Argentina flexibilizou o confinamento em vigor desde 20 de março, mas não muito. Depois de quase 50 dias de quarentena obrigatória, a mais rigorosa e extensa da região, o Governo de Alberto Fernández iniciou a abertura progressiva de atividades na maior parte do país, mas manterá o confinamento na cidade e na província de Buenos Aires, os dois distritos mais afetados. A abertura parcial coincide com a inclinação progressiva da curva de contágio. Nesta sexta-feira, a Argentina registrou 240 casos positivos de covid-19, o número mais alto desde o início da pandemia. São 293 mortos e o número total de infectados atinge 5.611.  

Fernández resistiu às pressões de empresários, economistas diversos e sindicatos, que advertiram nas últimas semanas que a quarentena levou a economia à beira do colapso. “Não vão torcer meu braço, vou cuidar das pessoas antes de qualquer coisa. Terminaremos esta discussão na qual querem que acreditemos que se abrirmos a economia estaremos melhor. Tem gente tomada pela ansiedade de abrir a economia, sem levar em conta a saúde”, afirmou o presidente.

 

A Argentina tem duas províncias sem casos de coronavírus e grandes regiões em que a taxa de contágio se multiplica a cada 25 dias. Mas a realidade é muito diferente em Buenos Aires e seus subúrbios, consequência da densidade demográfica. “Nessa região estão 86% dos casos. Não podemos, em nome da economia, abrir tudo em Buenos Aires.” A quarentena irá até 24 de maio, mas o mapa será diverso. “O decreto que estamos publicando diz que toda a Argentina, exceto a região metropolitana de Buenos Aires, está entrando em uma nova fase. Buenos Aires e seus subúrbios continuam como até agora. O transporte continua sendo proibido, exceto para aqueles que fazem trabalhos essenciais. No interior do país, a disposição de abrir indústrias e lojas está nas mãos de governadores e prefeitos. O que fazemos na presidência é habilitar protocolos de abertura.”

 

A prorrogação desta sexta-feira foi a quarta consecutiva da quarentena. Mas, diferentemente das ocasiões anteriores, mereceu uma encenação particular. Fernández estava acompanhado pelos chefes políticos dos dois distritos mais populosos, mais ricos e mais afetados pelo coronavírus: o governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, e o prefeito da cidade de Buenos Aires, o líder da oposição Horacio Rodríguez Larreta. Além disso, pela primeira vez os assessores sanitários do Governo estavam no palco. “Valorizo o trabalho conjunto que estamos realizando”, disse Rodríguez Larreta, em um gesto que tem poucos precedentes na política argentina. “A quarentena prossegue na cidade de Buenos Aires. Mas vamos incorporar que nos fins de semana as crianças poderão sair para dar uma volta com os pais. Isso não significa que se reúnam com amigos, e as praças continuarão fechadas”, disse Rodríguez Larreta.

 

A Argentina foi um dos primeiros países da América Latina a decretar a paralização total das atividades econômicas e o confinamento da população em 20 de março. A quarentena achatou a curva de contágio a tal ponto que já existem sanitaristas que duvidam que o tão temido pico chegue. Mas o sucesso também foi um grande obstáculo para a economia de um país que este ano experimentará sua terceira queda consecutiva do PIB.

 

Os casos positivos dispararam na última semana na cidade de Buenos Aires, causados por infecções nas villas de emergencia [favelas]. As duas mais afetadas são a 31, com 280 casos confirmados, e a 1-11-14, com cerca de cem. A superlotação nas casas, onde é frequente que quatro ou cinco pessoas dividam um quarto, e os cortes frequentes de água tornam esses bairros um alvo fácil para a rápida disseminação do coronavírus. As organizações sociais acusam o Governo de Buenos Aires de não ter agido a tempo para isolar a população mais vulnerável, os idosos e as pessoas com patologias anteriores.