Duas figuras que fizeram história e estão ligadas juntas a Joe Biden devem liderar a programação da terceira noite da Convenção Nacional Democrata, marcada para esta quarta-feira (19).
Companheira de chapa de Biden, a senadora da Califórnia Kamala Harris será oficialmente nomeada candidata democrata a vice-presidente – o que faz dela a primeira negra a aparecer na chapa de um dos maiores partidos americanos, e potencialmente a primeira mulher vice-presidente do país.
Já o ex-presidente Barack Obama vai fazer a defesa da eleição do seu antigo vice. Os discursos de Obama e Harris serão os elementos a serem acompanhados mais de perto nesta noite, que também terá a candidata democrata em 2016, Hillary Clinton, e a senadora do Massachussetts Elizabeth Warren.
Warren foi uma das rivais mais duras de Biden nas primárias democratas, mas nos últimos meses se aproximou da campanha dele na formulação de políticas econômicas.
Seguem quatro momentos importantes para assistir na terceira noite da Convenção Nacional Democrata:
A promotora Harris apresenta seu caso contra Trump
Harris, uma ex-procuradora-geral da Califórnia conhecida por seus questionamentos duros contra indicados por Trump para a Suprema Corte durante audiências no Senado, irá, como a vice de Joe Biden, apresentar suas acusações contra o presidente Donald Trump.
Harris "espera que as pessoas vejam elas mesmas em seu discurso", diz um aliado da campanha democrata, já que ela falará não apenas sobre as suas histórias pessoais mas também sobre as experiências de outros.
Kamala Harris, filha de imigrantes da Índia e da Jamaica, frequentemente fala sobre a vivência deles nos Estados Unidos e a dela mesma como uma mulher birracial. Ela, com frequência, parte das suas lições com a mãe e da sua passagem pela historicamente negra Universidade Howard, para explicar a sua visão de mundo.
Aliados dizem que a candidata a vice-presidente "vai estabelecer a visão por uma nação mais inclusiva, na qual todos são bem-vindos e possuem iguais oportunidades e proteção dentro da lei".
Ela também vai defender a necessidade de eleger Biden, apresentando o colega de chapa como um "líder único para o momento", enquanto "desenha um claro contraste com a liderança falha de Donald Trump".
Em vez de seu estado natal da Califórnia ou de Milwaukee, Wisconsin, onde os democratas planejavam realizar a convenção deles, o discurso de Harris será feito da mesma Wilmington, Delaware, cidade de onde Joe Biden aceitará a nomeação democrata na quinta-feira (20) à noite.
Harris, como outros oradores, deve enfatizar a figura de Biden em contraste com a de Trump. E ela tem uma história para contar: Era amiga do filho de Biden, Beau, que morreu de um câncer cerebral em 2015.
Os dois se conheceram quando ela era a procuradora-geral da Califórnia e Beau Biden exercia o mesmo cargo em Delaware.
Mas Kamala também é esperada para fazer o papel típico dos candidatos a vice-presidente de ser o "cachorro de ataque", expressão comum na política americana, que significa assumir o papel de atacar o adversário enquanto o candidato a presidente assume um discurso mais amplo e ameno.
Kamala indicou a disposição para cumprir a missão na sua primeira aparição como candidata a vice, ao lado de Biden em Delaware.
"Ele herdou a expansão econômica mais longa da história de Barack Obama e Joe Biden. E então, como tudo o mais que ele herdou, ele levou direto para o chão", disse então, sobre Trump.
Obama vai defender o seu número 2
Barack Obama sabe o que é preciso para ser presidente. E ele conhece Joe Biden.
É por isso que os organizadores da Convenção Democrata veem o discurso do ex-presidente, mais do que qualquer outro na noite desta quarta, como chave para convencer eleitores de que o ex-vice-presidente está pronto para pular para o cargo principal.
Katie Hill, porta-voz de Obama, disse que o discurso vai enfatizar "por que Joe Biden e Kamala Harris possuem a experiência e o perfil para nos liderar fora da atual crise econômica e o desastre de saúde em que a atual administração se manteve".
Obama vai falar sobre o trabalho de Biden como o seu vice-presidente, especialmente a sua atuação na economia e na saúde, e criticar, diz Hill, "os movimentos cínicos do atual governo e do Partido Republicano para desencorajar os americanos de votar".
"Ele vai fazer uma defesa de que a democracia em si está em jogo – junto com a chance de criar uma versão melhor dela", prossegue a porta-voz.
"E por fim, ele irá fazer a sua defesa para que todos os americanos que acreditam em uma nação mais generosa e justa: esta eleição é importante demais para ficar sentada."
Obama fez uma defesa fervorosa da eleição de Hillary Clinton em 2016, apresentando a sua ex-secretária de Estado como a herdeira correta do seu legado.
Aquela visão não deu certo – Trump foi eleito meses depois do discurso de Obama –, então o ex-presidente nesta quarta-feira vai discursar em nova tentativa de ao mesmo tempo desbancar o sucessor e impulsionar outro candidato ao seu legado.
A credencial econômica de Biden
O relacionamento próximo de Elizabeth Warren com Joe Biden – o que a levou a ser seriamente considerada para ser escolhida como candidata a vice-presidente – é, de certa forma, uma surpresa, já que ela entrou na política como uma crítica veementemente da legislação de falência de bancos, que Biden ajudou a tornar lei.
A distância entre os dois caiu, no entanto, de forma acentuada nos últimos meses, com Biden abrançando as propostas políticas de Warren para reforma nessa lei, nos empréstimos estudantis, nas mudanças climáticas, que ela já havia absorvida do governador de Washington Jay Inslee, e mais.
Essas mudanças resultaram em conversas consistentes entre a campanha de Biden e os antigos aliados de Warren.
A influência da senadora de Massachussetts com as mulheres progressistas já proporcionou a Biden um impulsionamento na arrecadação de recursos – incluindo US$ 6 milhões arrecadados durante o primeiro evento conjunto de ambos.
Mas ela pode ser ainda mais importante como a credencial que valide os planos econômicos de Biden, especialmente com os progressistas.
Warren está agendada para falar na noite de quarta-feira. E enquanto ela teve menos tempo de fala do que em um ciclo eleitoral normal, com convenções lotadas, mostrou durante as primárias democratas que é uma dos comunicadoras mais efetivas do partido em apresentar questões políticas em porções pequenas e digestíveis – o que a torna uma das atrações desta quarta-feira.
Clinton: Nada está garantido
Hillary Clinton, a única outra democrata a enfrentar Trump em uma eleição, fará o discurso que apenas ela pode fazer da sua experiência pessoal: não considere nada garantido com esse presidente.
Clinton, aparecendo da sala da sua casa, dirá que o país "merece um presidente melhor" e argumentará que essa pessoa é Biden, disse uma fonte com conhecimento do assunto à CNN.
Mas a principal mensagem do seu discurso é a de que a eleição não pode ser dada como encerrada e que democratas precisam superar os republicanos em novembro porque nada que Trump fará para vencer pode ser subestimado.
Essa é uma mensagem que apenas Hillary Clinton está habilitada a fazer. Os democratas acreditavam, quatro anos atrás, que a ex-secretária de Estado estava com o caminho traçado para a Presidência.
Ela perdeu a aposta, rachando o partido, e a ex-candidata democrata vai argumentar que essa eleição é importante demais para deixar acontecer de novo.
Hillary Clinton também planeja falar sobre os lados humanos de Biden e Harris. Ela vai refletir sobre como ela e Biden trabalharam juntos durante o governo Obama e o apoio que deram um ao outro quando perderam membros da família.
Hillary também vai falar sobre Harris e a coragem da senadora, assim como a compaixão. Ela deve mencionar Tyrone Gayle, um porta-voz democrata que trabalhou com ambas antes de morrer de um câncer de colo em 2018, aos 30 anos.
Clinton, disse a fonte, vai relembrar como Kamala Harris viajou a Nova York para estar com Gayle em seus últimos momentos de vida.
Tanto a ex-secretária quanto a senadora da Califórnia prestaram homenagens ao ex-assessor em 2018.