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Terremoto em Mianmar e Tailândia deixa mais de 150 mortos e centenas de feridos; o que se sabe
A junta militar no poder em Mianmar afirmou à BBC que pelo menos 144 pessoas morreram e outras 732 ficaram feridas no país

Um forte terremoto, de magnitude 7,7, atingiu o centro de Mianmar nesta sexta-feira (28/3), segundo registros do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês).
A junta militar no poder em Mianmar afirmou à BBC que pelo menos 144 pessoas morreram e outras 732 ficaram feridas no país.
Ao menos outras sete pessoas foram confirmadas mortas na Tailândia, onde um edifício em construção desabou devido ao terremoto, deixando mais de 80 trabalhadores desaparecidos.
A modelagem do Serviço Geológico dos Estados Unidos estima que o número de mortos poderá ultrapassar 1 mil pessoas, segundo o jornal New York Times.
O epicentro do tremor foi localizado a 16 km a noroeste da cidade de Sagaing, a uma profundidade de 10 km, segundo o USGS.

Os tremores foram sentidos em países vizinhos, como a Tailândia e o sudoeste da China. Vídeos publicados nas redes sociais mostraram danos a prédios em Bangkok, capital da Tailândia, a centenas de quilômetros de distância do epicentro.

Há relatos sobre estradas e ruas danificadas na capital de Mianmar, Naypyidaw.
Segundo Min Aung Hlaing, general do exército de Mianmar, o número de mortos no país pode aumentar nas próximas horas.
Entre as vítimas, 96 pessoas morreram em Nay Pyi Taw, 18 em Sagaing e 30 em Mandalay.
Um membro de uma equipe de resgate em Mandalay, no centro de Mianmar, disse à BBC que "os danos são enormes".

Em Bangkok, mais de 80 operários de um prédio de 30 andares em construção que desabou com o tremor estão desaparecidos sob os escombros. A morte de sete pessoas foi confirmada.
Segundo as autoridades locais, havia mais de 400 pessoas trabalhando no local no momento da queda.
Em Mianmar, as autoridades locais decretaram estado de emergência em seis regiões do país.
O país enfrenta turbulências políticas desde 2021, quando uma junta militar tomou o poder. O acesso à informação no país tem sido restrito desde então.
Segundo dados do USGS, um tremor secundário forte, com magnitude 6,4, ocorreu apenas 12 minutos após o primeiro.


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Risco de liquefação

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O USGS disse que Mianmar corre risco de liquefação após o terremoto. O fenômeno pode continuar a causar danos a edifícios e infraestrutura.
A liquefação é o processo pelo qual o solo saturado de água perde sua força e se comporta como um líquido durante terremotos, de acordo com o serviços americano.
"A liquefação desencadeada por este terremoto é estimada como extensa em gravidade e [ou] extensão espacial", com mais de 1.000 km² podendo ser afetados, segundo o órgão.
Se o solo sob um edifício passar por esse processo, isso pode causar grandes danos.
Além da liquefação, o USGS diz que também há um "risco significativo" de deslizamentos de terra.

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Os terremotos são relativamente mais comuns em Mianmar, em comparação com a Tailândia.
Entre 1930 e 1956 houve o registro de seis fortes tremores com magnitudes superiores a 7 próximos à falha de Sagaing, que corta o centro do país, segundo a agência de notícias AFP, citando dados do USGS.
A Tailândia não está em uma zona de terremotos, e raramente tremores são sentidos no país.
Os edifícios em Bangkok não são planejados para resistir a fortes terremotos, razão pela qual houve registros de colapsos na capital tailandesa.

'Ainda não sabemos a extensão da destruição'
Mohamed Riyas, diretor do Comitê Internacional de Resgate no país, afirma que pode levar semanas até que a dimensão total dos danos causados pelo terremoto seja conhecida, já que as linhas de comunicação estão fora do ar e o transporte foi afetado.
Milhares de pessoas em Mianmar podem precisar urgentemente de abrigo, comida e assistência médica, diz Riyas.
Um homem que faz parte de uma equipe de resgate formada por voluntários, que estão ajudando em vilarejos próximos à região de Mandalay, contou que as equipes precisam de máquinas para alcançar pessoas presas sob os escombros.
"Estamos retirando as pessoas com as mãos. Isso não é suficiente para resgatar os corpos e as pessoas que estão presas sob os escombros", disse.
"As pessoas gritam: 'Me ajudem, me ajudem'. Me sinto impotente."
Até agora, o foco tem sido Mandalay, mas ele afirma que os piores danos que viu foram em pequenos vilarejos próximos.
O voluntário também relatou ter visto prédios desabados em Amarapura e Tada-U. A BBC não conseguiu verificar essas informações de forma independente.
"A situação lá é ainda pior do que em Mandalay. Só na vila de Bone Oe, mais de 100 pessoas morreram", disse o homem, que pediu anonimato por temer represálias do Exército.
Militares pedem ajuda internacional
A junta militar que governa Mianmar fez um raro pedido de ajuda internacional, mas o governo paralelo de oposição, conhecido como Governo de Unidade Nacional (NUG, na sigla em inglês), defende que qualquer assistência seja distribuída por redes locais independentes.
Um porta-voz do NUG pediu à comunidade internacional que envie ajuda por "canais independentes, locais e confiáveis".
Em uma postagem no Facebook, Sasa [representante do NUG] listou as áreas onde a necessidade é "desesperadora", incluindo abrigo seguro, água potável e atendimento médico de emergência.
"Pedimos à comunidade internacional: enviem apoio por redes independentes e locais para garantir que a ajuda real chegue às pessoas reais, rapidamente", disse.
O NUG foi formado em abril de 2021 por grupos que se opõem à junta militar.
Os militares tomaram o poder em fevereiro daquele ano, dez anos depois de terem concordado em entregá-lo a um governo civil. Desde então, a junta reprimiu brutalmente a dissidência, executando ativistas pró-democracia e prendendo jornalistas.
Desde que tomou o poder, o governo de Mianmar "destruiu o cenário midiático" do país. Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras, a junta militar "não tolera nenhuma narrativa alternativa" e rapidamente proibiu veículos de imprensa críticos ao regime, além de restringir restringiu o acesso a diversos sites e plataformas de redes sociais.
A dura repressão aos protestos pró-democracia levou muitos jovens a fugir para regiões controladas por grupos étnicos armados, onde pegaram em armas contra o Exército.
Uma trabalhadora humanitária em Mianmar relatou à BBC as dificuldades para atuar em meio à crise política que se arrasta desde o golpe militar de 2021.
"Muito do nosso trabalho acontece sem buscarmos aprovação oficial. Mas, ao mesmo tempo, Mianmar é um lugar onde nada pode ser feito sem aprovação", afirmou.
"Isso significa que estamos sempre tentando não ser notados. Se formos, corremos o risco de sermos presos, detidos e sofrer represálias."
Ela explicou que as áreas próximas ao epicentro do terremoto ainda são redutos militares, o que torna o trabalho de resgate ainda mais difícil.
"O pedido de ajuda internacional por parte dos militares é um sinal positivo", disse.