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Trump escala 'guerra tarifária' com China, mas pausa taxas extras para outros países e mercados respondem com alívio

Trump também afirmou que autorizou uma "pausa" de 90 dias na aplicação de tarifas extras aos países que não retaliaram sua nova política de comércio

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM BBC 09/04/2025
Trump escala 'guerra tarifária' com China, mas pausa taxas extras para outros países e mercados respondem com alívio
Novas tarifas sobre produtos da China aumentaram novamente | Jim Lo Scalzo/EPA

Menos de 24 horas após aumentar as tarifas contra produtos chineses para 104%, o presidente americano, Donald Trump, voltou à carga na disputa comercial com Pequim e anunciou um novo acréscimo para 125% nesta quarta-feira (9/4).

Trump também afirmou que autorizou uma "pausa" de 90 dias na aplicação de tarifas extras aos países que não retaliaram sua nova política de comércio.

A pausa significa que uma tarifa "universal de 10%" será aplicada a todos os países, exceto a China, disse a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt. O Brasil, taxado em 10% por Trump e que não anunciou retaliações, fica como está.

Canadá e México também ficarão fora do grupo que será taxado em 10%. Produtos que fizerem parte do acordo de livre-comércio entre os EUA e os dois países continuarão sem tarifas. Produtos que estiverem fora do acordo serão taxados em 25%, esclareceu a Casa Branca.

Bessent não esclareceu se essa nova tarifa básica também se aplica à União Europeia, que reagiu nesta quarta-feira (9/4), impondo tarifas sobre alguns produtos importados dos EUA, que em tese entrarão em vigor em 15 de abril.

Horas antes do novo anúncio de Trump, a China havia anunciado uma retaliação ao tarifaço explosivo de Trump impondo taxa de 84% sobre todos os produtos americanos a partir de quinta-feira.

Trump afirmou em sua rede social Truth Social que a reação de Pequim era "falta de respeito da China com os mercados globais".

As novas tarifas de Trump sobre as importações de cerca de 60 países haviam entrado em vigor nesta quarta, até o anúncio da pausa. A China continua sendo a mais afetada, com um aumento na taxa de 34% antes, que agora saltou para 125%.

Antes de anunciar a taxa de 84%, o governo chinês já havia prometido "lutar até o fim" e declarado que "nunca aceitará a natureza de chantagem dos EUA".

Outro país que havia respondido ao tarifaço de Trump foi o Canadá, impondo 25% sobre certos carros vindos dos EUA e bilhões de dólares em produtos americanos.

Na terça, o presidente americano disse que está em negociação com outros países sobre tarifas. "As nações que realmente tiraram vantagem de nós agora estão dizendo 'por favor, negociem'", disse.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), falou sobre a situação durante seu discurso na cúpula de líderes da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), que ocorre em Honduras.

Lula afirmou que "tarifas arbitrárias desestabilizam a economia internacional e elevam os preços". "Guerras comerciais não têm vencedores", acrescentou.

Ibovespa sobe, reação do dólar

Em meio a dias de incertezas e turbulências, os mercados dispararam após o anúncio da pausa de 90 dias na cobrança geral de tarifas.

Isso levou o dólar a perder força em relação ao real e as bolsas de valores ainda abertas ao redor do mundo a subirem com força, com o Ibovespa em alta de mais de 3%, assim como Dow Jones (7,87%), S&P 500 (9,51%) e Nasdaq (12,16%) - índices referência no mercado acionário nos EUA e no mundo todo.

O dólar à vista chegou a R$ 6,09 na máxima desta quarta-feira (9/4), mas fechou em queda de 2,54%, cotado a R$ 5,8452, numa verdadeira "gangorra" de reação a Trump (leia mais aqui).

Já na terça-feira, o real ocupava o terceiro lugar entre as moedas que mais perderam valor em relação ao dólar, atrás apenas do dinar líbio e do peso colombiano, segundo ranking elaborado pela agência de avaliação de risco Austing Rating, com base em dados do Banco Central.

A forte volatilidade cambial teve início em 2 de abril, quando Trump anunciou uma tarifa básica de 10% para todos os países que exportam bens aos EUA e tarifas recíprocas adicionais de até 50% para aqueles com maior déficit comercial com os americanos, com a China taxada em 34%.

Por que os mercados reagiram positivamente?

Wall Street foi pega de surpresa pelas tarifas de Trump na semana passada, que foram consideradas muito mais altas e amplas do que muitos previam.

Por exemplo, o Vietnã, onde a Nike fabrica cerca de metade de seus calçados, foi taxado em 46% até a mudança desta quarta-feira.

"Uma tarifa universal de 10% e uma taxa muito mais alta sobre a China se assemelham ao que o presidente propôs durante a campanha e, talvez, ao tipo de cenário que muitos investidores já estavam preparados para aceitar", explica Natalie Sherman, repórter de Negócios da BBC News em Nova York.

O raciocínio é que um aumento de 10% no imposto de importação é algo que pode ser absorvido – pelas empresas, pelos consumidores ou, mais provavelmente, por uma combinação dos dois.

A leitura dos mercados, diz Sherman, é que Trump parece ter recuado, e a ideia de que ele poderia ser contido pelo mercado de ações, como muitos esperavam, permanece válida, já que o recuo vem após dias de quedas.

Isso não significa, no entanto, que a economia dos EUA esteja completamente fora de perigo. Afinal, Trump ainda manteve uma tarifa de 125% sobre o terceiro maior fornecedor de importações dos EUA – uma fonte essencial de roupas, calçados, móveis e eletrônicos.

Se mantida a nova tarifa para Pequim, muitas empresas americanas que importam produtos chineses verão seus custos dobrarem em questão de meses.

E apesar dos sinais claros da Casa Branca de que está interessada em fechar um acordo sobre tarifas e o TikTok, Pequim ainda não demonstrou muito interesse em negociar.

Bolsa de valores da Coreia do Sul.

Crédito,EPA

Legenda da foto,Tarifas anunciadas por Trump causaram quedas bruscas no mercado de ações