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A instalação nuclear secreta do Irã que só uma bomba dos EUA poderia atingir

Escondida na encosta de uma montanha ao sul de Teerã existe uma usina de enriquecimento que é vital para as ambições nucleares do Irã — e que é o alvo principal de Israel

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM BBC 19/06/2025
A instalação nuclear secreta do Irã que só uma bomba dos EUA poderia atingir
Escondida na encosta de uma montanha ao sul de Teerã existe uma usina de enriquecimento que é vital para as ambições nucleares do Irã — e que é o alvo principal de Israel | BBC

Escondida na encosta de uma montanha ao sul de Teerã existe uma usina de enriquecimento que é vital para as ambições nucleares do Irã — e que é o alvo principal de Israel.

Israel pode estar dominando os céus do Irã, mas a instalação nuclear de Fordow — que se acredita estar em um subsolo mais profundo do que o Túnel do Canal da Mancha que conecta o Reino Unido e a França — segue fora do alcance das armas israelenses.

Acredita-se que apenas os EUA possuem uma bomba grande o suficiente para destruir Fordow, um ato que poderia provocar uma guerra muito mais ampla no Oriente Médio.

Veja o que sabemos sobre a instalação nuclear secreta, que o Irã insiste ser apenas para fins civis, mas Israel diz que ameaça sua sobrevivência.

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media="(min-width: 840px)" style="box-sizing: border-box; animation: auto ease 0s 1 normal none running none; transition: none; width: 100%; height: 100%; object-fit: cover;">Mapa do Irã mostrando Teerã, no norte do país, e Fordow, ao sul da capital

O que é a instalação de enriquecimento de urânio em Fordow?

Localizado a cerca de 96 km ao sul de Teerã, o local de enriquecimento de urânio em Fordow fica em uma região montanhosa perto da cidade de Qom.

media="(min-width: 840px)" style="box-sizing: border-box; animation: auto ease 0s 1 normal none running none; transition: none; width: 100%; height: 100%; object-fit: cover;">Mapa mostrando a região montanhosa onde Fordow está situado

Fordow foi construído nas profundezas de montanhas remotas e acidentadas do norte do Irã

Projetado para resistir a ataques aéreos, sua localização subterrânea o protege de bombas convencionais

O complexo em Fordow era originalmente uma série de túneis usados ​​pela Guarda Revolucionária Islâmica de elite do país. Em 2009, o Irã reconheceu a existência da usina de enriquecimento, depois que ela foi revelada por agências de inteligência ocidentais.

media="(min-width: 840px)" style="box-sizing: border-box; animation: auto ease 0s 1 normal none running none; transition: none; width: 100%; height: 100%; object-fit: cover;">Autoridades iranianas com membros da Agência Internacional de Energia Atômica durante uma visita à instalação em novembro do ano passadoReutersAutoridades iranianas com membros da Agência Internacional de Energia Atômica durante uma visita à instalação em novembro do ano passado

Acredita-se que a instalação subterrânea consista em dois túneis principais que abrigam centrífugas usadas para enriquecer urânio, bem como uma rede de túneis menores.

media="(min-width: 840px)" style="box-sizing: border-box; animation: auto ease 0s 1 normal none running none; transition: none; width: 100%; height: 100%; object-fit: cover;">Uma imagem de satélite do local de Fordow, mostrando o perímetro de segurança e o posto de controlePlanet Labs

O local é protegido por um anel de vedação com acesso através de um posto de controle

media="(min-width: 840px)" style="box-sizing: border-box; animation: auto ease 0s 1 normal none running none; transition: none; width: 100%; height: 100%; object-fit: cover;">Uma imagem de satélite do sítio de Fordow, mostrando os túneis de entradaPlanet Labs

Acredita-se que existam seis túneis de entrada que levam ao complexo subterrâneo

media="(min-width: 840px)" style="box-sizing: border-box; animation: auto ease 0s 1 normal none running none; transition: none; width: 100%; height: 100%; object-fit: cover;">Uma imagem de satélite do local de Fordow, mostrando o edifício de apoio e a estrada para o local de apoio próximoPlanet Labs

Acima do solo, há um grande edifício de apoio e uma estrada para um local de apoio próximo

media="(min-width: 840px)" style="box-sizing: border-box; animation: auto ease 0s 1 normal none running none; transition: none; width: 100%; height: 100%; object-fit: cover;">Uma imagem de satélite do local de Fordow, mostrando o edifício de apoio e a estrada para o local de apoio próximoPlanet Labs

Fordow é indestrutível?

A usina de Fordow representa um desafio único para os militares israelenses devido à profundidade de suas instalações subterrâneas.

Para provocar algum dano significativo, seria necessário que ele fosse alvo de uma munição "destruidora de bunkers", capaz de penetrar profundamente abaixo da superfície.

Acredita-se que Israel possua tais armas, mas elas só podem operar a uma profundidade inferior a 10 metros. Os EUA, no entanto, possuem uma bomba que pode ser capaz de realizar o trabalho: a GBU-57 Massive Ordnance Penetrator (MOP), de 13 mil kg.

O revestimento e o peso do MOP permitem que ele penetre cerca de 18 metros de concreto ou 61 metros de terra antes de explodir, de acordo com analistas da Janes, uma empresa de inteligência de defesa.

media="(min-width: 840px)" style="box-sizing: border-box; animation: auto ease 0s 1 normal none running none; transition: none; width: 100%; height: 100%; object-fit: cover;">Gráfico mostrando como as munições destruidoras de bunkers funcionam ao serem lançadas de uma altitude muito alta, o que gera velocidade suficiente para que o invólucro pesado atravesse o solo guiado por GPS, antes de explodir profundamente abaixo da superfície.

Mas mesmo um ataque com um MOP não garante a destruição do local de Fordow, já que acredita-se que os túneis estejam 80-90 metros abaixo da superfície.

A profundidade é muito maior do que a de outro local subterrâneo de enriquecimento de urânio do Irã, em Natanz, que analistas acreditam estar a cerca de 20 metros abaixo da superfície. Israel já atacou a instalação de Natanz e especialistas acreditam que ela esteja agora "severamente danificada, se não completamente destruída".

O vice-almirante Mark Mellett, ex-chefe das Forças de Defesa Irlandesas, disse à BBC Verify que a probabilidade desses "destruidores de bunkers" conseguirem destruir um local como Fordow dependeria de quão reforçados seriam os túneis subterrâneos.

“[O Irã] saberia as especificações desse tipo de armamento. Eles saberiam o que precisam tentar resistir a esse armamento. Então a questão é: [as instalações de Fordow] estão fora do alcance desse armamento?”

Um sinal de que os EUA podem estar se preparando para usar o MOP em alvos no Irã seria a implantação de seus bombardeiros B2 em Diego Garcia, uma base aérea a 3,7 mil km do Irã, mas dentro do alcance do B2.

O B2 é o único bombardeiro dos EUA capaz de transportar bombas MOP de 6,2 metros de comprimento.

Seis bombardeiros B2 foram fotografados na base de Diego Garcia no início de abril, mas não está claro se algum deles permanece lá, pois não foram vistos em imagens de satélite mais recentes do local.

media="(min-width: 840px)" style="box-sizing: border-box; animation: auto ease 0s 1 normal none running none; transition: none; width: 100%; height: 100%; object-fit: cover;">Uma imagem de satélite de 2 de abril de 2025 mostrando seis bombardeiros B-2 na pista da base militar em Diego GarciaPlanet Labs

O marechal Greg Bagwell, ex-vice-chefe de operações da Força Aérea Britânica, disse à BBC Verify que os EUA seriam capazes de sustentar missões contínuas de B2 a partir de Diego Garcia com muito mais eficiência do que se os aviões operassem a partir de bases nos EUA.

Mas ele acrescenta: "O que estamos falando aqui não é uma operação sustentada contra os bunkers. Pode ser necessário apenas uma ou duas dessas armas especializadas para criar a brecha que se procura."

Os Estados Unidos vão se envolver?

Embora os EUA já estejam ajudando a abater mísseis iranianos que foram disparados contra Israel em retaliação, o país não esteve diretamente envolvido em nenhum dos ataques ao Irã.

Mas análises da BBC Verify sugerem que os EUA podem estar se preparando para um papel mais amplo no conflito. Nos últimos dias, 30 aviões militares americanos foram transferidos de bases nos EUA para a Europa. Muitos deles são aviões-tanque de reabastecimento aéreo KC-135, usados ​​para reabastecer caças e bombardeiros.

media="(min-width: 840px)" style="box-sizing: border-box; animation: auto ease 0s 1 normal none running none; transition: none; width: 100%; height: 100%; object-fit: cover;">Uma fotografia mostrando quatro caças americanos voando ao lado de um avião-tanque de reabastecimento KC-135 nos céus de Suffolk, Inglaterrag.lockaviationUma fotografia mostrando quatro caças dos EUA voando ao lado de um avião-tanque de reabastecimento KC-135 nos céus de Suffolk, Inglaterra, na terça-feira

Justin Bronk, analista do think tank Royal United Services Institute, disse que as mobilizações são "altamente sugestivas" de que os EUA estariam colocando em prática planos de contingência para "apoiar operações de combate intensivas" na região nas próximas semanas.

Falando na Casa Branca na quarta-feira, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse que ainda estava considerando se os EUA se juntariam aos ataques israelenses ao Irã, acrescentando que sua paciência "já havia se esgotado" com Teerã.

"Posso fazer isso, posso não fazer isso. Ninguém sabe o que vou fazer", disse ele aos repórteres.