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Dólar passa de R$ 5,65, com juros americanos, Nvidia e Galípolo no radar; Azul desaba 25% na bolsa
O Ibovespa, principal índice de ações da bolsa de valores, opera em queda nesta quinta-feira, depois de novo recorde de pontuação na véspera
O dólar opera com forte alta nesta quinta-feira (29), refletindo novos dados da economia norte-americana, que jogam mais dúvidas no mercado sobre qual será a magnitude dos cortes nas taxas de juros nos Estados Unidos.
O Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre do país cresceu 3,0%, acima das projeções de mercado, de 2,8%, e da primeira prévia do resultado, que apontava alta de 1,4%.
O Departamento do Trabalho, por sua vez, divulgou os números de pedidos iniciais por seguro-desemprego na última semana, que somaram 231 mil, menos que os 232 mil esperados pelo mercado e os 233 mil da semana anterior.
Os números melhores que as estimativas fortalecem as dúvidas sobre o que deve acontecer na próxima reunião do Federal Reserve (Fed), o banco central americano), que acontece em setembro. Com uma economia ainda mostrando força, a instituição pode ser mais moderada na hora de reduzir as taxas de juros.
Ainda no cenário externo, resultados corporativos divulgados pela Nvidia, fabricante de chips e semicondutores, ontem pesam sobre os negócios neste pregão. Apesar de bons números de receita e lucro, a empresa mostra uma desaceleração do crescimento.
No Brasil, o grande destaque do dia fica com as ações da Azul, que chegaram a desabar mais de 25% na bolsa e empurram o Ibovespa, principal índice acionário do país.
No cenário doméstico, ainda, os investidores seguem repercutindo a indicação de Gabriel Galípolo, atual diretor de política monetária do Banco Central do Brasil (BC), ao comando da instituição. O mercado quer ver qual será a condução do BC por um indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que defende corte mais expressivos na Selic, taxa básica de juros.
Veja abaixo o resumo dos mercados.
Dólar
Às 13h40, o dólar subia 1,59%, cotado a R$ 5,6448. Na máxima do dia, chegou a R$ 5,6620. Veja mais cotações.
No dia anterior, a moeda americana teve alta de 0,99%, cotada em R$ 5,5564.
Com o resultado, acumulou:
- alta de 1,41% na semana;
- recuo de 1,73% no mês;
- alta de 14,51% no ano.
Ibovespa
No mesmo horário, o Ibovespa caía 1,04%, aos 135.915 pontos.
As ações da Azul despencavam cerca de 25%.
Na véspera, o índice fechou em alta de 0,42%, aos 137.344 pontos, renovando seu maior patamar histórico.
Com o resultado, o Ibovespa acumulou:
- alta de 0,86% na semana;
- alta de 7,15% no mês;
- ganhos de 1,93% no ano.
O que está mexendo com os mercados?
No cenário internacional, os olhos continuam nos Estados Unidos, que divulgam o PCE, indicador de inflação favorito do Fed para tomar suas decisões sobre as taxas de juros no país, na sexta-feira. Esse indicador mede a variação dos preços considerando apenas uma cesta dos produtos e serviços mais consumidos pela população.
O Fed se reúne em setembro para decidir o futuro das taxas de juros e há uma grande expectativa de que a instituição corte os juros.
Na última sexta-feira (23), o presidente do Fed, Jerome Powell, no Simpósio de Jackson Hole, afirmou que "chegou a hora" de cortar os juros dos Estados Unidos, o que melhora as perspectivas para investimentos de risco no mundo todo.
"Faremos tudo o que pudermos para apoiar um mercado de trabalho forte, ao passo em que progredimos mais em direção à estabilidade de preços", disse Powell, que também garantiu que a instituição "não busca e nem recebeu bem uma desaceleração nas condições do mercado de trabalho".
Os juros americanos estão no maior patamar em mais de 20 anos, entre 5,25% e 5,50% ao ano. E havia expectativa desde o início do ano para o momento em que o Fed fosse iniciar o ciclo de redução das taxas.
Depois de vários adiamentos por conta dos dados mais fortes de inflação e atividade da economia americana, o mercado de trabalho dos EUA começou a mostrar um desaquecimento no início deste mês e os resultados de inflação voltaram a mostrar que os preços estão mais comportados.
Com isso, Powell afirmou na sexta-feira que o atual nível das taxas de juros dá "amplo espaço" para que o Fed responda aos riscos, inclusive os números baixos de emprego. Essa afirmação joga ainda mais luz a uma dúvida que tomou os mercados nas últimas semanas: qual será a magnitude do corte promovido pelo Fed em sua próxima reunião.
Juros menores tendem a impulsionar a atividade econômica por baratear a tomada de crédito para pessoas e empresas. Além disso, a queda das taxas também diminui a rentabilidade dos títulos do Tesouro americano (Treasuries), considerados os mais seguros do mundo, o que beneficia ativos de risco, como mercados de ações e moedas de outros países.
Mercado interno reflete indicação de Galípolo e endividamento da Azul
O maior fato do cenário corporativo é a queda brusca das ações da Azul, que caiam mais de 24% nesta quinta-feira, pior desempenho com folga do Ibovespa.
Uma reportagem da Bloomberg News diz que a Azul está estudando uma forma de resolver seu endividamento, com alternativas que vão de uma nova oferta de ações até a apresentação de um pedido de recuperação judicial.
A companhia também está trabalhando ativamente para realizar uma combinação de negócios com a Gol para convencer os credores de que uma nova entidade combinada teria níveis de dívida mais baixos e melhores perspectivas de crescimento.
Além disso, a indicação do economista Gabriel Galípolo para presidir o Banco Central (BC) na véspera também segue no radar do mercado. Galípolo atualmente faz parte da diretoria do BC.
A indicação foi anunciada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no Palácio do Planalto nesta quarta-feira (28), confirmando as expectativas do mercado financeiro.
"O presidente da República me incumbiu de fazer um comunicado aqui de que hoje ele está encaminhando ao Senado Federal o indicado dele para a Presidência do Banco Central, que vem a ser o Gabriel Galípolo, que hoje ocupa a Diretoria de Política Monetária do Banco", declarou Haddad.
Haddad também explicou que, a partir do anúncio, o governo vai "começar a trabalhar para definir os três nomes que irão compor a diretoria até o final do ano".
Escolhido pelo presidente da República, Galípolo ainda precisa receber o aval do Senado Federal antes de assumir o cargo.
A indicação de Galípolo foi bem recebida por agentes do mercado financeiro. Desde sua nomeação para a diretoria, em maio do ano passado, especulava-se que ele poderia ser o futuro indicado de Lula à presidência da instituição.
O mercado, inclusive, desconfiou que a proximidade entre eles pudesse gerar interferência política nas decisões de taxa de juros do país. Mas a atuação e declarações de Galípolo em mais de um ano de BC deram algum conforto de que ele comandaria o BC com um olhar técnico.
Analistas ouvidos pelo g1 reforçam que ele ainda precisará confirmar na prática que o BC continuará independente. Em especial, porque Lula passou os dois primeiros anos de mandato criticando a presidência da instituição.