Polícia
“Advogados da vergonha”: escândalo no TJMT expõe corrupção na elite jurídica de Mato Grosso e provoca repúdio da OAB
Sete advogados foram presos por participarem de um esquema milionário de fraudes no Tribunal de Justiça de MT; envolvimento de parentes de conselheiro do CNJ escandaliza bastidores do Judiciário

A deflagração da Operação Sepulcro Caiado nesta quarta-feira (30) pela Polícia Civil revelou um esquema criminoso sofisticado que abalou as estruturas do Poder Judiciário em Mato Grosso. Com prejuízo de mais de R$ 21 milhões à Conta Única do TJMT, o esquema envolvia falsificação de depósitos judiciais, fraudes processuais e lavagem de dinheiro.
Mas o que mais chocou a opinião pública foi a lista de presos: advogados influentes, servidores de confiança e empresários ligados à elite jurídica de Mato Grosso, muitos com histórico de atuação dentro do próprio Tribunal.

O esquema consistia em ações judiciais fraudulentas, nas quais os advogados protocolavam processos de cobrança e simulavam o pagamento das dívidas com comprovantes falsificados de depósitos judiciais. Um servidor do TJMT — Mauro Ferreira Filho, também preso — validava os documentos no sistema do Tribunal, permitindo a expedição de alvarás para levantamento de valores nunca pagos.
Para dar aparência de legalidade, os criminosos movimentavam valores por meio de empresas de fachada e lavavam o dinheiro com a compra de imóveis e veículos de luxo. O golpe operava sem que os verdadeiros devedores sequer soubessem da existência das ações.

Os levantamentos iniciais identificaram 17 processos protocolados pela quadrilha entre os anos de 2018 e 2022. Como o Tribunal de Justiça modificou a metodologia de transferência de valores entre processos a partir do ano de 2023, até o momento não foram identificadas fraudes recentes com o mesmo modus operandi.
Entre as vítimas identificadas, estão empresários e pessoas físicas que descobriram processos judiciais em seus nomes com dívidas "quitadas" de até R$ 1,8 milhão, quando os empréstimos originais não ultrapassavam R$ 100 mil. Em um dos casos mais graves, uma pessoa interditada judicialmente foi vítima do esquema.
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João Gustavo Ricci Volpato
Advogado, apontado como líder do esquema e sócio de empresas usadas nas fraudes. Filho da professora aposentada Luiza Volpato, é irmão do ex-presidente do CRO-MT, já envolvido em escândalo nacional.
Melissa França Praeiro Vasconcelos de Moraes
Advogada. Atuava diretamente nos processos fraudulentos e também teve prisão decretada.
Wagner Vasconcelos de Moraes
Advogado e marido de Melissa Moraes. Teria papel ativo na construção dos processos falsos.
Rodrigo Moreira Marinho
Advogado, acusado de atuar como procurador em ações forjadas para obter alvarás ilegais.
Themis Lessa da Silva
Advogada, também envolvida na montagem de processos fictícios e fraudes documentais.
João Miguel da Costa Neto
Advogado. Aparece como representante jurídico de autores inexistentes em diversas ações judiciais.
Denise Alonso
Advogada que teria figurado como procuradora em ações fraudulentas, facilitando os desvios.

Outros alvos do esquema:
Augusto Frederico Ricci Volpato – Empresário, irmão de João Gustavo e cunhado do conselheiro do CNJ Ulisses Rabaneda. Era beneficiário direto dos alvarás ilegais.
Luiza Rios Ricci Volpato – Professora aposentada da UFMT, autora do livro Cativo do Sertão e sócia de empresas utilizadas na fraude.
Mauro Ferreira Filho – Servidor do TJMT, acusado de manipular o sistema do tribunal para inserir depósitos inexistentes e facilitar os saques.
OAB emite nota
A OAB-MT anunciou a instauração de procedimentos disciplinares no Tribunal de Ética e Disciplina contra os advogados envolvidos. A seccional acompanha o caso por meio do seu Tribunal de Defesa das Prerrogativas (TDP).
TJMT também se pronuncia
O Tribunal de Justiça de Mato Grosso, alvo direto das fraudes, informou que colabora com as investigações e também instaurará processos administrativos contra os servidores envolvidos.
O grupo entrava com ações de cobrança falsas, simulava o pagamento de dívidas com comprovantes forjados, e conseguia alvarás com apoio interno. Os valores eram lavados por meio de empresas de fachada, imóveis e veículos de luxo.Mais de 160 ordens judiciais foram cumpridas: 11 prisões preventivas, 22 buscas e apreensões, 46 quebras de sigilo bancário e fiscal, 18 veículos e 48 imóveis sequestrados, R$ 21,7 milhões bloqueados
Sepulcro Caiado
O nome da operação faz alusão a pessoas que se mostram justas por fora, mas por dentro escondem corrupção e hipocrisia. Para os investigadores, essa imagem traduz com perfeição a conduta de quem deveria zelar pela Justiça — mas a usou como instrumento de crime e enriquecimento ilícito.