Polícia
De clínica de luxo à prisão: dentista dos super-ricos de Cuiabá, o marido e a cunhada são condenados a 60 anos por tráfico
Formada na Unic, na terceira turma de odontologia, Mara Kênia Lucas ostentava vida de luxo enquanto, nos bastidores, ajudava a comandar esquema milionário de drogas e armas desbaratado pela Polícia Federal

A Justiça de Mato Grosso decretou a derrocada de uma família que vivia entre o glamour da elite cuiabana e os subterrâneos do crime organizado. A dentista Mara Kênia Dier Lucas, o marido empresário Flávio Henrique Lucas e a empresária Thaysa Lucas, irmã de Flávio, foram condenados a mais de 60 anos de prisão por tráfico e associação para o tráfico, após serem alvos da Operação Escamotes, da Polícia Federal.
Mara Kênia, formada na Unic, na terceira turma de odontologia, construiu sua imagem como a “dentista dos super-ricos”. Dono de um consultório luxuoso no Bosque da Saúde, em Cuiabá, a Natclin, ela recebia esposas de políticos, empresários do agronegócio e a elite local.
Nas redes sociais, ostentava viagens internacionais, hotéis cinco estrelas e vinhos de alto padrão. O que parecia uma carreira bem-sucedida escondia um envolvimento direto com o financiamento e a logística do tráfico de drogas e armas.

As provas reunidas pela Justiça são devastadoras. Flávio Henrique, apontado como o gerente da quadrilha, negociava carregamentos, recrutava mulas e mantinha contato direto com fornecedores. Em chamadas de vídeo, foi flagrado negociando drogas ao lado da esposa, que acompanhava em tempo real o carregamento de veículos com fundos falsos.
Mara Kênia, por sua vez, cuidava da engrenagem financeira: pagava advogados, alugava carros para transportar drogas e bancava despesas da operação. Juntos, foram condenados a 42 anos de prisão em regime fechado.
A empresária Thaysa Lucas foi sentenciada, em processo separado, a 18 anos e seis meses de prisão. De acordo com a sentença, ela atuava como financiadora do esquema, injetando dinheiro e sustentando a engrenagem criminosa com expectativa de lucros.
O juiz Douglas Bernardes Romão, da 1ª Vara Criminal de Barra do Garças, destacou que Thaysa tinha plena ciência da natureza ilícita do grupo e “atuava de forma deliberada para sustentá-lo financeiramente”.
A Operação Escamotes, deflagrada em 2023, revelou como a família Lucas trocou a respeitabilidade social pelo poder fácil do tráfico. Viagens, festas e aparente sucesso foram financiados à base de drogas e armas.
Hoje, a realidade é outra: Mara Kênia, a dentista que um dia sorriu para a elite cuiabana, cumpre pena atrás das grades, ao lado do marido. A imagem da profissional de luxo ruiu diante da Justiça, que expôs ao país uma das maiores quedas já vistas no Estado.