Política

Em discurso na ONU, Bolsonaro escancara programa de ultradireita e anti-indígena

24/09/2019

O presidente Jair Bolsonaro usou o discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU em Nova York para escancarar, diante do mundo, seu programa de ultradireita, pró-ditadura e anti-indígena para o Brasil. Para a audiência brasileira, o discurso de Bolsonaro na ONU nesta terça-feira não trouxe surpresas em relação às ideias que o capitão da reserva do Exército defende desde a campanha. O ultraconservador iniciou seu discurso reivindicando o golpe militar de 1964 que instalou uma ditadura militar no Brasil. Repetiu seu argumento, sem base na realidade, que sua chegada ao poder salvou o Brasil do "socialismo".

 

Em um discurso de pouco mais de meia hora e lido sem grandes interrupções, o presidente Jair Bolsonaro desafiou os críticos de sua política ambiental e versou contra multas ambientais, para dizer que as queimadas florestais recordes nos últimos cinco anos no país e na Amazônia, medidas por órgãos oficiais, são infladas pela mídia global que deseja atacá-lo.

 

"É uma falácia dizer que a Amazônia é um patrimônio da humanidade", disse o mandatário diante de uma plateia de cerca de 150 chefes de Estado, em uma crítica ao presidente francês Emmanuel Macron. O presidente brasileiro também repetiu ao mundo que não haverá nova demarcação de terras indígenas no Brasil e ainda atacou a extensão das atuais reservas, destinando seus ataques ao cacique Raonicotado para concorrer ao prêmio Nobel da Paz. "A visão de um líder indígena não representa a de todos os índios brasileiros. Muitas vezes alguns desses líderes, como o cacique Raoni, são usados como peça de manobra por governos estrangeiros na sua guerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia. Infelizmente, algumas pessoas, de dentro e de fora do Brasil, apoiadas em ONGs, teimam em tratar e manter nossos índios como verdadeiros homens das cavernas", discursou Bolsonaro.

 

A fala de Bolsonaro na ONU foi seguido pela fala do presidente dos EUA, Donald Trump, que também usou o púlpito das Nações Unidas para reafirmar seu discurso ultranacionalista e anti-migratório. "O futuro pertence aos patriotas, não aos globalizadores", discursou o norte-americano.

 

Trump emulou Bolsonaro e, como o brasileiro, também recordou o fantasma socialista. "O socialismo não quer tirar os pobres de sua condição. Eles apenas querem poder para a classe que ocupa o poder. Os Estados Unidos nunca serão um país socialista", disse.

 

Entidades ambientais criticam fala de Bolsonaro

Para o Observatório do Clima, o presidente Brasileiro envergonhou o país com seu discurso, sobretudo em relação à área ambiental. "O presidente mais uma vez envergonhou o Brasil no exterior ao abdicar a tradicional liderança do país na área ambiental em nome de sua ideologia. Não fez nada para tranquilizar investidores, nem para aplacar o clamor crescente por boicote a produtos brasileiros. Põe em risco o próprio agronegócio que diz defender", afirmou a organização, que reúne 37 entidades da sociedade civil brasileira.   A opinião é semelhante à do Greenpeace:  “A fala do presidente sobre meio ambiente foi uma farsa. Bolsonaro tentou convencer o mundo que protege a Amazônia, quando, na verdade, promove o desmonte da área socioambiental, negocia terras indígenas com mineradoras estrangeiras e enfraquece o combate ao crime florestal”, declarou Marcio Astrini, coordenador de Políticas Públicas da organização não-governamental.   Em sua fala, o presidente brasileiro negou que a Amazônia esteja ameaçada e, em tom agressivo diante de chefes de Estado do mundo todo, reafirmou sua política nacionalista e disse que a floresta está "praticamente intacta". "Nossa Amazônia é maior que toda a Europa Ocidental e permanece praticamente intocada. Prova de que somos um dos países que mais protegem o meio ambiente.", afirmou o mandatário.