Política
Planalto condena ataque dos EUA e vê desafio para Cúpula dos Brics
Governo brasileiro expressou "grave preocupação com a escalada militar no Oriente Médio" e reforçou posição em favor do uso exclusivo da energia nuclear para fins pacíficos

Autoridades brasileiras disseram à CNN condenar o ataque dos Estados Unidos ao Irã e veem na escalada do conflito um fator de maior projeção para a reunião da Cúpula dos Brics, que ocorrerá nos dias 6 e 7 de julho no Rio de Janeiro.
O Irã e outros países do Oriente Médio - como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos - e muçulmanos, como Egito e Indonésia, integram o grupo. Além deles e do Brasil, também fazem parte China, Rússia, África do Sul, Etiópia e Índia.
A avaliação no governo brasileiro é a de que o ataque tem dois problemas graves: fere a soberania do Irã e viola a recomendação internacional de que não haja bombardeios em bases nucleares.
O episódio, na visão de integrantes do Planalto, faz crescer ainda mais a relevância da Cúpula dos Brics no Rio de Janeiro. A explicação é que, por um lado, o Irã e países da região do conflito e muçulmanos integram o grupo e porque países não muçulmanos têm populações significativas da religião em seus países, como são os casos de China e Índia. Por outro lado, há nuances que não necessariamente colocam todos esses países em ponto de convergência sobre o assunto. Isso porque Arábia Saudita, Emirados Árabes e Egito são, na visão do governo brasileiro, aliados dos americanos e também não desejam um Irã empoderado na região como potência nuclear.
A tendência é de que haja defesa de um cessar-fogo, embora não necessariamente se considere que possa haver uma condenação veemente do ataque americano.
Nota
No começo da tarde deste domingo, o Itamaraty divulgou nota condenando o ataque. "O governo brasileiro expressa grave preocupação com a escalada militar no Oriente Médio e condena com veemência, nesse contexto, ataques militares de Israel e, mais recentemente, dos Estados Unidos, contra instalações nucleares, em violação da soberania do Irã e do direito internacional. Qualquer ataque armado a instalações nucleares representa flagrante transgressão da Carta das Nações Unidas e de normas da Agência Internacional de Energia Atômica. Ações armadas contra instalações nucleares representam uma grave ameaça à vida e à saúde de populações civis, ao expô-las ao risco de contaminação radioativa e a desastres ambientais de larga escala", diz a nota.
O texto diz ainda que "o Governo brasileiro reitera sua posição histórica em favor do uso exclusivo da energia nuclear para fins pacíficos e rejeita com firmeza qualquer forma de proliferação nuclear, especialmente em regiões marcadas por instabilidade geopolítica, como o Oriente Médio".
"O Brasil também repudia ataques recíprocos contra áreas densamente povoadas, os quais têm provocado crescente número de vítimas e danos a infraestrutura civis, incluindo instalações hospitalares, as quais são especialmente protegidas pelo direito internacional humanitário. Ao reiterar sua exortação ao exercício de máxima contenção por todas as partes envolvidas no conflito, o Brasil ressalta a urgente necessidade de solução diplomática que interrompa esse ciclo de violência e abra uma oportunidade para negociações de paz. As consequências negativas da atual escalada militar podem gerar danos irreversíveis para a paz e a estabilidade na região e no mundo e para o regime de não proliferação e desarmamento nuclear", complementa.