Política

Trump acusa Brasil de fazer 'caça às bruxas' contra Bolsonaro, e Lula reage: 'Não aceitamos interferência'

Sem citar diretamente a Corte, o líder dos Estados Unidos escreveu na rede social Truth Social que "o Brasil está fazendo uma coisa terrível em seu tratamento ao ex-presidente Jair Bolsonaro"

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM BBC 07/07/2025
Trump acusa Brasil de fazer 'caça às bruxas' contra Bolsonaro, e Lula reage: 'Não aceitamos interferência'
Trump e Bolsonaro em encontro em 2019, quando os dois eram presidentes | Getty Imagens

O presidente americano, Donald Trump, saiu em defesa direta do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nesta segunda-feira (7/7), com ataques ao processo criminal que ele enfrenta no Supremo Tribunal Federal (STF), acusado de ter liderado uma suposta tentativa de golpe de Estado.

Sem citar diretamente a Corte, o líder dos Estados Unidos escreveu na rede social Truth Social que "o Brasil está fazendo uma coisa terrível em seu tratamento ao ex-presidente Jair Bolsonaro".

"Eu tenho assistido, assim como o mundo, como eles não fizeram nada além de persegui-lo, dia após dia, noite após noite, mês após mês, ano após ano! Ele não é culpado de nada, exceto por ter lutado pelo povo", continuou.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reagiu à mensagem de Trump em nota oficial do Planalto, rejeitando interferências no país, sem citar diretamente o americano.

"A defesa da democracia no Brasil é um tema que compete aos brasileiros. Somos um país soberano. Não aceitamos interferência ou tutela de quem quer que seja", escreveu Lula.

"Possuímos instituições sólidas e independentes. Ninguém está acima da lei. Sobretudo, os que atentam contra a liberdade e o estado de direito", disse ainda, em referência à acusação que seu adversário enfrenta.

Logo após se manifestar pelas redes sociais, Lula voltou a comentar sobre o assunto numa coletiva de imprensa durante a cúpula do Brics, no Rio de Janeiro.

"Esse país [Brasil] tem lei, esse país tem regra e tem um dono chamado povo brasileiro. Portanto, dê palpite na sua vida e não na nossa", disse o presidente.

Lula também disse que Trump "ficar ameaçando o mundo através da internet" e das redes sociais "não é uma coisa responsável e séria".

Em sua mensagem de apoio a Bolsonaro, Trump chamou o ex-presidente de um "líder forte" que "amava seu país". O americano disse ainda que a eleição de 2022 foi "acirrada" e que o ex-presidente estaria liderando as pesquisas eleitorais para a disputa de 2026, o que não é verdade.

O ex-presidente está inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e não poderá disputar a próxima eleição. Ainda assim, as principais pesquisas que têm testado o seu nome apontam para um empate técnico com Lula.

"Isso não é nada mais, nada menos, do que um ataque a um oponente político — algo que eu sei muito sobre. Aconteceu comigo, vezes 10", continuou Trump sobre a suposta perseguição enfrentada por Bolsonaro, ressaltando que os EUA, de novo sob seu comando, agora são o país "mais em alta" do mundo.

"O grande povo do Brasil não vai tolerar o que estão fazendo com seu ex-presidente. Estarei assistindo à caça às bruxas de Jair Bolsonaro, sua família e milhares de seus apoiadores muito de perto. O único julgamento que deveria estar acontecendo é um julgamento pelos eleitores do Brasil — chama-se eleição", continuou.

"Deixem Bolsonaro em paz!", termina a postagem de Trump, em letras maiúsculas.

A mensagem de Trump ocorre poucos meses após Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, se licenciar do cargo de deputado federal e se mudar para os Estados Unidos.

Na ocasião, em março, Eduardo disse que se dedicaria em tempo integral a convencer o governo Trump a atuar pela anistia aos envolvidos nos ataques do 8 de janeiro no Brasil e para obter sanções ao ministro do STF Alexandre de Moraes, relator do processo sobre golpe de Estado no qual o ex-presidente foi denunciado.

Após essa movimentação, o STF abriu um inquérito em maio para investigar Eduardo Bolsonaro pelos crimes de coação, obstrução de investigação e abolição violenta do Estado Democrático de Direito, por sua atuação nos EUA.

Na época, o filho do presidente criticou a decisão dizendo que "a esquerda passou anos viajando o mundo para falar mal da Justiça brasileira".

"E agora eu, que denuncio as verdadeiras violações de direitos humanos e perseguições políticas, essas mesmas pessoas pedem para que o Moraes confisque o meu passaporte e me prenda por abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Dá para acreditar?", disse Eduardo Bolsonaro.

"Moraes, Lula e o PT não defendem a democracia. Eles defendem só os próprios interesses."

Foi nesse contexto que o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, ameaçou Moraes com possíveis sanções previstas na Lei Global Magnitsky, em maio.

Essa legislação americana permite punições a autoridades estrangeiras acusadas de corrupção ou graves violações de direitos humanos, como a proibição de ingressar nos EUA e de realizar transações econômicas com qualquer pessoa ou empresa americana.

Até o momento, porém, não há conhecimento sobre sanções concretas adotadas contra Moraes.

Texto em inglês de Trump

Crédito,Reprodução

Legenda da foto,Trump fez publicação no Truth Social dizendo que há 'caça às bruxas' contra Bolsonaro'

Bolsonaro no banco dos réus

O processo contra Bolsonaro por suposta tentativa de golpe de Estado está em sua reta final no STF, em que acusação e defesa apresentam suas últimas alegações.

Bolsonaro é o primeiro ex-presidente brasileiro a virar réu sob essa acusação.

O ex-presidente, segundo a denúncia da PGR, teria participado da formulação e edição de minutas do golpe. Além disso, segundo a denúncia, estaria totalmente a par do plano "Punhal Verde Amarelo", para assassinar Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes.

A Primeira Turma do STF aceitou denúncia contra Bolsonaro e outros sete ex-integrantes do seu governo, sendo três generais do Exército — Augusto Heleno (ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional), Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa) e Braga Netto (ex-ministro da Casa Civil).

Eles fariam parte do que a PGR chamou de "núcleo crucial" de uma trama golpista contra a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022. Todos negam as acusações.

Para a acusação, o plano para manter Bolsonaro no poder teria começado com ataques infundados à segurança das urnas eletrônicas em 2021 e evoluído para minutas que abririam caminho para o golpe de Estado, um plano para matar Lula e pressões sobre as Forças Armadas para executar o golpe, culminando no 8 de janeiro de 2023, quando apoiadores do ex-presidente invadiram prédios em Brasília.

Bolsonaro e os outros réus responderão a acusações por cinco crimes: golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa armada, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.

Há expectativa de que o julgamento ocorra no final de agosto ou início de setembro. Bolsonaro pode ser condenado a mais de trinta anos de prisão.