Política

Diplomacia brasileira nos EUA fica atônita com tarifa contra Brasil

À CNN, diplomatas brasileiros afirmam que o anúncio pegou todos de surpresa e foi uma reação às críticas de Lula a Trump, que subiu o tom durante o encontro do Brics

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM CNN 10/07/2025
Diplomacia brasileira nos EUA fica atônita com tarifa contra Brasil
residente dos EUA, Donald Trump 27/06/2025 REUTERS/Ken Cedeno | CNN

A tarifa de 50% anunciada pelo presidente americano Donald Trump nesta quarta-feira (9) pegou a embaixada brasileira em Washington de surpresa e deixou todos “atônitos”, segundo fontes diplomáticas.

Diplomatas brasileiros que atuam em embaixadas nos Estados Unidos afirmaram à CNN que enxergam a decisão de Trump como uma resposta à subida de tom do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que fez duras críticas ao presidente americano durante a reunião do Brics no final de semana.

Uma das fontes afirmou que Lula praticamente "pediu" uma resposta de Trump quando se posicionou como um "paladino" do Brics e do Sul Global.

Outros afirmam que um desfecho como este era inevitável, diante da proximidade do presidente americano com o ex-presidente Jair Bolsonaro, que enfrenta um julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF).

Na segunda-feira (7), Lula disse que o mundo não quer um "imperador” ao se referir ao presidente americano e à sua ameaça de taxar países que se alinhassem "às políticas antiamericanas do Brics”.

Um diplomata disse que a embaixada em DC estava mais concentrada nos ataques ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, que foi intimado pela Justiça americana por supostos atos de censura, do que nas tarifas. Ele acrescentou que a expectativa era de que a taxa imposta ao Brasil se mantivesse nos 10% ou subisse pouco, mas ninguém esperava algo nesse nível.

A situação é vista como uma das piores crises na relação entre Estados Unidos e Brasil dos últimos anos, com prováveis repercussões no vínculo antigo entre os dois países.

Todos são unânimes em dizer que a motivação de Trump foi política e não econômica, já que os Estados Unidos têm registrado superávit na balança comercial com o Brasil. Outra prova disso é que a tarifa brasileira foi a mais alta entre os mais de 20 países que receberam cartas do presidente americano anunciando aumentos nesta semana.

Fontes afirmam que o presidente Lula, em conjunto com o PT, decidiu subir o tom das críticas a Donald Trump.

A percepção é que o discurso nacionalista e antitrumpista foi adotado como uma estratégia de enfrentamento interno, para ajudar Lula a elevar a sua popularidade ao acenar à sua base. Mas ao priorizar a política doméstica, o presidente abre mão do pragmatismo que é crucial para o bom funcionamento da diplomacia externa, avaliam diplomatas.

Apesar da resposta do presidente Lula, que afirmou que o tarifaço de Trump será respondido com reciprocidade, diplomatas não acreditam em uma retaliação tarifária mais significativa, já que o Brasil não está em condições de suportar as consequências de elevar os custos de importações americanas.

Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, tanto em importações quanto em exportações. Já do ponto de vista dos Estados Unidos, o Brasil é apenas o nono país que mais importa e o 18º país que mais exporta para os americanos. Portanto, o Brasil tende a perder muito mais do que os Estados Unidos.