Política
EDITORIAL: Todos e Todas

A decisão do prefeito de Cuiabá, Abílio Brunini (PL), de proibir o uso da chamada linguagem neutra nas escolas municipais tem provocado reações apaixonadas. Mas é preciso reconhecer: ele está certo. Em meio a um debate ideológico travestido de inclusão, o prefeito optou por respeitar a língua portuguesa, a legislação vigente e a liberdade de pensamento.
Não existe, no dicionário da língua portuguesa, a palavra “todes”. O que existe são “todos” e “todas”, expressões amplamente suficientes para garantir a comunicação clara e acessível a toda a comunidade escolar. Invenções linguísticas sem respaldo normativo, por mais bem-intencionadas que possam parecer, não podem ser impostas por decreto cultural.
É inegável que o movimento LGBTQIA+ tem desempenhado um papel fundamental na luta por direitos, visibilidade e inclusão social. Seu protagonismo na defesa da diversidade deve ser respeitado. No entanto, a tentativa de submeter a sociedade — especialmente o ambiente educacional — ao uso compulsório de uma linguagem artificial e não reconhecida pela norma culta contradiz justamente os princípios que o movimento historicamente defende: liberdade, respeito e pluralidade.
Vivemos em uma sociedade democrática, onde todos têm o direito de se expressar. Mas liberdade de expressão não é licença para impor visões ideológicas aos outros, principalmente dentro do sistema educacional, que deve primar pelo ensino técnico, científico e linguístico de acordo com as normas da língua portuguesa.
É justamente esse o papel da escola pública: ensinar com base no que é reconhecido oficialmente, conforme as diretrizes do Ministério da Educação e com respaldo da gramática normativa. Incluir, sim — mas sem atropelar regras básicas do idioma e sem transformar salas de aula em trincheiras de militância.
Mais grave ainda é quando se tenta doutrinar crianças em fase de alfabetização com conceitos que nem mesmo os adultos compreendem por completo. Linguagem neutra, além de não estar na norma culta, dificulta o aprendizado, confunde a estrutura gramatical e, pior, força a aceitação de um ponto de vista político sob o disfarce de modernidade.
O prefeito Abílio Brunini não proibiu ninguém de usar a linguagem neutra em espaços privados, em redes sociais ou em manifestações públicas. Ele apenas garantiu que, nas escolas públicas do município, se ensine o que está nos livros, nas gramáticas e nos dicionários. Isso não é censura — é responsabilidade com o ensino.
Num tempo em que a liberdade de expressão é usada seletivamente, é bom lembrar: também é um direito legítimo discordar. Ninguém é obrigado a usar pronomes inventados, nem a adaptar sua linguagem para atender a modismos. E o poder público tem, sim, o dever de proteger crianças e adolescentes de doutrinações camufladas de “inclusão linguística”.