Política

Barroso anuncia aposentadoria do STF e abre caminho para Lula fazer nova indicação

Barroso afirmou, durante sessão do STF, ter optado pela saída do STF por motivos pessoais

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM BBC 09/10/2025
Barroso anuncia aposentadoria do STF e abre caminho para Lula fazer nova indicação
'Gostaria de viver um pouco mais da vida que me resta sem a exposição pública, as obrigações e as exigências do cargo', argumentou Barroso ao anunciar aposentadoria | Getty Imagens

O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), anunciou na tarde desta quinta-feira (09/10) sua aposentadoria antecipada — ele teria cargo garantido até os 75 anos, ou seja, até 2033.

Barroso afirmou, durante sessão do STF, ter optado pela saída do STF por motivos pessoais.

"Sinto que agora é hora de seguir outros rumos. Nem sequer os tenho bem definidos, mas não tenho qualquer apego ao poder e gostaria de viver um pouco mais da vida que me resta sem a exposição pública, as obrigações e as exigências do cargo. Com mais espiriualidade, literatura e poesia", disse, emocionado.

Barroso foi ministro do STF por mais de 12 anos e recentemente deixou a presidência da Corte, que comandou entre setembro de 2023 e setembro de 2025.

Com a aposentadoria, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) poderá fazer uma nova indicação.

Em entrevista coletiva após o anúncio, Barroso disse acreditar que Lula já "suspeitava" de sua saída e que o presidente terá "mulheres competentes" e "homens competentes" para indicar.

"O presidente Lula, digamos assim, ele suspeitava. Porque eu estive com ele no sábado, no show da Maria Bethânia, e eu disse que precisava falar com ele um assunto importante. E ele já intuiria o que era."

"Tínhamos marcado uma audiência para ontem, mas [com] as questões políticas e as circunstâncias, o presidente precisou adiar, de modo que eu não consegui falar diretamente com ele."

"Eu achei que cumpri o meu papel e que era a vez de ceder lugar para outra pessoa que entrasse, para fazer uma carreira. Eu, para falar a verdade, desde a Constituinte, sempre defendi o modelo alemão, que é um mandato de 12 anos, que foi o tempo que eu fiquei aqui, mas não prevaleceu."

O ministro do STF mencionou primeiro "mulheres competentes" como possíveis candidatas à sua vaga. Perguntado por jornalistas se ele preferiria que uma mulher fosse indicada, ele sinalizou que sim.

"Existem muitas mulheres boas. Eu filosoficamente acho, sem fazer uma escolha pontual para essa vaga — que é uma competência do presidente —, mas eu sou um defensor de mais mulheres nos tribunais superiores como uma regra geral. A resposta é sim", respondeu.

Barroso afirmou que não pretende voltar a exercer a advocacia e nem eventualmente assumir uma embaixada por nomeação de Lula — algo que já foi especulado, mas que o magistrado já havia negado anteriormente.

Ele afirmou não ter muitos planos profissionais, mas sim alguns projetos acadêmicos nos próximos meses em universidades do exterior, como na prestigiada Sorbonne, na França, onde dará um curso como professor visitante.

Indicou também que gostaria ser um "intelectual público, alguém que olha o país e pensa coisas sem cargo, sem deveres".

Barroso era advogado constitucionalista e procurador do Estado do Rio de Janeiro quando até ser nomeado ao STF pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT) para a vaga do ministro Ayres Britto, que se aposentou.

Em entrevista recente à colunista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo, o ministro já havia indicado incômodos pessoais relacionados ao cargo.

"Sair ou não do STF, hoje, tem mais a ver com a exposição pública pessoal, sobretudo dos meus filhos e das pessoas com quem me relaciono. Minha mulher sofria imensamente. A AGU [Advocacia-Geral da União] pagou honorários, como manda a lei, a mais de mil advogados da União. Mas a notícia é que a namorada do Barroso recebeu R$ 300 mil. Tudo isso chateia", disse, em entrevista publicada no final de setembro.

"Às vezes tenho a sensação de já ter cumprido o meu ciclo [no STF]. Às vezes penso que ainda poderia fazer mais coisas."