
Brasil
PF e MPRJ prendem 8 da milícia de Zinho por ‘matança generalizada’; grupo é suspeito da morte de Jerominho
Agentes saíram no fim da madrugada para cumprir os mandados. Zinho, irmão e sucessor de Wellington da Silva Braga, o Ecko, já era investigado pela Polícia Civil do RJ como mandante da execução de Jerominho
A Polícia Federal (PF) e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) iniciaram nesta quinta-feira (25) a Operação Dinastia, para prender o miliciano Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, e 22 de seus comparsas.
Até a última atualização desta reportagem, oito pessoas haviam sido presas. Um deles, Geovane da Silva Mota, o GG — um dos chefes do grupo paramilitar —, foi capturado em um hotel de luxo na cidade de Gramado (RS).
O MPRJ afirma que a quadrilha, a maior em atividade no RJ, “fomenta uma matança generalizada” contra rivais. O grupo é suspeito da morte do também miliciano Jerônimo Guimarães, o Jerominho.
Agentes federais e do Grupo Especial de Atuação de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MP) saíram no fim da madrugada para cumprir 23 mandados de prisão e 16 de busca e apreensão, expedidos pela 1ª Vara Especializada de Combate ao Crime Organizado do TJRJ.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2019/g/B/VBidzbRyuLxAxcze23gg/whatsapp-image-2019-02-14-at-09.14.12.jpeg)
Luiz Antônio da Silva Braga, o Zinho, é empresário e irmão de Ecko, líder da milícia — Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
De acordo com o Gaeco, as investigações revelaram:
- extorsão;
- posse e porte de armas de fogo de uso permitido e de uso restrito, como fuzis;
- comércio ilegal de armas de fogo;
- corrupção ativa de agentes das Forças de Segurança;
- homicídios.
As execuções miram criminosos rivais que integram, sobretudo, a milícia comandada por Danilo Dias, o Tandera. Ele rompeu ligações com Zinho em 2020.
O MPRJ afirma ainda que “criminosos são destacados exclusivamente para fazer, de forma incessante, o levantamento de dados pessoais e a vigilância dos alvos que devem ser ‘abatidos’”.
“A quadrilha também pratica extorsões de forma reiterada, cobrando pelo pagamento de taxas de comerciantes e prestadores de serviço que ousam empreender nas áreas que são por ele subjugadas, independentemente da capacidade financeira dos empreendedores. Até as informais barraquinhas de rua, que vendem lanches, são achacadas pelos criminosos”, narrou o MPRJ.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/v/X/JFjem0TNq9VdUs8GCLWQ/25op2.jpeg)
PF cumpre mandado na Zona Oeste do Rio — Foto: Reprodução/PF
A morte de Jerominho
Jerominho, ex-vereador apontado como um dos criadores da milícia Liga da Justiça, foi executado no último dia 4 em Campo Grande — um dos bairros que seu grupo paramilitar dominava.
Na semana passada, o g1 mostrou que a Delegacia de Homicídios da Capital seguia buscando mais imagens de câmeras de segurança. Na ocasião, a polícia disse ainda não ter informações suficientes para determinar a autoria do crime — que foi à luz do dia, na Estrada Guandu do Sapé (relembre abaixo).

Zinho, irmão e sucessor de Wellington da Silva Braga, o Ecko, já era investigado pela Polícia Civil do RJ como mandante da execução de Jerominho. A quadrilha de Zinho domina hoje a maior parte da área que é considerada o berço da Liga da Justiça.
Tandera também era considerado suspeito do crime.
Segundo as investigações, a execução foi típica de milicianos, com homens armados e com todo o corpo coberto.
Jerominho foi enterrado no último dia 6 de agosto, no cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na Zona Oeste do Rio.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2017/R/O/KNUJQhTvCHUHCDUIhilA/jerominho.jpg)
Jerominho é irmão de Natalino — Foto: Alba Valéria Mendonça / G1
Quem era Jerominho
Jerônimo Guimarães Filho foi policial civil nos anos 1970, ao lado do irmão, Natalino.
Jerominho foi vereador do Rio de Janeiro, pelo PMDB, por dois mandatos, entre 2000 e 2008. Em 2004, foi eleito com 33.373 votos, e em 2000, com 20.560.
Contudo, um ano antes de terminar seu segundo mandato na Câmara Municipal do Rio, ele foi preso e permaneceu em penitenciárias federais por 11 anos.
O ex-parlamentar foi um dos 227 indiciados na CPI das Milícias, concluída na Alerj em 2008 e um marco contra o crime organizado no Rio.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/0/m/9wmRBWTpyJ5YzGyUY6bA/2destaques.jpg)
Ex-vereador Jerominho é baleado em shopping no Rio — Foto: Reprodução
Jerominho foi solto em 2018, após ser absolvido pelo último processo que respondia na época, em que era acusado de tentar matar um motorista de van em junho de 2005.
No final de 2020, a Polícia Federal fez uma operação que teve a família Jerominho como alvo. A investigação descobriu que a família queria ocupar postos no Executivo e no Legislativo para retomar o poder na Zona Oeste.
No fim de janeiro de 2022, o ex-vereador voltou a ser preso por extorsão a mão armada contra motoristas de vans, um crime cometido em 2005. Menos de uma semana depois, ele foi solto.
Dias antes da prisão, o ex-vereador anunciou em uma rede social que pretendia se candidatar a deputado federal pelo Patriota.
Quem é Zinho
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2021/B/U/AqYUQYSpWxjI1fIPgObA/zinho.jpg)
Cartaz de procurado de Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho — Foto: Reprodução/Portal dos Procurados
Em 28 de outubro de 2015, Zinho foi preso em uma operação da Polícia Civil contra milicianos na Zona Oeste do Rio. Graças a uma liminar, aceita no Plantão Judiciário e confirmada por desembargadores, foi solto e se tornou chefe da maior milícia do Rio.
Na época, Luís Antônio da Silva Braga era apenas um dos milicianos irmãos de Carlos Alexandre da Silva Braga, o Carlinhos Três Pontes, então chefe da organização criminosa. O outro irmão era Wellington da Silva Braga, o Ecko.
Com a morte de Carlinhos Três Pontes, em operação da Polícia Civil em 2017, quem assumiu a milícia foi Ecko. Com uma estratégia expansionista, o grupo passou a atuar em diversos municípios da Baixada Fluminense e na Costa Verde, como revelou o g1 na série de reportagens Franquia do Crime, em 2018.
Poucos dias depois da morte de Ecko, em junho de 2021, a polícia já monitorava as alianças de Zinho com antigos homens de confiança do irmão para assumir o comando da milícia de Campo Grande, Santa Cruz e Paciência, na Zona Oeste.
Zinho é considerado um homem de perfil mais ligado às atividades de lavagem de dinheiro da milícia de Santa Cruz e Campo Grande, principalmente na Baixada Fluminense.
Segundo a Polícia Civil e o Ministério Público, Zinho tinha outros esquemas criminosos com alvos presos, que envolviam a prática conhecida como "mescla": depósitos sucessivos em pequenas quantias, que misturam o dinheiro de origem lícita no caixa da empresa com o dinheiro proveniente dos lucros do crime organizado.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2021/C/i/Vm9NfQRlAGW3AUPZ6n2w/whatsapp-image-2021-08-31-at-21.15.28.jpeg)
Zinho, o último à direita, após ser preso em 2015; hoje, é o chefe da maior milícia do Rio — Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
Soltura
No Plantão Judiciário do dia 1º de novembro de 2015, o desembargador Siro Darlan decidiu conceder liminarmente o habeas corpus a Luís Antônio da Silva Braga. O motivo do pedido da defesa foi a não realização da audiência de custódia após as prisões.
No dia 12 de novembro, uma decisão do desembargador relator da Quinta Câmara Criminal, Marcelo Anástocles, ratificou a liminar concedida no Plantão Judiciário. Com essa decisão, Zinho foi solto.
Em 2017, Zinho foi condenado a 17 anos e 11 meses de prisão por organização criminosa com uso de arma de fogo e outros crimes. Em 2018, sua defesa afirmou que sua pena foi revista para 6 anos e pediu que o mandado de prisão fosse suspenso.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/4/W/RA4RtzRDGiT1EWCexIXw/25op1.jpg)