Política
Putin usa líderes em parada militar para mostrar que não está isolado
Mais de 20 chefes de estado, inclusive Lula, Xi Jinping, Maduro e vários autocratas, estiveram ao lado do presidente russo nas comemorações pelos 80 anos da vitória da União Soviética contra os nazistas na Segunda Guerra Mundial

O presidente Vladimir Putin explorou a presença de mais de 20 chefes de estado em Moscou para tentar projetar força e demonstrar que não está tão isolado no tabuleiro mundial.
Entre os líderes presentes estavam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o chinês XI Jinping e muitos ditadores como Nicolás Maduro (Venezuela), Díaz Canel (Cuba) e Aleksandr Lukashenko (Belarus).
Mantendo as tradições do Kremlin, a parada envolveu milhares de militares, blindados e vários jatos da força aérea russa.
Os russos utilizaram, inclusive, armamentos que estão sendo empregados na guerra na Ucrânia, como drones, por exemplo.
Tudo grandioso e milimetricamente planejado para demonstrar força no cenário internacional e incentivar o patriotismo e apoio ao governo internamente.
A transmissão do evento não perdeu nenhuma oportunidade de mostrar cada um dos líderes presentes, todos recebidos pessoalmente por Putin.
O líder russo, por sinal, passou quase o tempo todo ao lado do mais poderoso dos presentes: Xi Jinping.
O chinês entrou na Praça Vermelha acompanhando o anfitrião, sentou ao lado dele, conversaram durante o evento e ainda depositaram flores no túmulo do soldado desconhecido juntos.

Tudo isso se explica já que a China é o grande aliado da Rússia no cenário mundial e, indiretamente, na guerra na Ucrânia.
Foi o comércio com os chineses que permitiu, em grande parte, que Moscou resistisse às enormes sanções aplicadas sobre sua economia desde a invasão do país vizinho.
No seu discurso, Putin também fez um aceno ao ocidente e ao presidente Donald Trump, quando afirmou que a Rússia jamais vai esquecer a contribuição para a vitória dos combatentes da resistência contra os nazistas e dos exércitos aliados.
O líder do Kremlin acrescentou ainda: do “corajoso povo da China”, num claríssimo sinal da importância dos chineses para o seu regime.
Segundo ele, “todo o país e a população apoiam os participantes da operação militar especial”, numa referência à guerra na Ucrânia.
Putin declarou que a Rússia é “uma barreira intransponível contra o nazismo, a russofobia e o antissemitismo”.
Durante um jantar de recepção aos líderes, Putin fez um brinde “à vitória” — numa referência provavelmente dupla ao resultado da Segunda Guerra Mundial e ao que ele espera conseguir na Ucrânia.
O presidente também faz comparações constantes entre o exército russo e os militares soviéticos que lutaram e derrotaram os nazistas — num claro apelo político ao patriotismo dos russos.
Lula presente
O presidente Lula foi um dos raríssimos líderes democráticos presentes no evento, o que levou ao agradecimento de Putin mas também a críticas do governo ucraniano.
Foi recebido com honrarias pelo russo e ficou ao lado dele no jantar de gala oferecido aos líderes que vieram a Moscou, na noite de quinta-feira (8).
Xi Jinping ficou do outro lado de Putin. Os três estão entre os líderes mais importantes dos Brics.
Kiev entendeu a presença do líder brasileiro na parada como um gesto de apoio aos russos, o que inviabilizaria o papel que Lula vem buscando de potencial mediador da guerra entre os dois países.
O presidente brasileiro conversou por telefone, na véspera da parada, com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, uma das grandes ausências em Moscou.
O indiano confirmou presença, mas resolveu ficar em Déli devido aos conflitos com o Paquistão em torno da região da Caxemira.
Lula já disse diversas vezes que defende um diálogo entre todos os lados para tentar resolver a guerra na Ucrânia.
Durante a visita, ele se reúne em um encontro bilateral com Putin para discutir, entre outras coisas, o conflito na Europa e também forças de resistir a medidas unilateralistas do presidente americano Donald Trump.