Política

Putin usa líderes em parada militar para mostrar que não está isolado

Mais de 20 chefes de estado, inclusive Lula, Xi Jinping, Maduro e vários autocratas, estiveram ao lado do presidente russo nas comemorações pelos 80 anos da vitória da União Soviética contra os nazistas na Segunda Guerra Mundial

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM CNN 09/05/2025
Putin usa líderes em parada militar para mostrar que não está isolado
Soldados russos que lutaram na Ucrânia marcham na Praça Vermelha no desfile do Dia da Vitória da Segunda Guerra Mundial | REUTERS

O presidente Vladimir Putin explorou a presença de mais de 20 chefes de estado em Moscou para tentar projetar força e demonstrar que não está tão isolado no tabuleiro mundial.

Entre os líderes presentes estavam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o chinês XI Jinping e muitos ditadores como Nicolás Maduro (Venezuela), Díaz Canel (Cuba) e Aleksandr Lukashenko (Belarus).

Mantendo as tradições do Kremlin, a parada envolveu milhares de militares, blindados e vários jatos da força aérea russa.

Os russos utilizaram, inclusive, armamentos que estão sendo empregados na guerra na Ucrânia, como drones, por exemplo.

Tudo grandioso e milimetricamente planejado para demonstrar força no cenário internacional e incentivar o patriotismo e apoio ao governo internamente.

A transmissão do evento não perdeu nenhuma oportunidade de mostrar cada um dos líderes presentes, todos recebidos pessoalmente por Putin.

O líder russo, por sinal, passou quase o tempo todo ao lado do mais poderoso dos presentes: Xi Jinping.

O chinês entrou na Praça Vermelha acompanhando o anfitrião, sentou ao lado dele, conversaram durante o evento e ainda depositaram flores no túmulo do soldado desconhecido juntos.

Vladimir Putin e Xi Jinping em desfile do Dia da Viória em Moscou 09/05/2025 • Ivan Sekretarev/Mikhail Korytov/Host agency RIA Novosti/Divulgação via REUTERS

Tudo isso se explica já que a China é o grande aliado da Rússia no cenário mundial e, indiretamente, na guerra na Ucrânia.

Foi o comércio com os chineses que permitiu, em grande parte, que Moscou resistisse às enormes sanções aplicadas sobre sua economia desde a invasão do país vizinho.

No seu discurso, Putin também fez um aceno ao ocidente e ao presidente Donald Trump, quando afirmou que a Rússia jamais vai esquecer a contribuição para a vitória dos combatentes da resistência contra os nazistas e dos exércitos aliados.

O líder do Kremlin acrescentou ainda: do “corajoso povo da China”, num claríssimo sinal da importância dos chineses para o seu regime.

Segundo ele, “todo o país e a população apoiam os participantes da operação militar especial”, numa referência à guerra na Ucrânia.

Putin declarou que a Rússia é “uma barreira intransponível contra o nazismo, a russofobia e o antissemitismo”.

Durante um jantar de recepção aos líderes, Putin fez um brinde “à vitória” — numa referência provavelmente dupla ao resultado da Segunda Guerra Mundial e ao que ele espera conseguir na Ucrânia.

O presidente também faz comparações constantes entre o exército russo e os militares soviéticos que lutaram e derrotaram os nazistas — num claro apelo político ao patriotismo dos russos.

Lula presente

O presidente Lula foi um dos raríssimos líderes democráticos presentes no evento, o que levou ao agradecimento de Putin mas também a críticas do governo ucraniano.

Foi recebido com honrarias pelo russo e ficou ao lado dele no jantar de gala oferecido aos líderes que vieram a Moscou, na noite de quinta-feira (8).

Xi Jinping ficou do outro lado de Putin. Os três estão entre os líderes mais importantes dos Brics.

Kiev entendeu a presença do líder brasileiro na parada como um gesto de apoio aos russos, o que inviabilizaria o papel que Lula vem buscando de potencial mediador da guerra entre os dois países.

O presidente brasileiro conversou por telefone, na véspera da parada, com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, uma das grandes ausências em Moscou.

O indiano confirmou presença, mas resolveu ficar em Déli devido aos conflitos com o Paquistão em torno da região da Caxemira.

Lula já disse diversas vezes que defende um diálogo entre todos os lados para tentar resolver a guerra na Ucrânia.

Durante a visita, ele se reúne em um encontro bilateral com Putin para discutir, entre outras coisas, o conflito na Europa e também forças de resistir a medidas unilateralistas do presidente americano Donald Trump.