Cotidiano
Cocaína negra e lancha do tráfico: apreensões no Amazonas indicam presença do Comando Vermelho na região, segundo polícia
Traficantes usam mansão de luxo, droga camuflada e lancha blindada em rota internacional pelo rio Solimões, dizem investigadores
A Polícia Civil do Amazonas identificou uma mansão de luxo em um dos bairros mais valorizados de Manaus como ponto de armazenamento e distribuição de drogas. A descoberta aponta para a atuação do Comando Vermelho no estado, segundo autoridades policiais.
As ações das forças de segurança revelam desde carregamentos de “cocaína negra” até uma lancha blindada usada por traficantes para atravessar o rio Solimões.
A casa monitorada pelo Departamento de Investigação sobre Entorpecentes (Denarque) fica em uma área de classe média alta da capital. Investigadores passaram dias observando o imóvel, descrito como uma mansão com piscina de borda infinita, campo de futebol e heliponto. No dia 17 de outubro, a polícia entrou no endereço.
Dentro do imóvel, os agentes encontraram inicialmente 16 quilos de cocaína. Mas um caderno localizado no local levantou suspeitas: havia anotações mencionando “40 kg dentro de cadeiras e quadros”.
Com cães farejadores, os policiais voltaram à mansão. Só depois de examinar os móveis indicados nas anotações é que localizaram compartimentos falsos. Dentro deles, estava a chamada "cocaína negra", droga adulterada para enganar testes e até cães treinados.
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'Cocaína negra': investigadores encontraram a droga escondida em fundos falsos. — Foto: Reprodução/TV Globo
Segundo uma perita, as substâncias misturadas — como carvão ativado — impedem que a droga reaja nos testes rápidos, que normalmente ficam azulados quando há presença de cocaína. Por causa do processo químico, ela não exala o mesmo cheiro, o que também dificulta a detecção. O entorpecente, mais caro e difícil de identificar, tinha como destino a Austrália, de acordo com os investigadores.
Além da cocaína, o Fantástico mostrou que as equipes também apreenderam uma lancha blindada e fortemente armada para atravessar o Solimões. Em junho, uma das embarcações mais pesadas já vistas na região foi interceptada em Manacapuru.
Dentro dela havia metralhadoras, fuzis e até lançador de granadas, segundo a polícia. A lancha tinha blindagem artesanal e seis motores de 300 cavalos, projetados para altas velocidades em áreas remotas da Amazônia. No casco, os agentes encontraram cerca de 6,5 toneladas de drogas, a maior apreensão em uma única operação já registrada no estado. Pelo menos 12 criminosos estavam a bordo — dois morreram em confronto e os demais fugiram pela mata.
A extensa malha de rios navegáveis — mais de 7 mil km — e as áreas de acesso restrito tornam o trabalho policial ainda mais desafiador. “Nosso estado é gigante e é único, é difícil fazer o Brasil compreender o que é o Amazonas”, resume Vinícius Almeida, secretário de Segurança Pública do Amazonas.
Durante a ação na mansão, o casal de caseiros, German Alonso Pires Rodrigues e Jeyme Farias Batalha, que são peruanos. German trabalha para a dona da casa há mais de 10 anos. Em nota, a defesa de German e Jeyme disse que fez um requerimento para um novo depoimento do casal, mas não comentou sobre as drogas encontradas na mansão.
A proprietária da mansão é Liege Aurora Pinto da Cruz, também peruana, de 74 anos. Ela não estava no Brasil no dia da ação e continua fora do país. Por nota, a defesa diz que ela se colocou à disposição da autoridade policial para contribuir com as investigações, que frequentava a casa de maneira esporádica aos finais de semana e que o local onde os entorpecentes foram encontrados se trata de anexo destinado a moradia do seu caseiro.
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'Cocaína negra': polícia apreende em Manaus droga 10x mais cara e indetectável por cães e testes rápidos — Foto: TV Globo/Reprodução