Economia e Negócios
BC reduz estimativa e passa a prever alta do PIB abaixo de 2% neste ano; meta de inflação deverá ter novo estouro
Para o BC, preços ao consumidor devem seguir com variações mensais elevadas nos próximos, e preço da comida doméstica deve seguir 'pressionado'. Instituição indicou nova alta dos juros para maior

O Banco Central reduziu de 2,1% para 1,9% sua estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano.
A informação consta no relatório de política monetária do primeiro trimestre, divulgado nesta quinta-feira (27).
Em 2024, segundo dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a economia brasileira registrou uma expansão de 3,4%.
Uma alta menor, neste ano, conforme projetado pelo BC e por analistas do setor privado, representará uma desaceleração no ritmo de crescimento.
"A desaceleração esperada continua associada à política monetária mais contracionista [alta dos juros], ao menor impulso fiscal [gastos públicos menores], ao reduzido grau de ociosidade dos fatores de produção e à moderação do crescimento global", informou o Banco Central.
Nesta semana, a instituição já tinha avaliado que a atividade econômica e o mercado de trabalho têm apresentando dinamismo, mas que há dados sugerindo uma "incipiente" moderação do ritmo de crescimento da economia — o que, em sua visão, é um "elemento necessário" para redução das pressões inflacionárias.
"Temos que desacelerar um pouco a economia. O PIB veio um pouco mais fraco do que o esperado. Há sinais que estamos vendo sinais de moderação [da atividade econômica]", disse o diretor do BC, Diogo Guillen, no começo deste mês.
No relatório de política monetária, o BC informou que o chamado "hiato do produto" segue positivo. Isso quer dizer que a economia continua operando acima do seu potencial de crescimento sem pressionar a inflação.
Alta dos juros
A projeção de uma expansão menor do PIB, neste ano, acontece em meio a um processo de alta dos juros para conter pressões inflacionárias.
O Comitê de Política Monetária do BC subiu a taxa básica da economia por cinco vezes seguidas.
O juro atingiu 14,25% ao ano na semana passada, patamar semelhante ao de 2015 em 2016, durante o governo da presidente Dilma Rousseff.
E o Banco Central indicou que a taxa deverá ter novo aumento em maio deste ano, mas em ritmo menor do que 1 ponto percentual.
"A política monetária [de juros] tem impacto sobre a economia com defasagens longas, variáveis e incertas (...) Na condução da política monetária, o horizonte que o BC vê como apropriado para o retorno da inflação à meta depende da natureza e persistência dos choques e dos mecanismos de transmissão em curso na economia", informou o BC.
- No regime de meta contínua, se a inflação ficar fora do intervalo de tolerância por seis meses consecutivos, a meta é considerada descumprida.
- Caso a meta de inflação não seja atingida, o BC terá de escrever e enviar uma carta pública ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, explicando os motivos.
- Essa carta devem trazer uma "descrição detalhada das causas do descumprimento, as medidas necessárias para assegurar o retorno da inflação aos limites estabelecidos e o prazo esperado para que as medidas produzam efeito".
- Segundo o BC, uma nova comunicação será feita "somente no caso de a inflação não retornar ao intervalo da meta dentro prazo estipulado ou se o BC julgar necessário atualizar as providências ou o prazo esperado para a volta da inflação ao intervalo de tolerância".
Inflação
O Banco Central também elevou sua estimativa para a inflação oficial em 2025, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 4,5%, em dezembro do ano passado, para 5,1%.
A meta de inflação deste ano é de 3%, e será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%.
Com isso, o BC estima um novo estouro da meta de inflação neste ano, assim aconteceu em 2024.
Para o ano de 2026, a projeção do Banco Central subiu de 3,6% para 3,7%.
"A probabilidade estimada, construída a partir dos intervalos de probabilidade, passou de 50% para 70% no caso de 2025 e de 26% para 28% no caso de 2026", informou o Banco Central.
Em seus documentos, a autoridade monetária tem dito, ainda, que a meta de inflação deve ser ultrapassada já em junho deste ano. Isso porque, desde o início de 2025, começou a ser adotado um sistema de meta contínua.
Alimentação seguirá pressionada
Segundo o BC, os preços ao consumidor devem seguir com variações mensais elevadas nos próximos meses e a inflação, acumulada em doze meses, deve permanecer ao redor de 5,5%, acima do intervalo de tolerância da meta - que é de 4,5%.
"Os preços da alimentação no domicílio devem seguir pressionados, mesmo com alguma moderação em alimentos industrializados em comparação aos últimos meses. Alimentos in natura, que tiveram variações relativamente baixas no período recente, devem apresentar evolução mais próxima ou acima da sazonalidade", informou o Banco Central.
No caso das proteínas, acrescentou a instituição, permanece o cenário de oferta restrita de boi gordo em 2025 e de demanda externa aquecida.
"Apesar da queda sazonal esperada para o preço do etanol, os preços de bens industriais também devem seguir pressionados, em linha com a alta recente nos preços ao produtor e com os efeitos da depreciação do real acumulada ao longo do último ano", avaliou o BC.
Em relação à energia elétrica residencial, após um início de ano favorável, houve piora do cenário hídrico em fevereiro e março, segundo a instituição. "Nesse contexto volátil, a projeção ainda considera bandeira tarifária verde até junho", informou.
Para a instituição, a estimativa para o segmento de serviços é de variações em "patamar elevado", mesmo com o arrefecimento da alimentação fora do domicílio.
"A inflação alta de serviços mostra-se disseminada, consistente com o cenário de mercado de trabalho ainda apertado e de inércia mais elevada", concluiu.