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Trump e Zelensky frente a frente: o que esperar de turbulento dia de negociações que pode mudar futuro da Ucrânia

A expectativa é que a reunião desta segunda-feira (18) seja mais crucial para o futuro da Ucrânia — e para a segurança de toda a Europa

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM BBC 18/08/2025
Trump e Zelensky frente a frente: o que esperar de turbulento dia de negociações que pode mudar futuro da Ucrânia
Expectativa da reunião desta segunda é que seja mais produtiva do que foi a cúpula EUA-Rússia da sexta-feira passada, no Alasca | Kevin Lamarque/Reuters

O presidente americano, Donald Trump, e Volodymyr Zelensky se reúnem neste momento na Casa Branca, em um encontro com a presença de líderes europeus.

A expectativa é que a reunião desta segunda-feira (18) seja mais crucial para o futuro da Ucrânia — e para a segurança de toda a Europa — do que foi a cúpula entre Trump e o líder russo, Vladimir Putin, na sexta-feira passada, no Alasca.

Pouco antes do encontro, o presidente finlandês, Alexander Stubb, foi visto chegando à embaixada ucraniana em Washington, D.C. para uma "reunião preparatória" com Zelensky.

Enquanto Trump, Zelensky e os líderes europeus se preparavam para o encontro, Putin se ocupava ligando para seus homólogos em outros países.

O líder russo fez uma chamada para Lula, Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul, Narendra Modi, da Índia, e Emomali Rahmon, do Tajiquistão.

Segundo informações oficiais do Kremilin, Putin estava atualizando as outras lideranças sobre sua reunião no Alaska no fim de semana. Em nota, o Planalto afirmou que o líder russo avaliou o encontro como positivo.

"Após abordar os diversos temas discutidos com o presidente Trump, Putin reconheceu o envolvimento do Brasil com o Grupo de Amigos da Paz, iniciativa conjunta com a China", disse o governo russo em nota.

A presença do premiê do Reino Unido, Keir Starmer, do presidente da França, Emmanuel Macron, do chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, e de outros líderes ao lado de Zelensky vai além da tentativa de que ele não seja novamente emboscado no Salão Oval, como aconteceu em 28 de fevereiro.

Os líderes europeus estão determinados a incutir em Trump duas coisas.

Primeiro, que não pode haver acordo de paz para a Ucrânia sem o envolvimento direto da Ucrânia. E, segundo, que o acordo deve ser apoiado por garantias de segurança "rígidas".

Acima de tudo, os líderes europeus querem que o presidente dos EUA veja a Ucrânia e a Europa como uma frente unida. E querem garantir que Trump não seja influenciado por sua óbvia afinidade pessoal com Vladimir Putin a ceder às exigências dos russos.

Nesse ponto, as habilidades diplomáticas do premiê britânico, Keir Starmer, serão testadas.

Trump gosta de Starmer e o ouve. E dentro de um mês Trump fará uma visita de Estado ao Reino Unido.

Ele também gosta de Mark Rutte, o secretário-geral da aliança militar Otan, que estará presente — e que às vezes é chamado de "Encantador de Trump".

O presidente americano parece ter menos apreço pelo presidente Macron. A Casa Branca criticou duramente sua intenção recente de reconhecer incondicionalmente um Estado palestino na próxima Assembleia Geral da ONU.

Para que um acordo de paz na Ucrânia tenha alguma chance de funcionar, alguém precisará ceder.

Líderes europeus têm dito frequentemente que as fronteiras internacionais não podem ser alteradas por força. Já Zelensky tem afirmado repetidamente que não abrirá mão de território e que a Constituição da Ucrânia proíbe isso.

Mas Putin quer a região do Donbas, onde suas forças já controlam cerca de 85% do território, e ele não tem absolutamente nenhuma intenção de devolver a Crimeia.

No entanto, como me disse certa vez a ex-primeira-ministra da Estônia e agora vice-presidente da Comissão Europeia e mais alta diplomata do bloco, Kaja Kallas, uma vitória da Ucrânia nesta guerra não precisa ser pautada exclusivamente pela reconquista de territórios ocupados.

Pessoas com a bandeira amarela e azul da Ucrânia carregam cartazes contra a guerra no país.

Crédito,José Luis González/Reuters

Legenda da foto,Protesto contra a guerra na Ucrânia ocorreu próximo à Casa Branca antes da reunião entre líderes

Se a Ucrânia conseguir obter o tipo de garantia de segurança prevista pelo artigo 5 da Otan, suficiente para dissuadir qualquer futura agressão russa e salvaguardar sua independência como um Estado livre e soberano, isso já seria uma forma de vitória.

O Artigo 5 da Otan prevê que um ataque a um país-membro é considerado um ataque a todos.

Os EUA e a Rússia estariam discutindo agora uma proposta que, de forma geral, troca território ucraniano por garantias de segurança de que o país não precisará ceder mais à Rússia.

Mas ainda há muitas dúvidas.

A Ucrânia poderia aceitar um acordo que encerra a guerra, mas lhe custa território — especialmente quando tantos milhares de ucranianos morreram tentando protegê-las?

Se lhe for pedido que ceda os 30% restantes da região de Donetsk que a Rússia ainda não ocupou, isso deixaria o flanco oeste, em direção a Kiev, perigosamente exposto?

E quanto à tão alardeada "Coalizão dos Dispostos" de Starmer — o que eles fariam pela Ucrânia?

As conversas anteriores sobre o envio de dezenas de milhares de soldados para lutar na Ucrânia se dissiparam.

Agora, fala-se mais em "proteger os céus e os mares", ajudando a Ucrânia a reconstruir seu exército.

Mas mesmo que a paz se estabeleça no campo de batalha, ainda estamos em território perigoso.

Todos os especialistas militares com quem conversei acreditam que, no momento em que os combates cessarem, Putin reconstituirá seu exército e fabricará mais armas para estar em condições de, talvez em apenas três ou quatro anos, conquistar mais território.

Zelensky e Trump na Casa Branca

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Líderes europeus querem evitar que Zelensky sofra uma emboscada diplomática na Casa Branca, como aconteceu em fevereiro

O que os EUA e a Europa querem das negociações de paz?

Donald Trump quer ver o fim da guerra na Ucrânia.

Ele já obteve alguns sucessos este ano ao encerrar — ou pelo menos interromper — guerras no Cáucaso, no Irã e, possivelmente, entre a Índia e o Paquistão. Mas, até agora, um acordo de paz com a Ucrânia não lhe foi alcançado e ele tem oscilado entre jogar a culpa em Moscou e Kiev.

Ele ouviu sua base de apoio do MAGA e sabe que há pouca disposição para o apoio contínuo dos EUA a uma guerra que a Ucrânia não pode vencer. Mas, em parte devido à sua clara amizade pessoal com Vladimir Putin, ele parece muito relutante em aplicar o tipo de pressão econômica sobre a Rússia que seus críticos dizem ser necessária para forçar Putin a parar de lutar.

Já os líderes europeus, principalmente os presentes em Washington nesta segunda, estão dolorosamente cientes de que a segurança da Ucrânia está inextricavelmente ligada à segurança mais ampla da Europa.

Os líderes europeus se opõem firmemente à ideia de uma fronteira internacional ser alterada à força, mas é exatamente isso que está sendo cogitado após a cúpula do Alasca e as visitas do enviado presidencial dos EUA, Steve Witkoff, à Rússia.

Por isso, os líderes reunidos na Casa Branca foram a Washington para demonstrar unidade com a Ucrânia e para convencer Trump de que não deveria haver acordo sem o envolvimento de Kiev. Além disso, esperam tentar proteger o presidente Zelensky de ser coagido a aceitar alguma proposta impossível que sua própria Constituição nacional não o permitirá aceitar.

Por outro lado, a Rússia quer toda a Donbass, enquanto a Ucrânia não quer abrir mão dela.

E qual será a forma dessa "garantia de segurança no estilo do Artigo 5" que está sendo potencialmente oferecida à Ucrânia? Terá o apoio incondicional dos EUA ou apenas uma promessa de intenção vagamente formulada?

No fim das contas, tudo se resume a isto: se for possível fechar um acordo que ponha fim a esta guerra aqui e agora, como o Ocidente coletivamente garante que ela não se repita no futuro?