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Israel e Hamas intensificam ataques na pior crise desde 2014
Exército israelense atinge a cúpula das milícias islâmicas com assassinatos seletivos de vários comandantes, enquanto estas continuam lançando foguetes sobre o sul e o centro do país
De acordo com o último balanço do Ministério da Saúde gazense, são 53 mortos na Faixa, entre eles 14 menores de idade e três mulheres. A ofensiva israelense feriu outras 296 pessoas. Só nesta madrugada mais de 200 foguetes foram disparados de Gaza em direção ao sul, para cidades como Beersheva, e o centro de Israel, na região de Tel Aviv. Em Lod, na área central, um homem de 52 anos e sua filha de 16 morreram depois que a casa em que moravam recebeu o impacto direto de um míssil. A última vítima israelense é um motorista, ferido no ataque de um míssil antitanque disparado pela Jihad Islâmica junto à fronteira de Gaza. O escudo defensivo antimísseis israelense, chamado de Cúpula de Ferro, realizou várias interceptações.
“Se você não chega ao refúgio, está perdido”
Duas das vítimas dos projéteis das milícias palestina são uma mulher indiana de 32 anos e a idosa de 90 anos de que cuidava, na cidade israelense de Ashkelon, na fronteira norte da Faixa. Seu vizinho Eli Landu, um carteiro de 62 anos, disse a um grupo de veículos de comunicação, entre os quais o EL PAÍS, que não havia refúgio na casa delas, que era antiga. “Só se tem 30 segundos para chegar ao refúgio; do contrário, você está perdido”, explica Landau a cerca de quinze quilômetros da fronteira de Gaza, com um horizonte de colunas de fumaça ao fundo. As explosões dos bombardeios israelenses se sucedem incessantemente.
As Forças Armadas israelenses reforçaram as áreas de fronteira do enclave palestino com batalhões de infantaria e tanques. Mais de 3.000 reservistas foram mobilizados pelo comando da Divisão Sul, que opera na região, para reforçar com serviços de inteligência as unidades de combate. O chefe do Estado-Maior, o general Aviv Kochavi, deu luz verde para que as unidades operacionais executem assassinatos seletivos de comandantes das milícias palestinas, vários dos quais já perderam a vida, segundo porta-vozes de suas organizações.
A vida cotidiana parou na Faixa de Gaza no último dia do Ramadã, esta quarta-feira, enquanto os moradores aguardam os avisos que o Exército israelense emite antes do bombardeio de edifícios ou de posições das guerrilhas islâmicas ―vários imóveis foram destruídos na terça-feira, entre eles um bloco de 13 andares que abrigava um escritório político do Hamas. Os moradores da região foram alertados com uma hora de antecedência. Conforme informou o Exército israelense, a aviação atingiu nas últimas horas a casa do comandante da Cidade de Gaza, Basa Misa, a de Khan Younis, Rafah Salameh e a do chefe do aparato de espionagem da milícia, Muhammad Yizuri.
No sul e no centro de Israel, onde ondas de dezenas de foguetes continuaram caindo durante a noite, um milhão de alunos tiveram as aulas presenciais suspensas e foram enviados para casa para terem aulas online. Enquanto isso, a Frente Interna do Exército (Proteção Civil) ordenou que todos os habitantes dessas regiões, mais da metade da população do país, permanecessem em suas casas e perto de refúgios antiaéreos.
A crise também se espalhou para a Cisjordânia, onde houve confrontos com o Exército nos postos de controle de fronteira e, pela primeira vez, também para cidades de Israel com maioria de população árabe. É o caso de Lod, próxima de Tel Aviv, onde confrontos entre moradores judeus e árabes causaram ao menos um morto. O Governo de Israel declarou estado de emergência na localidade. Em confrontos com a polícia de fronteira, corpo militarizado enviado para reforçar a segurança, 12 manifestantes ficaram feridos.
Infraestruturas básicas, como o Aeroporto Internacional Ben Gurion, ao sul de Tel Aviv, foram afetadas, assim como o oleoduto Eilat Ashkelon, atingido por foguetes lançados da Faixa de Gaza.
A onda de violência que estourou em Jerusalém durante o mês do Ramadã, onde mais de 300 palestinos ficaram feridos na segunda-feira em confrontos com a polícia na mesquita de Al Aqsa, se espalhou para o enclave de Gaza, que teve três devastadoras batalhas desde que o Hamas tomou o poder no território em 2007. Junto com os protestos contra as barreiras policiais colocadas no Ramadã na Porta de Damasco, principal acesso ao bairro muçulmano da Cidade Velha, a mobilização dos cidadãos para deter os despejos no bairro de Sheikh Jarrah, que tinham sido promovidos perante a justiça por uma associação de colonos ligada à extrema direita, estava por trás da origem da explosão em Jerusalém durante o mês sagrado do Islã.