Polícia
STF manda prender novamente o “corretor de sentenças” do Judiciário de Mato Grosso
Andreson Gonçalves foi detido pela manhã em Primavera do Leste; mesmo em prisão domiciliar, ele seguia lavando dinheiro e operando o esquema de venda de decisões
A Polícia Federal prendeu novamente, na manhã de quarta-feira (12), o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, conhecido nos bastidores do poder como o “corretor de sentenças” do Judiciário mato-grossense.
A prisão foi determinada pelo ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), após novas investigações apontarem que o lobista continuava cometendo crimes de lavagem de dinheiro e corrupção, mesmo enquanto cumpria prisão domiciliar em Primavera do Leste (231 km de Cuiabá).
Apontado como peça-chave em um dos maiores escândalos de corrupção judicial do Centro-Oeste, Andreson foi levado para a Superintendência da PF em Cuiabá, onde deve ser interrogado antes de ser encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML).
A operação mobilizou agentes federais desde as primeiras horas do dia e atraiu curiosos no bairro onde o lobista vivia em uma casa de alto padrão.
As novas apurações revelaram que, mesmo monitorado por tornozeleira eletrônica, Andreson mantinha movimentações financeiras suspeitas e contatos com advogados e magistrados ligados ao esquema de venda de sentenças.
A perícia médica do STF também concluiu que o réu já apresenta condições clínicas para retornar ao regime fechado, o que reforçou a decisão do ministro Zanin.
A defesa classificou a medida como “tão surpreendente quanto desfundamentada”, afirmando que o Supremo ignorou laudos médicos anteriores. O advogado Eugênio Pacelli ironizou a decisão:
“Se ele se suicidar, dirão que, como foi voluntário, deverá ser enterrado no presídio”, disse.
Segundo a Polícia Federal, Andreson Gonçalves era o intermediador de confiança em um esquema milionário que envolvia advogados, empresários e desembargadores.
Ele é acusado de aproximar os magistrados Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho do advogado Roberto Zampieri, assassinado a tiros em 2023.
Mensagens encontradas no celular de Zampieri levaram ao afastamento dos desembargadores e à deflagração das operações Sisamnes e Ultima Ratio, que atingiram também cinco desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS).
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Fontes da PF afirmam que ele funcionava como corretor das sentenças, conectando quem queria comprar decisões com quem estava disposto a vendê-las.
Preso inicialmente em novembro de 2024, o lobista ganhou direito à prisão domiciliar em julho de 2025, após alegar estado crítico de saúde e perda de mais de 30 quilos.
Pacientes bariátrico, Andreson havia passado por uma cirurgia de gastrectomia vertical com interposição ileal e alegava não receber alimentação adequada na Penitenciária Central do Estado (PCE), em Cuiabá.
Na época, o juiz Geraldo Fidelis autorizou a entrada de alimentos específicos como carne assada, atum, chocolates e isotônicos.
O benefício, porém, foi revogado após a constatação de que ele usava a prisão domiciliar para continuar comandando o esquema de lavagem de dinheiro.
Na casa de Primavera do Leste, a PF apreendeu celulares, documentos e equipamentos eletrônicos que reforçam a suspeita de que o lobista nunca deixou de agir nos bastidores da Justiça.
Figura central nos escândalos que abalaram os tribunais de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Andreson Gonçalves tornou-se o símbolo do colapso ético dentro do sistema de Justiça.
As operações Sisamnes e Ultima Ratio revelaram uma teia de relações entre dinheiro, influência e poder que atravessou gabinetes e salas de julgamento.
Com a nova prisão decretada pelo STF, a Polícia Federal entra em nova fase das investigações, focada agora em identificar quem manteve o esquema ativo durante o período em que o “corretor de sentenças” estava dentro de casa.
A defesa de Andreson foi procurada, mas não respondeu até o fechamento desta edição.