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Como foi operação de resgate de reféns que deixou 270 mortos segundo autoridades de Gaza
Apelidada de “Sementes de Verão”, a operação foi realizado de forma incomum, durante o dia – o que, segundo as Forças de Defesa de Israel, permitiu um melhor elemento de surpresa
Quatro reféns foram resgatados no sábado (8/6) pelo Exército de Israel nas proximidades do campo de refugiados de Nuseirat, no centro de Gaza, em uma operação planejada por semanas.
Para os israelenses, a missão trouxe celebração e alívio. Para os palestinos, apenas mais sofrimento. Segundo o Ministério da Saúde ligado ao Hamas, o ataque ao campo de refugiados matou 274 pessoas, incluindo crianças e civis.
Apelidada de “Sementes de Verão”, a operação foi realizado de forma incomum, durante o dia – o que, segundo as Forças de Defesa de Israel, permitiu um melhor elemento de surpresa.
O horário do meio-dia significou que as ruas estavam lotadas de pessoas fazendo compras em um mercado próximo ao campo.
Também significou um risco maior para as forças especiais de Israel, não só para entrar, mas especialmente para sair com os reféns resgatados.
Um oficial das forças especiais se feriu e morreu no hospital, segundo a polícia de Israel.
O porta-voz principal das Forças de Defesa de Israel (IDF), contra-almirante Daniel Hagari, afirmou que comandos especializados invadiram simultaneamente dois apartamentos residenciais em Nuseirat onde os reféns estavam detidos.
Em um apartamento estava a refém Noa Argamani, de 26 anos. No outro estavam Shlomi Ziv, de 41 anos, Andrey Kozlov, de 27, e Almog Meir Jan, de 22.
Hagari disse que eles não estavam em jaulas, mas em quartos trancados e cercados por guardas.
Ele disse que os comandos israelenses, depois de forçarem a entrada, capturaram os reféns e se posicionaram em torno deles para formar escudos de proteção antes de colocá-los em veículos militares do lado de fora.
Ao partirem, ele disse que enfrentaram forte resistência dos combatentes palestinos.
Hagari disse que os militares de Israel planejaram o ataque detalhadamente, até construindo maquetes dos dois apartamentos para treinar sua ação.
Os EUA também forneceram apoio de inteligência a Israel para a operação, de acordo com a CBS News, parceira da BBC, que citou duas autoridades americanas.
Vídeos filmados no local no momento do ataque mostram pessoas correndo em busca de locais para se esconder enquanto mísseis assobiavam e tiros eram disparados.
Imagens posteriores mostraram corpos espalhados pela rua.
O ataque envolveu claramente força maciça. Inicialmente, médicos dos dois hospitais no centro de Gaza disseram ter contado mais de 70 corpos.
Hagari, das IDF, havia estimado menos de 100 vítimas.
Mas neste domingo (9/6), o Ministério da Saúde em Gaza, controlado pelo Hamas, afirmou que o ataque matou 274 pessoas. Se os números forem confirmados, sábado se tornará um dos dias mais mortíferos do conflito até agora.
“Recolhi as partes do corpo do meu filho, meu querido filho”, disse Nora Abu Khamees, abrigada em Nuseirat, à BBC enquanto chorava.
“Meu outro filho está entre a vida e a morte. Até meu marido e minha sogra, toda a nossa família está destruída. Isto é um genocídio.”
Areej Al Zahdneh, de 10 anos, falando de um hospital próximo, disse que viu ataques aéreos, tanques e tiroteios. “Não conseguíamos respirar. Minha irmã Reemaz foi atingida por estilhaços na cabeça e minha irmã Yara, de 5 anos, também foi atingida por estilhaços.”
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As pessoas que vivem na área densamente povoada descreveram o terror de serem alvo de bombardeamentos intensos e de tiros pesados.
Um homem, Abdel Salam Darwish, disse à BBC que estava em um mercado comprando vegetais quando ouviu aviões de combate vindos de cima e o som de tiros.
“Depois disso, os corpos das pessoas ficaram em pedaços, espalhados pelas ruas, e o sangue manchou as paredes”, disse ele.
O regresso dos reféns às suas famílias provocou comemorações em Israel e líderes mundiais, incluindo o presidente dos EUA, Joe Biden, saudaram a notícia da sua libertação.
Mas crescem as críticas em relação ao custo mortal da operação dentro de Gaza.
O principal diplomata da União Europeia, Josep Borrell, condenou "nos termos mais fortes" o ataque. “Os relatos de Gaza sobre outro massacre de civis são terríveis”, escreveu ele no X.
Um ministro israelense respondeu dizendo que ao invés de condenar o Hamas por se esconder atrás dos civis, a UE condenou Israel por salvar os seus cidadãos.
Vídeos de Gaza feitos após o ataque mostram cenas de carnificina.
Um vídeo do hospital de Al-Aqsa mostra inúmeras pessoas com ferimentos horríveis deitadas no chão, deixando quase nenhum espaço para os médicos se movimentarem entre os pacientes.
Outros vídeos mostram um fluxo frequente de novos casos sendo conduzidos de carro e ambulância e transportados para o prédio.
O diretor do Hospital Al-Awda em Nuseirat disse à BBC Árabe que o número de mortos que chegaram ao hospital aumentou ao longo do sábado.
O Dr. Marwan Abu Nasser também afirmou que falta espaço de necrotério no hospital para acomodar os corpos.
Um homem, que disse que mais de 40 membros da sua família foram mortos desde o início do conflito em outubro, descreveu à BBC como foi estar em uma casa que foi atingida pelo ataque.
“Assim que crianças e mulheres entraram na casa, ocorreu o ataque a bomba, tirando a vida de todos que estavam dentro dela”, disse ele.
"Esta casa, que costumava abrigar aproximadamente 30 pessoas que depois viraram 50, foi bombardeada... só eu, meu pai, minha esposa e um jovem sobrevivemos... somos os únicos sobreviventes entre 50 pessoas."
O derramamento de sangue provocou uma rara manifestação de críticas ao Hamas por parte da população de Gaza.
Hassan Omar, 37 anos, disse lamentar a perda desnecessária de vidas nos ataques israelenses, dizendo à BBC: "Para cada refém israelense, eles poderiam ter libertado 80 prisioneiros palestinos e sem qualquer derramamento de sangue – [isso] é um milhão de vezes melhor do que perder 100 mortos."
“A minha mensagem ao Hamas é que parar a perda é parte do ganho, devemos livrar-nos daqueles que nos controlam a partir de quartos de hotéis do Qatar.”
O resgate de reféns ocorreu em meio a esforços para um cessar-fogo e um acordo de libertação de reféns entre Israel e o Hamas.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, foi instado a chegar a um acordo, mas enfrenta oposição de aliados da direita radical que afirmam que a ação militar é a única maneira de trazer os reféns de volta.
A operação de sábado é o resgate de reféns mais bem-sucedido realizado pelos militares israelenses nesta guerra – e analistas dizem que poderá mudar o cálculo de um primeiro-ministro que está sob pressão crescente.
Em resposta à ofensiva militar em Nuseirat, o líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, disse que Israel não poderia impor as suas escolhas ao grupo.
Ele disse que o grupo não concordaria com um acordo de cessar-fogo a menos que conseguisse segurança para os palestinos.
Durante os ataques de 7 de outubro, no sul de Israel, o Hamas matou cerca de 1.200 pessoas e fez cerca de 251 reféns.
Cerca de 116 permanecem no território palestino, incluindo 41 que o Exército afirma estarem mortos.
Um acordo fechado em novembro permitiu ao Hamas libertar 105 reféns em troca de um cessar-fogo de uma semana e cerca de 240 prisioneiros palestinos mantidos em prisões israelenses.
No sábado, o Ministério da Saúde administrado pelo Hamas disse que o número de mortos deixados em Gaza desde o início do conflito é de mais de 37 mil pessoas.