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Entenda em 5 pontos a crise política causada pelas fraudes no INSS

Operação da Polícia Federal revelou esquema que desviou R$ 6,3 bilhões de aposentados. Nesta sexta, o ministro da Previdência deixou o cargo, após situação ficar insustentável; oposição quer CPI

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM G1 03/05/2025
Entenda em 5 pontos a crise política causada pelas fraudes no INSS
Wolney Queiroz foi nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao lado da ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) | Reprodução

A demissão do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT), nesta sexta-feira (2), marca o ápice até aqui de uma crise política que começou com a revelação de um esquema bilionário de fraudes envolvendo o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

A Polícia Federal estima que até R$ 6,3 bilhões tenham sido desviados de aposentados e pensionistas desde 2019.

A seguir, veja os principais pontos da crise:

1. O que são as fraudes no INSS

Uma operação da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU) revelou que entidades sindicais e associações que prestam serviços a aposentados cadastravam beneficiários do INSS sem autorização — usando assinaturas falsas — para aplicar descontos mensais diretamente na folha de pagamento.

Segundo as investigações, o esquema começou no governo de Jair Bolsonaro (2019–2022) e se aprofundou no atual governo. Entre os alvos está o lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, apontado como o operador central do esquema e sócio de 21 empresas.

A fraude pode ter atingido 4,1 milhões de pessoas. Entre 2023 e o primeiro semestre de 2024, os descontos indevidos superaram R$ 3,2 bilhões. Em 95% dos casos, os beneficiários afirmaram que não autorizaram os débitos.

2. Queda de Lupi e do presidente do INSS

O escândalo levou à demissão do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, na semana passada. Ele foi indicado ao cargo por Carlos Lupi e foi citado nas investigações como figura-chave da estrutura envolvida nas fraudes.

Diante da pressão crescente, Lupi pediu demissão nesta sexta-feira (2). Em nota, afirmou que seu nome não foi citado nas investigações, mas reconheceu a gravidade da crise. A saída foi negociada diretamente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Nos bastidores, o governo avaliava que a permanência de Lupi era insustentável e que o desgaste poderia contaminar ainda mais a imagem do Planalto.

3. O novo ministro já estava no centro das discussões

O escolhido para substituir Lupi foi Wolney Queiroz, ex-deputado federal do PDT e número dois da pasta.

Ele exercia o cargo de secretário-executivo da Previdência Social e também participou da reunião do Conselho Nacional da Previdência, em 2023, na qual as primeiras denúncias foram apresentadas. Só que medidas para coibir a fraude foram tomadas só um ano depois.

A escolha de um nome ligado diretamente à antiga gestão pode não acalmar os ânimos como o governo gostaria.

A oposição já sinaliza que vai cobrar explicações e pode passar a pressionar agora pela saída de Wolney.

Wolney Queiroz foi nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao lado da ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) — Foto: Reprodução

Wolney Queiroz foi nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao lado da ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) — Foto: Reprodução

4. A ameaça de uma CPI no Congresso

Aliados de Lula admitem preocupação com a possibilidade de instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o caso. Parlamentares da oposição, especialmente do PL e do Novo, já articulam os primeiros movimentos.

A fragilidade da base do governo no Congresso — que depende de apoios do Centrão — torna qualquer CPI um fator de desgaste adicional, especialmente em um tema sensível como o desvio de recursos de aposentados.

Ano que vem é ano eleitoral. Uma CPI em 2025 tem o poder de afetar as ambições do governo.

5. O desafio do ressarcimento

O governo prometeu devolver os valores descontados indevidamente dos beneficiários. O presidente Lula determinou que a AGU processe as associações envolvidas e garanta o ressarcimento às vítimas. Mas até agora não foi apresentado um plano claro de como ou quando isso será feito.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo está buscando “o caminho” para fazer os pagamentos. A CGU e a AGU ainda avaliam como estruturar a devolução.

Enquanto isso, a pressão por respostas aumenta — e a crise segue sem prazo para terminar.