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Ataques com drones da Rússia reconfiguraram a guerra na Ucrânia; entenda
Rápido aumento em ofensivas mostra como o conflito entre os países evoluiu para depender desses veículos autônomos não tripulados

À medida que a máquina de guerra da Rússia avança no leste da Ucrânia, outra ofensiva está sendo realizada muito além da linha de frente. A Rússia está intensificando ataques noturnos com drones em cidades ucranianas e na infraestrutura civil, e, à medida que aumenta rapidamente a produção dessas armas, seus ataques estão se tornando mais intensos.
Muitos dos drones não são particularmente rápidos ou de alta tecnologia, mas são baratos o suficiente para o Kremlin lançar mais de 700 em uma noite, em um esforço para sobrecarregar as defesas aéreas da Ucrânia e dizimar a população, segundo especialistas.
Depois de obter projetos iranianos para os drones de ataque Shahed, a Rússia construiu a própria fábrica para produzir milhares dessas armas por mês. Suas táticas em evolução estão forçando a Ucrânia a reagir com munições e inovações mais caras, à medida que métodos de defesa mais baratos se tornam menos eficazes.

O rápido aumento nos ataques de drones mostra como a guerra evoluiu para depender desses veículos autônomos não tripulados.
Ucrânia e Rússia têm sido levadas a aprimorar as capacidades dos drones para compensar as deficiências nas capacidades da força aérea, uma dinâmica que não se aplica a todas as potências ocidentais.
Mas especialistas afirmam que os Estados Unidos e os aliados europeus da Otan estão trabalhando ativamente para aprimorar os drones e as operações de combate a com esses veículos para manter uma vantagem em quaisquer conflitos futuros.
"A Otan provavelmente acabará usando drones em larga escala. Não na mesma escala que a Rússia e a Ucrânia, porque temos essas forças aéreas gigantescas nas quais investimos e que podem atacar com grande poder muito rapidamente – mas como um complemento a isso", disse Robert Tollast, pesquisador especializado em guerra terrestre no RUSI (Royal United Services Institute), à CNN.
Taiwan já está estudando o desenvolvimento de um grande número de drones de ataque baratos, disse Tollast. Organizações não estatais em todo o mundo e cartéis de drogas também estão recorrendo cada vez mais a esses veículos. "Eles representarão um enorme desafio para exércitos despreparados", acrescentou.
É assim que a campanha de drones da Rússia opera – e como a Ucrânia está trabalhando para reagir.
A Rússia está caminhando para produzir mais de 6.000 drones do tipo Shahed por mês, informou a Inteligência de Defesa da Ucrânia à CNN. E é muito mais barato produzir os drones de ataque dentro da Rússia em comparação com o início da guerra, quando Moscou os comprava de Teerã.

"Em 2022, a Rússia pagou em média US$200.000 por um drone desses", disse uma fonte da Inteligência de Defesa ucraniana. "Em 2025, esse número caiu para aproximadamente US$70.000", devido à produção em larga escala na fábrica de drones de Alabuga, na região russa do Tartaristão.
Mas as estimativas de custo variam bastante – o CSIS (Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais), uma organização que realiza pesquisas sediada em Washington, D.C., descobriu que as estimativas para o Shahed-136 variavam de US$20.000 a US$50.000 por drone.

Em comparação, um único interceptador de mísseis terra-ar pode custar mais de US$3 milhões.
Esse custo relativamente baixo permite que o Kremlin intensifique os ataques noturnos com drones, bem como realizar ataques em larga escala com mais frequência. No início da guerra, grandes ataques de mísseis e drones aconteciam aproximadamente uma vez por mês.
Em meados de 2025, elas ocorriam em média a cada oito dias, de acordo com uma análise do CSIS. Para muitas pessoas, a ameaça constante de ataques de drones é aterrorizante.
Bohdana Zhupanyna, moradora de Kiev, estava em fase avançada de gravidez quando o apartamento de sua família foi destruído por um ataque de drone russo em julho.
"Estou tentando me acalmar, porque esse estresse aos nove meses de gravidez é muito perigoso", disse Zhupanyna, que deu à luz seu bebê em segurança, à CNN logo após o ataque.
"Perdi muito nesta guerra. Meu pai foi morto pelas mãos dos russos, meu apartamento foi destruído pelas mãos dos russos e minha mãe quase foi morta pelas mãos dos russos", acrecentou a moradora de Kiev.
E enquanto a Rússia usa drones de longo alcance para atacar cidades ucranianas a centenas de quilômetros das linhas de frente, pessoas que vivem em cidades próximas a áreas controladas pela Rússia relatam ser assombrados por ataques diários de drones FPV, que são equipados com uma câmera que permite ao piloto acompanhar a visão do veículo em primeira pessoa.
Moradores da região de Kherson disseram anteriormente à CNN que nenhum alvo parece estar fora dos limites, com relatos de ataques de drones FPV contra pedestres, carros, ônibus e até ambulâncias.
A Rússia negou repetidamente ter como alvo civis, apesar de evidências substanciais que provam o contrário.
A porcentagem de drones que atingem seus alvos praticamente dobrou, com uma taxa de acerto próxima a 20% desde abril, em comparação com 2024, quando menos de 10% atingiram alvos em média, disse Yasir Atalan, pesquisador de dados do CSIS.
E, escreveram os analistas do CSIS em uma análise, "não importa se um único Shahed atinge seu alvo. O que importa é o efeito composto que a arma terrorista tem sobre os civis e o estresse que ela impõe às defesas aéreas".
A tática da Rússia é "manter a pressão constante", disse Atalan à CNN. "A estratégia deles agora se concentra cada vez mais nesse tipo de desgaste."
A Ucrânia também contra-ataca com drones FPV nas linhas de frente e já atacou infraestrutura e instalações de armas dentro da Rússia usando drones de longo alcance.
“Para cada desenvolvimento tecnológico, ambos os lados já buscam uma contramedida. E o ciclo de inovação é tão rápido que, em questão de duas a três semanas, já vemos uma contra adaptação a um avanço tecnológico”, disse Kateryna Stepanenko, analista de Rússia do Instituto para o Estudo da Guerra, outra organização de pesquisas sediada em Washington.
“Portanto, algumas das abordagens que podem ser eficazes atualmente podem não ser tão eficazes nos próximos meses”, acrescentou Stepanenko.


Atualmente, tanto a Ucrânia quanto a Rússia estão trabalhando no desenvolvimento de drones com inteligência artificial que possam tomar suas próprias decisões no campo de batalha.
Além disso, os países pretendem criar drones interceptadores que poderiam ser utilizados como um método mais barato de combate a ataques aéreos do que o disparo de mísseis, de acordo com o Instituto para o Estudo da Guerra.
"Há inúmeros relatos de ucranianos testando alguns desses drones, mas não os vimos utilizados em larga escala", disse Stepanenko. "O desenvolvimento de drones interceptadores liberaria as capacidades ucranianas e também ajudaria as forças ucranianas a preservar alguns dos mísseis de defesa aérea para ataques."