Polícia
O cabo da PM Gerson Correa Júnior acusou membros do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), órgão do Ministério Público Estadual (MPE), de uso indevido e desvio de finalidade de uma "verba secreta" destinada a investigações.
O policial também afirmou que houve casos em que o dinheiro foi "apropriado fraudulentamente" em 2015, com a suposta conivência do então coordenador do grupo, o promotor de Justiça Marco Aurélio de Castro.
A informação consta no termo encaminhado ao juiz Marcos Faleiros da Silva, no último dia 10 de julho, em que o cabo requer a juntada e explanação de novos fatos e esclarecimentos relativos à chamada “Grampolândia Pantaneira” (confira abaixo).
O pedido ocorreu em razão de o cabo Gerson ter seu acordo de delação premiada negado pelo procurador de Justiça Domingos Sávio de Barros Arruda, que coordena o Naco (Núcleo de Ações de Competência Originárias), do Ministério Público Estadual.
De prestação em prestação de contas, o volume do montante acumulava-se no cofre, perdendo o seu controle real, e sendo empregado ao livre arbítrio com finalidades diversas da que se presta a verba secreta, ou apropriado fraudulentamente, com conivência da Coordenação
Segundo a defesa do militar, a negativa ocorreu a partir do momento em que o Naco “soube que havia ‘entes queridos’ delatados pelo ‘cabo cabuloso’ e não teve a coragem de cortar a própria carne”.
“Verba secreta”
No documento, o cabo Gerson detalha que a chamada “verba secreta” do Gaeco era creditada diretamente na conta corrente de um membro do Ministério Público e os valores deveriam ser empregados em demandadas operacionais do Gaeco, tais como deslocamentos para investigações realizadas pelo grupo.
Conforme o cabo, ficava sob a responsabilidade de uma assessora do então coordenador do Gaeco, Marco Aurélio, a realização de saques e o repasse dos valores à equipe operacional.
Ao final da operação, as equipes entregavam a assessora os comprovantes ou recebidos dos valores utilizados e lhe devolviam o montante não utilizado na operação.
A partir de então, conforme relatos do cabo, a servidora fazia uma prestação de contas ao MP com valor integral via recibo, ficando a sobra não utilizada depositada em cofre físico no Gaeco à disposição dos membros e da própria assessora.
“De prestação em prestação de contas, o volume do montante acumulava-se no cofre, perdendo o seu controle real, e sendo empregado ao livre arbítrio com finalidades diversas da que se presta a verba secreta, ou apropriado fraudulentamente, com conivência da Coordenação”, narrou o cabo Gerson, em trecho do documento.
Prestações retroativas
Ainda no documento, o cabo Gerson revela que, no segundo semestre de 2015, presenciou uma “peregrinação” feita pela assessora do promotor Marco Aurélio, para encontrar agentes policiais do Gaeco que pudessem assinar algumas prestações de contas com datas retroativas.
Segundo ele, a determinação teria partido do então chefe do Gaeco, o promotor Marco Aurélio.
“A própria assessora procurou o Cel. Lesco na Casa Militar, local onde o oficial laborava, expondo que o Coordenador do Gaeco havia determinado a ela que levasse um certo número de prestação de contas antigas a serem substituídas por outras prestações de contas, com datas retroativas às antigas, o que de pronto foi feito, assinado e substituído, tudo por determinação do Dr. Marco Aurélio”, cita o documento.
Também de acordo com ele, entre o segundo semestre de 2015 e o primeiro semestre de 2016, uma “ríspida e notória discussão” ocorreu dentro do Gaeco entre membros do MPE exatamente em razão do uso indevida da verba secreta.
Tal discussão, que teria sido presenciada pelo cabo Gerson, resultou no desligamento de uma servidora do Gaeco, identificada como Mirela Ojeda
Outro lado
A reportagem encaminhou o conteúdo da denúncia do PM à assessoria do Ministério Público Estadual (MPE). O posicionamento do órgão não foi enviado à redação até a edição desta matéria.
Veja fac-símile do documento: