Política
Apoiadores de Bolsonaro fazem ato na Avenida Paulista
Investigado por tentativa de golpe de Estado, ex-presidente convocou manifestação pelas redes sociais e disse que objetivo é defender
Apoiadores de Jair Bolsonaro fazem um ato neste domingo (25) na Avenida Paulista em defesa do ex-presidente, investigado pela Polícia Federal por uma tentativa de golpe de Estado para mantê-lo no poder e evitar a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Bolsonaro, que foi convocado para prestar depoimento à PF na última quinta-feira (22) e ficou em silêncio, é esperado para discursar em um carro de som estacionado perto do Museu de Arte de São Paulo (Masp).
Por volta de 13h, a maior concentração estava no quarteirão em que ficam o Masp e o Parque Trianon. A Polícia Militar mobilizou 2.000 homens para fazer a segurança do ato.
O ex-presidente anunciou a manifestação em suas redes sociais e disse que seria um "ato pacífico, pelo nosso Estado democrático de direito, pela nossa liberdade, família e futuro".
Além de Bolsonaro, devem participar a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro e políticos aliados. São esperadas as presenças de alguns governadores, entre eles Tarcísio de Freitas, governador de SP.
Carro de som em que Bolsonaro deve discursar foi posicionado perto do Masp e do Parque Trianon — Foto: g1
Os apoiadores do ex-presidente chegaram ao local nas primeiras horas da manhã, com bandeiras do Brasil e camisetas amarelas. Alguns portavam bandeiras de Israel. Na última semana, o governo de Benjamin Netanyahu foi criticado por Lula, que chamou de genocídio a morte palestinos em Gaza e comparou as ações do Exército israelense ao extermínio de judeus por nazistas no Holocausto. Em resposta, Israel declarou Lula “persona non grata”, o que significa que sua presença não é bem-vinda.
Alguns apoiadores levaram cartazes contrários ao comunismo e com lemas em defesa da pátria e da família.
Bandeiras de Israel foram vistas durante o ato em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro neste domingo (25), na Paulista — Foto: g1
Apoiadores de Bolsonaro se reúnem na Avenida Paulista neste domingo (25) — Foto: Reprodução/g1
Investigação da PF
Bolsonaro foi um dos alvos da operação Tempus Veritatis, deflagrada pela PF há duas semanas. De acordo com as investigações, o ex-presidente, alguns de seus ex-ministros e militares se organizaram para tentar um golpe de Estado e impedir a chegada de Lula ao poder.
Esse plano incluía, de acordo com as investigações:
- desacreditar o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas com a disseminação de conteúdos falsos;
- fomentar, planejar e executar atos antidemocráticos, com acampamentos em frente a quartéis do Exército;
- monitorar opositores e autoridades, entre elas o ministro Alexandre de Moraes, do STF;
- elaborar documentos que pudessem fundamentar juridicamente iniciativas golpistas;
- incitar militares a aderirem ao golpe e pressionar aqueles que fossem contrários.
Os advogados de Bolsonaro afirmam que ele nunca pensou em golpe e que prestará depoimento às autoridades quando tiver acesso à investigação. O ex-presidente teve que entregar seu passaporte às autoridades e está proibido de manter contato com os outros investigados, entre eles o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e os ex-ministros Braga Netto e Augusto Heleno, que são generais do Exército.
Apoiadores de Bolsonaro e vendedores ambulantes na altura do prédio da Fiesp, na Avenida Paulista — Foto: g1
A reunião
As investigações da PF revelaram que Bolsonaro, ainda no cargo, recebeu e pediu ajustes na minuta do golpe, um documento elaborado com o objetivo de anular o resultado da eleição vencida por Lula e que também previa a prisão de Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Uma cópia da minuta foi apreendida na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres.
A PF descobriu também um vídeo de uma reunião ministerial realizada em 5 de julho de 2022, três meses da eleição, na qual Bolsonaro e seus então ministros discutiram ações para evitar a vitória de Lula. Essa gravação foi encontrada no computador de Mauro Cid, ex-ajudante de Bolsonaro que está colaborando com as investigações.
Na reunião, Bolsonaro disse aos ministros que eles não poderiam esperar o resultado da eleição para agir. Segundo a PF, o então presidente exigiu que seus ministros — "em total desvio de finalidade das funções do cargo" — deveriam promover e replicar todas as desinformações e notícias fraudulentas quanto à lisura do sistema de votação, com uso da estrutura do Estado brasileiro para "fins ilícitos e dissociados do interesse público".
Ainda de acordo com a PF, na reunião o então ministro chefe do GSI, general Augusto Heleno, afirmou que conversou com o diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para infiltrar agentes nas campanhas eleitorais.
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- Bolsonaro discutiu o teor da minuta do golpe e pediu ajustes. A versão inicial previa a prisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, além do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, mas Bolsonaro pediu que os nomes de Pacheco e Gilmar fossem retirados do documento. Ele também quis que fosse mantido o trecho que previa a realização de novas eleições.
- Após as mudanças, Bolsonaro convocou generais e comandantes das Forças Armadas para apresentar a minuta e pressioná-los a aderir ao golpe.
- O governo Bolsonaro mantinha uma estrutura de inteligência paralela que monitorava a agenda de autoridades e era comandada pelo ex-assessor especial de Bolsonaro Marcelo Câmara.
- Uma das agendas acompanhadas em tempo integral era a de Alexandre de Moraes para, caso fosse dado o golpe militar, ele pudesse ser preso. Segundo as investigações, Marcelo Câmara já tinha o "itinerário exato de deslocamento do ministro" nas semanas finais de dezembro de 2022.
- Ex-presidente Jair Bolsonaro em outubro de 2023 — Foto: Reuters/Ueslei Marcelino
- Militares da ativa pressionaram colegas contrários ao golpe para tentar fazê-los aderir ao movimento. Em uma das conversas captadas pela PF, o general Braga Netto, ex-ministro da Defesa, chegou a chamar o comandante do Exército, general Freire Gomes, de "cagão".
- Bolsonaro convocou uma reunião em julho de 2022 com a alta cúpula do governo, incluindo o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, para discutir estratégias que assegurassem a sua vitória nas eleições. Na ocasião, o general Augusto Heleno, que chefiava o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), defendeu que, se tivesse que "virar a mesa", que fosse "antes das eleições". A PF encontrou um vídeo da reunião em um computador apreendido na casa de Mauro Cid.
- Em dezembro de 2022, o então chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército, general Estevam Cals Theóphilo Gaspar de Oliveira, se reuniu com Bolsonaro no Palácio da Alvorada e disse que colocaria as tropas especiais nas ruas se ele assinasse a minuta do golpe.
- O grupo agia em seis núcleos para organizar uma tentativa de golpe de Estado. Entenda aqui como, segundo a PF, eles estavam articulados.
- A organização tinha cinco eixos de atuação: 1 - ataques virtuais a opositores; 2 - ataques às instituições (STF e TSE) e ao sistema eleitoral; 3 - tentativa de golpe de estado; 4 - ataques às vacinas contra a Covid-19; e 5 - uso da estrutura do estado para obter vantagens, como desvios de bens, a exemplo do caso das joias.
- Pessoas muito próximas a Bolsonaro, como Mauro Cid, ajudaram a articular e financiar os atos golpistas que levaram à invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro. Ele deu orientações e chegou a receber de um major do Exército pedido de R$ 100 mil para ajudar na organização dos atos em Brasília.
- Em outra frente, o PL, partido de Bolsonaro, foi usado para financiar narrativas que atacavam as urnas eletrônicas. O ápice dessa estratégia foi a apresentação de um estudo questionando o resultado da eleição.
- Na sede da legenda, os policiais encontraram um documento com argumentos para decretação do estado de sítio. O advogado Fábio Wajngarten, que representa Bolsonaro, disse que o "padrão do conteúdo não condiz com as tradicionais e reconhecidas falas e frases do presidente". Afirmou ainda que "não tem limite a vontade de tentar trazer o Presidente Jair Bolsonaro para um cenário político que ele jamais concordou".