Política

“Dinastia deixou a cidade sem água por mais de 30 anos”, dispara Tião da Zaeli sobre legado dos Campos em Várzea Grande

O atual vice-prefeito Sebastião Gonçalves, o Tião da Zaeli (PL), foi categórico ao apontar a responsabilidade das gestões anteriores

DA REPORTAGEM 14/06/2025
“Dinastia deixou a cidade sem água por mais de 30 anos”, dispara Tião da Zaeli sobre legado dos Campos em Várzea Grande
Tião: “A população já sofreu demais. É hora de superar o passado e buscar soluções reais. Chega de promessas” | Capital Noticias

Por mais de meio século, o destino político de Várzea Grande esteve sob o domínio da família Campos, cuja dinastia começou com Júlio Domingos de Campos (Fiote) e se perpetuou com filhos e primos no comando da Prefeitura e em cargos estaduais.

A família chegou a transformar Várzea Grande em um verdadeiro reduto eleitoral, mas, segundo críticos, deixou um legado de omissão em relação a problemas básicos da população, como o abastecimento de água.

O atual vice-prefeito Sebastião Gonçalves, o Tião da Zaeli (PL), empresário do setor alimentício e imobiliário, natural de Minas Gerais, foi categórico ao apontar a responsabilidade das gestões anteriores pelo drama hídrico da cidade. Em entrevista - na semana que passou - para a TV Record de Cuiabá, Tião lamentou as décadas de promessas não cumpridas:

“Eu acredito em tudo, Várzea Grande. Até porque nós temos aí um histórico político que é uma dinastia, vamos dizer assim, mandou por décadas. Porque esse grupo deixou a cidade sem água durante mais de 30 anos. Se eles tivessem interesse, teria resolvido, porque o rio passa dentro da cidade. Mas vamos olhar para frente e se eles quiserem colaborar, sejam bem-vindos, mas por favor, não atrapalhem, porque é um sofrimento da população”, afirmou.

Veja as promessas sobre a questão hídrica em VG sob a dinastia Campos

1960 — Prefeito Júlio Domingos de Campos (Fiote)

Primeiros planos de captação de água no Rio Cuiabá (não executados).

1976-1983 — Prefeito Júlio Campos

Projeto: Ampliação e Modernização do Sistema de Abastecimento

  • Nova estação de captação no Rio Cuiabá (parcialmente construída e desativada).
  • Substituição de redes antigas no centro histórico.
  • Meta de 100% de cobertura até 1982 (não alcançada).

1997-2004 — Prefeito Jaime Campos(2º mandato)

Programa: Água Para Todos

  • Promessa de universalização e fim do rodízio.
  • Prevista construção de reservatórios (não saiu do papel).
  • Ampliada rede em pontos isolados; bairros periféricos seguiram no rodízio.

2009-2012 — Prefeito Jaime Campos (2º mandato)

Plano Diretor do DAE

  • Promessa: gestão técnica, redução de perdas em 30%.
  • Plano elaborado, mas obras estruturantes não iniciadas.
  • Perdas na rede seguiram acima de 50%.

2015-2020 — Prefeita Lucimar Sacre de Campos

Projeto: Modernização da Captação e Ampliação de Rede

  • Promessa: reduzir rodízio com parcerias privadas.
  • Resultados: poucas obras efetivas; rodízio permaneceu.
  • Parcerias não resultaram em modernização efetiva.

De acordo com o Departamento de Água e Esgoto de Várzea Grande(DAE/VG), o impacto foi comum em todas as gestões, pois houve rodízio crônico no fornecimento de água para os bairros periféricos: Manga, São Mateus, Parque do Lago, Parque Sabiá e São Simão, além de perdas de água acima de 50% até hoje e de promessas de captação de recursos federais fracassadas

Além disso, ao longo desses mandatos, projetos de modernização do Departamento de Água e Esgoto (DAE) foram anunciados, mas não executados com efetividade.

                    Veja os projetos dos exs-prefeitos

Júlio Campos

Projeto: Ampliação e Modernização do Sistema de Abastecimento de Água – Gestão Júlio Campos (1976-1983)

Objetivo declarado:

  • Construção de nova estação de captação no Rio Cuiabá
  • Substituição de redes antigas no centro e nos bairros mais antigos

Promessa:

  • Cobertura de 100% da área urbana de Várzea Grande até 1982

Status:

  • Parte da estação chegou a ser construída, mas não foi ativada na totalidade.
  • Substituição de rede limitada ao centro histórico e áreas comerciais.

Impacto:

  • Mínima melhoria no fornecimento; bairros periféricos seguiram desassistidos.

Jaime Campos (1º mandato)

Projeto: Programa Emergencial de Combate ao Desabastecimento – Diversas gestões (anos 1980 a 2000)

Objetivo declarado:

  • Manutenção emergencial da rede e perfuração de poços artesianos em áreas críticas

Promessa:

  • Reduzir as falhas no fornecimento no curto prazo

Status:

  • Poços perfurados em alguns bairros como Jardim Glória e Manga, mas com baixo rendimento e sem manutenção regular.

Impacto:

  • Solução temporária e insustentável, que não resolveu o problema estrutural.

Jaime Campos (2º mandato)

Projeto: Programa “Água Para Todos” – Gestão Jaime Campos (1997-2004)

Objetivo declarado:

  • Universalização do acesso à água tratada
  • Construção de reservatórios e reforço da captação do Rio Cuiabá

Promessa:

  • Erradicar o rodízio de abastecimento até o final do mandato

Status:

  • Reservatórios previstos não saíram do papel.
  • Foram feitas ampliações pontuais na rede, sem impacto na universalização.

Impacto:

  • População continuou a depender de rodízio e caminhões-pipa em bairros como São Mateus e Manga.

Jaime Campos (3º mandato)

Projeto: Plano Diretor do DAE – Gestão Jaime Campos (2009-2012)

Objetivo declarado:

  • Diagnóstico completo do sistema e planejamento para investimentos até 2020
  • Parceria com o governo estadual para obras estruturantes

Promessa:

  • Implantar gestão técnica e reduzir perdas na rede em 30%

Status:

  • Plano chegou a ser elaborado, mas poucas das obras foram iniciadas.
  • A parceria com o governo estadual não se consolidou.

Impacto:

  • Índices de perda permaneceram altos (cerca de 50% em 2012).

Promessa da família(irmãos, esposa e primos)

Projeto: Modernização do DAE com Recursos Federais – Tentativa durante diversas gestões dos Campos

Objetivo declarado:

  • Obtenção de financiamento federal para reestruturação do DAE

Promessa:

  • Modernizar equipamentos, redes e estações com verbas de Brasília

Status:

  • Recursos não captados ou projetos rejeitados por falta de documentação e planejamento técnico adequado.

Impacto:

  • O sistema manteve equipamentos obsoletos e rede precária.

Ao longo das décadas, conforme informações repassadas ao Página 12 pelo DAE/VG, as gestões da dinastia Campos anunciaram uma série de planos e projetos com foco no abastecimento de água, mas a maioria ficou restrita ao papel, foi executada parcialmente ou fracassou na obtenção de recursos e na continuidade administrativa. O resultado: o problema estrutural se perpetuou e se agravou ao longo dos anos.

                                        Veja os dados atuais da crise da água em VG

Percentual de cobertura de água:

  • Várzea Grande (2024): cerca de 60% da população com abastecimento regular.
  • Rondonópolis: 95% da população atendida.
  • Sinop: 90% da população atendida.

Perdas na rede de distribuição:

  • Várzea Grande: até 50% de perda por vazamentos e redes antigas.
  • Média nacional: cerca de 35%.

                       Veja os bairros mais afetados ontem e hoje históricos(anos 1980-2000):

  • Jardim Eldorado
  • Mapim
  • São Mateus
  • Manga
  • Jardim Glória
  • Parque do Lago

Atuais (2024):

  • Parque do Lago
  • Parque Sabiá
  • São Simão
  • Manga
  • Ipiranga
  • Parque das Nações
  • Cristo Rei (partes altas)

Cenário atual

  • Cobertura de água: 60% da área urbana
  • Perdas na rede: 50% (acima da média nacional de 35%)
  • Regiões inteiras ainda dependem de caminhões-pipa ou poços artesianos.

                                                        Veja a atual situação do DAE

O DAE possui rede defasada, com equipamentos obsoletos, dificuldade de captação no Rio Cuiabá por falta de estações modernas e baixa capacidade de reservação. Muitos bairros recebem água em regime de rodízio, outros dependem de caminhões-pipa em períodos de estiagem.

O Rio Cuiabá, que corta o município, poderia garantir abundância de água para toda a cidade, mas a ausência de investimentos estruturantes perpetuou o problema. Diferentemente de cidades como Rondonópolis e Sinop, que modernizaram seus sistemas com parcerias e obras efetivas, Várzea Grande ficou presa ao atraso.

                                                         O apelo do vice-prefeito

Agora, com a concessão do DAE à iniciativa privada em pauta, Tião da Zaeli defende que as antigas forças políticas deixem a nova gestão trabalhar.

“A população já sofreu demais. É hora de superar o passado e buscar soluções reais. Chega de promessas”, concluiu o vice-prefeito.

O discurso de Tião da Zaeli expõe um mal-estar silencioso que há muito tempo incomoda os moradores de Várzea Grande: a sensação de que o poder ficou nas mãos de poucos, e as prioridades ficaram em segundo plano.

Ao atacar o legado da dinastia Campos, Tião não apenas faz um aceno à população sedenta por mudança — como também abre um novo capítulo na disputa pelo futuro político da cidade.