Política
Editorial: Janaína na contramão
O projeto da deputada enfrenta resistência significativa na construção de palanques e alianças competitivas em Mato Grosso
A deputada estadual Janaína Riva (MDB) tenta consolidar seu nome como pré-candidata ao Senado Federal em 2026, mas, segundo avaliações de bastidores e leituras do cenário político estadual, o caminho até a viabilidade eleitoral apresenta desafios expressivos.
A percepção predominante entre lideranças partidárias, consultores e observadores ouvidos ao longo dos últimos meses pelo Página 12 é que o projeto enfrenta resistência significativa na construção de palanques e alianças competitivas em Mato Grosso.
Entre os fatores citados está o impacto do sobrenome Riva em disputas majoritárias: em eleições estaduais de maior exposição, o histórico familiar — especialmente pela figura de José Riva, protagonista de episódios nadas republicanos e amplamente divulgados nas últimas décadas — costuma retornar à memória do eleitorado, criando barreiras a um reposicionamento individual da parlamentar.
Soma-se a isso a conjuntura do senador Wellington Fagundes (PL), seu sogro e pré-candidato ao Governo, que vive momento de desgaste público, com perda de apoio em segmentos tradicionais da direita e dificuldades de articulação dentro da própria base; se esse quadro não se alterar, tende a limitar a ampliação de espaços políticos estratégicos para Janaína em uma eventual chapa.
No campo interno, o MDB aparece fragmentado: embora a deputada presida a legenda, lideranças relevantes mantêm agendas próprias e atuação autônoma, o que fragiliza a formação de uma frente coesa para uma senatória competitiva.
No plano municipal, prefeitos e vereadores — peça-chave em disputas majoritárias — estão majoritariamente alinhados ao governador Mauro Mendes e ao seu grupo político; sem essa engrenagem territorial, a capilaridade de uma candidatura ao Senado tende a ser insuficiente.
Por fim, grupos sociais e analistas apontam ruído de coerência no discurso público da deputada sobre pautas de proteção às mulheres, citando como exemplo o processo judicial em que Carlinhos Bezerra, filho do ex-governador e presidente de honra do MDB, Carlos Bezerra, responde por duas mortes ocorridas em um único episódio; a ausência, até o momento, de posicionamento mais explícito da parlamentar sobre o tema gerou críticas pontuais entre movimentos ligados aos direitos das mulheres, o que pode gerar desgaste junto a parte do eleitorado sensível à pauta.
Diante desse conjunto — composição partidária dispersa, base municipal restrita, desgaste familiar remanescente e cobranças por coerência — a leitura deste editorial é que a pré-candidatura de Janaína Riva parte, hoje, de um cenário de grande dificuldade e dependerá de rearranjos políticos relevantes para ganhar competitividade ao longo do próximo ano.
A política, contudo, é dinâmica, e mudanças no tabuleiro estadual podem alterar esse quadro até o período eleitoral. O Página 12 seguirá acompanhando.