Política
Crise entre Mauro e Eduardo Bolsonaro abre guerra na direita e ameaça Senado, Paiaguás e alianças em Cuiabá
Racha expõe disputa por hegemonia no campo conservador, isola Mauro Mendes, enfraquece Pivetta, movimenta o PL para lançar Carlos Bolsonaro ao Senado e pode reposicionar Abílio Brunini e José Medeiros em 2026
A crise entre o governador Mauro Mendes (União Brasil) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) deixou de ser um embate isolado e se transformou no episódio mais explosivo da direita mato-grossense desde 2018.
O confronto, iniciado após ataques de Eduardo ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas — aliado político central de Mauro — evoluiu para uma disputa aberta por liderança dentro do campo conservador e já provoca impactos diretos nas articulações para o Senado, para o governo e até nas alianças municipais em Cuiabá.
Ao reagir de forma contundente às declarações de Eduardo, chamando-o de “louco” e afirmando que o deputado “fala bobagem”, Mauro rompeu uma barreira simbólica da política estadual: enfrentou publicamente um membro da família Bolsonaro, núcleo emocional e identitário da direita em Mato Grosso. A resposta de Eduardo, multiplicada pela militância digital, ampliou o conflito e colocou em xeque a capacidade do governador de manter unidade no bloco conservador que o sustentou nos últimos anos.
Nos bastidores do PL, a leitura é de que o desgaste abre espaço para uma reaproximação entre o partido e figuras históricas do bolsonarismo em Mato Grosso, como o senador José Medeiros — um dos nomes favoritos de Bolsonaro para disputar o Senado em 2026 — e o prefeito de Cuiabá, Abílio Brunini, cuja relação com Mauro Mendes já vinha sendo marcada por desconfianças. Com o racha exposto, a tendência é que ambos se reposicionem politicamente, priorizando lealdade ao núcleo bolsonarista em detrimento da interlocução com o Palácio Paiaguás.
O cenário se torna ainda mais complexo diante de uma articulação crescente dentro do PL para lançar Carlos Bolsonaro como candidato ao Senado por Mato Grosso. Como o estado terá duas vagas disponíveis em 2026, a presença de um dos filhos de Jair Bolsonaro no pleito altera inteiramente o equilíbrio de forças. A eventual candidatura de Carlos modificaria o cálculo eleitoral do partido, fortalecendo a ala raiz e reduzindo a margem de manobra para construções pragmáticas com Mauro Mendes.
Esse movimento também ganha força pelo fato de que Jair Bolsonaro, mesmo preso, continua sendo o principal fiador simbólico do campo conservador. Caso ele opte por apoiar Eduardo na queda de braço com o governador — algo considerado provável por aliados — o isolamento de Mauro dentro da direita mato-grossense se intensificaria, atingindo diretamente seu projeto de disputar o Senado.
Quem mais sente o impacto da crise é o vice-governador Otaviano Pivetta (Republicanos), pré-candidato ao governo. Pivetta vinha construindo uma ponte cuidadosa entre a direita institucional representada por Mauro e setores importantes do bolsonarismo local. Com o conflito, essa ponte desmorona. O que antes funcionava como “selo bolsonarista” — condição fundamental para dialogar com a base conservadora de MT — perde validade, obrigando Pivetta a repensar estratégias e a buscar novas formas de compensar o distanciamento do PL.
A crise, portanto, não é episódica. É estrutural. Ela inaugura um novo ciclo em que Mauro Mendes deixa de operar como líder unificado da direita mato-grossense e passa a atuar em um ambiente fragmentado, com disputas internas, resistência ideológica e perda de aliados estratégicos. Enquanto isso, o bolsonarismo reorganiza suas peças mirando 2026, com Eduardo Bolsonaro confrontando diretamente o governador, Carlos Bolsonaro sendo cotado para o Senado e Jair Bolsonaro mantendo influência mesmo sob restrições.
No fim, ninguém sai fortalecido. O que se instala em Mato Grosso é uma guerra interna que ameaça o Senado, o Palácio Paiaguás e as alianças em Cuiabá — reconfigurando completamente o mapa político do estado no momento em que começa a contagem regressiva para as eleições.