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Espiões russos na Europa: as ações secretas de 'sabotagem, subversão e assassinato' da Unidade 29155
Novas investigações revelaram ligações entre agentes de inteligência russos e eventos fatais em outros países europeus
Os serviços de inteligência europeus acreditam que a missão de uma divisão do GRU conhecida como Unidade 29155 é realizar operações de sabotagem, subversão e assassinato.
Após o envenenamento de Sergei Skripal, um ex-oficial russo que trabalhou como agente duplo da inteligência britânica, e sua filha Yulia, na cidade britânica de Salisbury em 2018, os serviços de segurança em toda a Europa têm trabalhado metodicamente para rastrear suas ações, seguindo os movimentos de aproximadamente 20 agentes que realizam missões clandestinas no exterior.
Isso lançou nova luz sobre outros eventos, como o envenenamento de um traficante de armas búlgaro em 2015, bem como a explosão na República Tcheca.
A unidade também esteve ligada a uma tentativa de golpe de 2016 em Montenegro com o objetivo de impedir o país de se aproximar da aliança militar ocidental Otan. Os supostos agentes foram julgados e condenados (à revelia) pelos tribunais nacionais.
Os serviços de segurança franceses estabeleceram que a unidade usava uma região dos Alpes como base avançada de operações para viajar a outros países.
A unidade também teria alguma conexão com a oferta de recompensas ao Talebã por ataques às forças dos EUA no Afeganistão, embora na semana passada autoridades dos EUA tenham dito haver poucos indícios (confiança de baixa a moderada) sobre essa relação.

O que está por trás dessas operações secretas?
A maioria dos eventos descobertos até agora aconteceu depois de 2014. Naquele ano, especialmente com a crise da Ucrânia, parece ser o ponto em que o Kremlin começou a se ver em desacordo com o Ocidente, em um conflito que não acontece de forma aberta como em uma guerra tradicional, mas sim com métodos que ficam em uma "área cinzenta".
Essas atividades variam desde novas operações de desinformação e hacking na internet visando o Ocidente (incluindo a ação para influenciar nas eleições nos EUA de 2016), realizadas por algumas unidades do GRU, até a criação da Unidade 29155 para realizar ações secretas mais tradicionais.
Alguns se perguntam se a descoberta por agências de inteligência ocidental do que aconteceu na República Tcheca sugere um descuido no trabalho da unidade. Um exemplo disso é a maneira como dois homens usaram as mesmas identidades secretas (Petrov e Boshirov) para aquela operação e para a de Salisbury.
Mesmo assim, foram necessários quase sete anos para que se descobrisse o caso tcheco. E só porque uma equipe agiu de forma desleixada uma vez, isso não significa que ela não possa provocar danos graves. Na República Tcheca, duas pessoas morreram; e em Salisbury, uma moradora local foi morta pelo Novichok (o agente nervoso usado no caso Skripal).
E ainda pode haver mais casos para se descobrir. Existem outros eventos, incluindo mortes e explosões, que podem ser reavaliados à luz de novas evidências e vinculados a essa unidade de inteligência russa à medida que os padrões de viagem de seus membros são analisados.
O que tem sido crucial é que, desde Salisbury, mais e mais países estão dispostos a trabalhar juntos para compartilhar informações e confrontar Moscou, cada vez mais indignados com o que consideram táticas agressivas da Rússia.
Mas essas revelações servirão para deter a Rússia e o GRU?
Isso pode ser difícil, dada a forma como o Kremlin vê o mundo. Moscou nega todas as alegações, dizendo que são absurdas e exageradas, e não parece estar preocupado com o constrangimento que isso pode trazer.
Mas a esperança é que expor os espiões e suas operações dificulte novas missões. Por exemplo, é improvável que os dois homens acusados de estarem envolvidos em Salisbury e na explosão tcheca consigam viajar para fora da Rússia, já que suas identidades foram divulgadas.
No entanto, outros podem ser treinados para ocupar seu lugar e poucos acreditam que Moscou vai parar de usar espiões.