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O que é infecção polimicrobiana das vias respiratórias, que acomete papa Francisco
O papa, que está com 88 anos, foi internado no hospital Gemelli, em Roma, na sexta-feira (14) para passar por tratamento e exames de bronquite
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O Vaticano informou nesta segunda-feira (17) que o papa Francisco foi diagnosticado com uma infecção polimicrobiana nas vias respiratórias, e que sua condição clínica é "complexa".
O papa, que está com 88 anos, foi internado no hospital Gemelli, em Roma, na sexta-feira (14) para passar por tratamento e exames de bronquite.
De acordo com a Santa Sé, o tratamento do pontífice foi ajustado após o diagnóstico, e não há previsão de alta. Ele permanecerá internado pelo tempo que for necessário.
"Os resultados dos exames realizados nos últimos dias, incluindo os de hoje, indicaram uma infecção polimicrobiana no trato respiratório, o que levou a uma nova alteração no tratamento. Todos os testes realizados até o momento apontam para um quadro clínico complexo, que exigirá internação hospitalar adequada", informou o boletim.
Antes de sua internação na semana passada, o papa teve sintomas de bronquite por vários dias e não conseguiu ler um discurso em um de seus compromissos.
O porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, disse a repórteres que o pontífice está de bom humor.
Uma nova atualização sobre a situação do papa será divulgada ainda nesta segunda-feira, acrescentou Bruni.
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O termo utilizado para o diagnóstico indica que a infecção é causada por mais de um agente microbiano, como vírus, fungos ou bactérias.
"A infecção polimicrobiana pode ocorrer em diversas partes do corpo, incluindo as vias aéreas. Trata-se de uma co-infecção, ou seja, a presença de múltiplos micro-organismos causadores de infecção", explica Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
No caso do pontífice, não foi divulgado quais agentes estão causando o quadro.
O diagnóstico prévio de bronquite, embora não forneça detalhes específicos sobre a origem da condição, pode contribuir para a piora geral da imunidade, conforme explica explica Ricardo de Amorim Corrêa, presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).
"Isso ocorre porque, após o início da inflamação [bronquite], o ambiente nos brônquios se torna propício à invasão de germes, especialmente quando o dano causado por um vírus favorece o crescimento de bactérias. A bronquite aguda, portanto, pode ser causada tanto por micróbios quanto por fatores não infecciosos, e a infecção bacteriana pode surgir como uma complicação."
Segundo Corrêa, os idosos são consideravelmente mais suscetíveis ao quadro devido à diminuição natural da resposta imunológica, tanto no sistema imunológico geral quanto na resposta local nos brônquios.
O fato de o Papa Francisco não ter parte do pulmão, devido a uma complicação na juventude, torna o quadro mais delicado.
"A gravidade de quadros inflamatórios infecciosos depende da extensão do comprometimento pulmonar. Isso pode dificultar a respiração, pois a inflamação nos brônquios [tubos que levam o ar para os pulmões] pode reduzir o fluxo de ar para os pulmões. O paciente precisa ter uma boa reserva ventilatória, ou seja, capacidade de respirar adequadamente, para lidar com essa maior demanda e limitação causadas pela inflamação"
"Se o paciente já tem parte dos brônquios comprometida, o problema pode ser ainda mais grave. Por exemplo, ele pode ter dificuldade em absorver oxigênio adequadamente, devido à inflamação, e, em alguns casos, pode ser necessário o uso de oxigênio suplementar. Se a condição piorar, pode ser preciso recorrer à ventilação mecânica", explica Corrêa.
Para diagnosticar uma infecção polimicrobiana, diversos métodos podem ser utilizados. O mais comum é a coleta de amostras de escarro, uma vez que a inflamação nos brônquios favorece o aumento da secreção mucosa, cuja função é eliminar o agente agressor.
"Essa secreção geralmente contém células inflamatórias, o que a torna amarelada ou esverdeada. A cultura dessa secreção permite identificar os agentes responsáveis pela infecção", aponta o presidente da SBPT.
Mas a identificação de vírus tende a ser complicada, diz o especialista.
"Por isso utiliza-se o método PCR [como foi feito para covid-19 e influenza], que permite identificar material genético do vírus. No entanto, a cultura viral é muito lenta e os meios para realizá-la são limitados."
O tratamento, aponta o especialista, varia conforme o tipo de bactéria envolvida e sua sensibilidade aos antibióticos. Em infecções causadas por uma única bactéria, pode-se utilizar um antibiótico específico.
No entanto, quando há múltiplos germes presentes, é necessário recorrer a antibióticos de espectro mais amplo, capazes de combater diferentes tipos de bactérias. Se houver a presença de vírus, o tratamento pode incluir antivirais, além dos antibióticos.