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Donald Trump enfrenta dilema entre tarifas e o mercado financeiro
O presidente dos EUA sinalizou que pode flexibilizar tarifas depois das reações negativas da bolsa americana e do setor produtivo

Nos últimos dias, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu sinais de que as novas tarifas sobre importação previstas para o dia 2 de abril, que ele batizou como “Dia da Libertação”, podem ser mais suaves do que o previsto.
O presidente americano afirmou que pode ser “gentil” e “mais brando do que recíproco”, porque se for muito recíproco, “será muito duro para as pessoas”.
As tarifas recíprocas que devem ser anunciadas no próximo dia 2 visam igualar as tarifas que os EUA cobram sobre produtos que entram no país às taxas cobradas por parceiros comerciais sobre produtos importados americanos.
A política tarifária é defendida por Trump para fortalecer a indústria nacional e reduzir o déficit da balança comercial. O republicano não quer mais ver saldos negativos entre as exportações e importações dos Estados Unidos e prometeu transformar o país de um comprador a vendedor no comércio global.
Até o momento, foram anunciadas tarifas de: 25% sobre todo aço e alumínio importado; 25% sobre importações do Canadá e México; e 20% sobre a China. Nesta semana, ainda, Trump disse que qualquer país que comprar petróleo ou gás da Venezuela enfrentará uma tarifa de 25% ao negociar com os EUA.
E nesta quarta-feira (26), o presidente americano anunciou tarifas de 25% sobre todos os carros importados ao país.
Mas muitas dessas medidas passaram por prorrogações, algumas incluem exceções e outras têm um futuro incerto.
Essa política errática sobre as tarifas tem estressado os investidores e levado índices acionários a despencar nas últimas semanas. Também levanta críticas entre membros da base aliada de Trump e incomoda CEOs.
Com a reação negativa do mercado financeiro e do setor produtivo, nesta semana Trump sinalizou que pode “aliviar as tarifas a muitos países” e disse que se concentraria nos “15 sujos”, grupo de países que têm superávit comercial na balança com os EUA.
A sinalização de flexibilização chegou a levar dois dos principais índices do mercado americano, o S&P 500 e o Nasdaq, à máxima em duas semanas — ainda que ambos apresentem desempenho negativo no acumulado do ano até terça-feira (25).
Mas logo depois de indicar que poderia suavizar as tarifas, Trump disse que também não quer “muitas isenções” e afirmou que pode tarifar os setores automotivo e farmacêutico.
Conforme observa a analista de economia da CNN, Elisabeth Buchwald, as tarifas desta semana podem ser uma estratégia de marketing de Trump: preparar os americanos para o pior e entregar algo que não seja tão difícil de engolir.
Com tanto vaivém, corretores dizem que preferem não fazer grandes alocações na bolsa americana até o dia 2 de abril.
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Para além da instabilidade, as tarifas devem encarecer insumos, produtos e pressionar a inflação.
Seus efeitos já aparecem nos últimos dados de confiança do consumidor americano, que em março caiu para o pior nível em quatro anos. A expectativa sobre renda e o trabalho também está na mínima em 12 anos.
Em um cenário imprevisível, consumidores tendem a reduzir os gastos, empresas deixam de investir e alimentam ainda mais os temores de recessão.
Uma das principais plataformas de previsões de mercado americana, a Kalshi, já precifica 40% de chance de uma recessão na economia americana em 2026.
Analistas afirmam que o mercado é um dos poucos agentes a quem Donald Trump dá ouvidos. Os próximos dias dirão se Wall Street é de fato capaz de frear os anseios políticos do presidente americano.