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A última mensagem do papa Francisco: 'A paz é possível'

No texto, Francisco lembrou de diversos conflitos que acontecem pelo mundo e destacou que "a paz é possível"

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM BBC 21/04/2025
A última mensagem do papa Francisco: 'A paz é possível'
O papa Francisco destacou vários conflitos espalhados pelo mundo em sua tradicional mensagem de Páscoa, lida por um assistente | REUTERS

O Vaticano anunciou nesta segunda-feira (21/04) a morte do papa Francisco.

No domingo (20/40), o pontífice participou das celebrações de Páscoa na Praça de São Pedro.

Ele disse algumas breves frases, mas teve sua tradicional mensagem de Páscoa lida por um clérigo assistente na sacada da Basílica de São Pedro.

No texto, Francisco lembrou de diversos conflitos que acontecem pelo mundo e destacou que "a paz é possível".

Ao lembrar da Páscoa — data que marca a ressurreição de Jesus Cristo — o papa disse que "o amor triunfou sobre o ódio, a luz sobre as trevas e a verdade sobre a falsidade".

"O perdão triunfou sobre a vingança. O mal não desapareceu da história; permanecerá até o fim, mas não tem mais predomínio; não tem mais poder sobre aqueles que aceitam a graça deste dia."

Num outro trecho, o papa observou "a grande sede de morte, de matar" que "testemunhamos todos os dias nos muitos conflitos que assolam as diferentes partes do nosso mundo".

"Quanta violência vemos, muitas vezes até mesmo dentro das famílias, dirigida contra mulheres e crianças! Quanto desprezo é, por vezes, despertado para com os vulneráveis, os marginalizados e os migrantes."

"Neste dia, gostaria que todos nós renovássemos a esperança e renovássemos a nossa confiança nos outros, incluindo aqueles que são diferentes de nós, ou que vêm de terras distantes, trazendo costumes, modos de vida e ideias desconhecidos! Pois todos somos filhos de Deus."

"Gostaria que renovássemos a nossa esperança de que a paz é possível", escreveu o papa.

Soluções para conflitos espalhados pelo mundo

O papa também expressou "proximidade aos sofrimentos dos cristãos na Palestina e em Israel, e a todo o povo israelense e palestino".

"O crescente clima de antissemitismo em todo o mundo é preocupante. Mas, ao mesmo tempo, penso no povo de Gaza, e na sua comunidade cristã em particular, onde o terrível conflito continua a causar morte e destruição e a criar uma situação humanitária dramática e deplorável."

"Apelo às partes em conflito: declarem um cessar-fogo, libertem os reféns e venham em auxílio de um povo faminto que aspira a um futuro de paz", pediu Francisco.

O papa também pediu orações "pelas comunidades cristãs no Líbano e na Síria, que atualmente passam por uma delicada transição em sua história".

"Elas aspiram à estabilidade e à participação na vida de suas respectivas nações. Exorto toda a Igreja a manter os cristãos do amado Oriente Médio em seus pensamentos e orações."

"Penso também, em particular, no povo do Iêmen, que vive uma das crises humanitárias mais graves e prolongadas do mundo devido à guerra, e convido todos a encontrarem soluções por meio de um diálogo construtivo."

Francisco também pediu que "Cristo ressuscitado conceda à Ucrânia, devastada pela guerra, o dom pascal da paz e incentive todas as partes envolvidas a prosseguirem seus esforços visando a alcançar uma paz justa e duradoura".

Ele ainda lembrou dos conflitos no sul do Cáucaso. "Rezemos para que um acordo de paz definitivo entre a Armênia e o Azerbaijão seja assinado e implementado em breve, levando à tão esperada reconciliação na região", comentou ele.

"Que a luz da Páscoa inspire esforços para promover a harmonia nos Bálcãs Ocidentais e apoie os líderes políticos em seus esforços para aliviar tensões e crises e, juntamente com seus países parceiros na região, rejeitar ações perigosas e desestabilizadoras."

Francisco também mencionou a África, especialmente na República Democrática do Congo, no Sudão e no Sudão do Sul.

"Que Ele [Jesus Cristo] sustente aqueles que sofrem com as tensões no Sahel, no Chifre da África e na região dos Grandes Lagos, bem como os cristãos que, em muitos lugares, não podem professar livremente sua fé."

Papa Francisco

Crédito,Reuters

Legenda da foto,O papa criticou a atual corrida ao rearmamento

Pedidos por liberdade e desarmamento

O papa reforçou que "não pode haver paz sem liberdade religiosa, liberdade de pensamento, liberdade de expressão e respeito pela opinião dos outros".

"Nem a paz é possível sem um verdadeiro desarmamento! A exigência de que cada povo zele pela sua própria defesa não deve transformar-se numa corrida ao rearmamento."

"Durante este tempo, não deixemos de ajudar o povo de Mianmar, atormentado por longos anos de conflito armado, que, com coragem e paciência, lida com as consequências do devastador terremoto de Sagaing, que causou a morte de milhares de pessoas e grande sofrimento para os muitos sobreviventes, incluindo órfãos e idosos", escreveu ele.

"Rezamos pelas vítimas e seus entes queridos e agradecemos de coração a todos os generosos voluntários que realizam as operações de socorro. O anúncio de um cessar-fogo por vários atores no país é um sinal de esperança para todo o Mianmar."

Francisco ainda apelou "a todos aqueles que ocupam cargos de responsabilidade política em nosso mundo para que não cedam à lógica do medo, que só leva ao isolamento dos outros, mas que utilizem os recursos disponíveis para ajudar os necessitados, combater a fome e incentivar iniciativas que promovam o desenvolvimento".

"Estas são as 'armas' da paz: armas que constroem o futuro, em vez de semear a morte", disse ele

"Que o princípio da humanidade nunca deixe de ser a marca registrada de nossas ações cotidianas. Diante da crueldade dos conflitos que envolvem civis indefesos e atacam escolas, hospitais e agentes humanitários, não podemos nos dar ao luxo de esquecer que não são alvos que são atingidos, mas pessoas, cada uma delas dotada de alma e dignidade humana."

Por fim, Francisco sugeriu que a Páscoa seja "uma ocasião propícia para a libertação dos prisioneiros de guerra e dos presos políticos".