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Paquistão e Índia concordam em cessar-fogo após ataques; o que se sabe
Depois de trocarem mísseis neste sábado (10), Índia e Paquistão concordaram em cessar imediatamente as hostilidades

Depois de trocarem mísseis neste sábado (10/5), Índia e Paquistão concordaram em cessar imediatamente as hostilidades, segundo anunciou nesta manhã o vice-primeiro-ministro do Paquistão, Ishaq Dar.
Ele afirmou que o país "sempre buscou a paz e a segurança na região, sem comprometer sua soberania e integridade territorial".
Pouco antes, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já havia antecipado o anúncio em uma publicação na rede Truth Social. Ele disse que o acordo foi alcançado após uma "longa noite de negociações mediadas pelos EUA" e parabenizou os dois países "por usarem o bom senso e grande inteligência".
O que se sabe sobre os ataques
Militares do Paquistão afirmam que a Índia voltou a atacar o país na madrugada de sábado (10/5), lançando mísseis contra três de suas bases aéreas.
Em um comunicado transmitido pela TV estatal, o tenente-general Ahmed Sharif Chaudhry declarou que o sistema de defesa aérea do país conseguiu interceptar a maioria dos mísseis indianos, mas que três conseguiram passar e atingiram as bases, incluindo a de Nur Khan, em Rawalpindi, onde fica o quartel-general militar paquistanês, a cerca de 10 km da capital, Islamabad.
Chaudhry alertou que a Índia deveria "aguardar pela nossa resposta". Segundo o departamento de relações públicas do Exército paquistanês, essa resposta já está em curso por meio de uma contra-ofensiva batizada de "Operação Banyan Marsus".
Três horas após o ataque paquistanês, a Índia afirmou que o Paquistão usou mísseis de alta velocidade para atingir suas bases aéreas. A declaração foi feita pela coronel Sofiya Qureshi, do Exército Indiano, em uma entrevista coletiva. A acusação ocorre poucas horas depois de o próprio Paquistão ter afirmado que foi alvo de mísseis indianos em três de suas bases militares.
No entanto, tanto a comandante da Força Aérea Indiana, Vyomika Singh, quanto o secretário de Relações Exteriores Vikram Misri negaram que os ataques do Paquistão tenham causado qualquer dano à infraestrutura militar da Índia.
Desde as primeiras horas deste sábado, foram registrados diversos relatos de explosões ao longo da Linha de Controle — a fronteira de fato entre Índia e Paquistão na região da Caxemira.
Repórteres da BBC ouviram detonações nas cidades de Srinagar e Jammu, sob administração indiana. A origem exata desses estouros ainda não foi confirmada.
Fontes locais também reportaram ruídos semelhantes em Udhampur, na Caxemira indiana, e em Pathankot, no estado de Punjab — ambos com instalações de defesa que, segundo o Paquistão, estariam entre os alvos de seus ataques.
Mais cedo, o governo paquistanês afirmou que a Índia lançou mísseis contra bases aéreas em Rawalpindi — a cerca de 10 km da capital Islamabad — além de Chakwal e Shorkot. Nova Délhi ainda não se pronunciou sobre essas acusações.
Na cidade de Rajouri, também na Caxemira administrada pela Índia, o vice-comissário distrital adjunto Raj Kumar Thapa morreu após sua residência ser atingida por bombardeios paquistaneses, de acordo com o chefe do governo local, Omar Abdullah. Ele lamentou publicamente a perda de "um servidor dedicado dos Serviços Administrativos de Jammu e Caxemira".
Além disso, autoridades informaram à BBC que pelo menos mais duas pessoas — ambas civis — morreram na cidade de Jammu.
A autoridade aeroportuária da Índia anunciou o fechamento de 32 aeroportos nas regiões norte e oeste até a manhã de 15 de maio — medida que indica preocupação com a escalada militar.
O ex-secretário de Relações Exteriores da Índia, Harsh Vardhan Shringla, declarou que o Paquistão perdeu diversas oportunidades de reduzir as hostilidades nas últimas semanas. Em entrevista ao programa Today, da BBC Radio 4, ele acusou Islamabad de agravar o conflito com mísseis de alta velocidade e ataques com drones.
"O Paquistão realmente elevou o nível de tensão", afirmou. "Agora cabe a eles recuar. Isso acabou minando a chance de se retornar a uma situação mais pacífica." Ele também advertiu que qualquer nova escalada por parte do país vizinho será respondida de forma "enérgica" pela Índia.
Já o ministro da Informação do Paquistão, Attaullah Tarar, afirmou ao canal BBC News que "o Paquistão não foi o provocador" e que agora tem "direito de responder" à agressão indiana.
Ele negou que civis tenham sido alvo dos ataques e afirmou que apenas instalações militares foram atingidas. A negativa, no entanto, contrasta com relatos de moradores da colônia Rehadi, em Jammu, na Caxemira administrada pela Índia, que relataram danos a casas e carros após um ataque ao amanhecer. Segundo os residentes, é a primeira vez que uma área civil no centro da cidade é atingida. "Houve pânico e caos. Por que o Paquistão está mirando pessoas comuns?", questionou Rakesh Gupta, morador local.
Fontes da Força Aérea Indiana relataram que o Paquistão adotou ações agressivas envolvendo múltiplos vetores de ataque, com uso de drones, armamento de longo alcance e mísseis para atingir tanto áreas civis quanto infraestrutura militar ao longo da fronteira oeste e da Linha de Controle.
O secretário de Relações Exteriores da Índia, Vikram Misri, afirmou que "ações paquistanesas têm sido provocativas e escalatórias", e que a Índia tem respondido "de forma responsável e proporcional". Segundo ele, o padrão de escalada se repetiu na manhã deste sábado.
O episódio aumenta os temores de uma guerra aberta entre duas potências nucleares. A tensão entre Índia e Paquistão na Caxemira, região montanhosa disputada há décadas, voltou a crescer após o ataque indiano de quarta-feira (7/5), que atingiu alvos no Paquistão e na Caxemira sob controle de Islamabad, deixando 31 mortos e 57 feridos, segundo autoridades paquistanesas. A Índia alegou que a operação foi uma retaliação ao atentado cometido semanas antes por militantes contra turistas indianos perto da cidade de Pahalgam, na Caxemira indiana — o Paquistão negou qualquer envolvimento.
A Caxemira permanece como um dos focos de maior instabilidade geopolítica do sul da Ásia. O território é reivindicado integralmente por ambos os países, que já travaram três guerras desde a independência e partição em 1947.

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Na ofensiva do último dia 7 de maio, a Índia alegou estar agindo em retaliação ao ataque de 22 de abril que matou pelo menos 26 pessoas, a maioria turistas, próximo à pitoresca cidade de Pahalgam, na parte Caxemira administrada pela Índia.
O país afirma ter "evidências que apontam para o claro envolvimento de terroristas externos baseados no Paquistão" no ataque. O Paquistão negou qualquer ligação com o ocorrido.
Militantes abriram fogo contra visitantes no Vale do Baisaran, uma região de pradaria muito procurada pela natureza.
Alguns dos sobreviventes disseram que homens hindus foram alvos específicos dos atiradores.
O Paquistão negou envolvimento nos ataques, mas a polícia indiana alega que dois dos quatro militantes suspeitos eram cidadãos paquistaneses.
As forças de segurança indianas ainda estão no encalço dos suspeitos. O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, chegou a dizer que o país os perseguiria "até os confins da Terra".
Desde a tragédia, tanto a Índia quanto o Paquistão vinham anunciando medidas de retaliação mútuas, incluindo o fechamento de fronteiras e a suspensão de um tratado de compartilhamento de águas fluviais. Tropas de ambos os lados também já haviam trocado tiros com armas de pequeno porte.

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Operação Sindoor
Segundo o governo indiano, os ataques aconteceram no âmbito da "operação Sindoor" e miraram a infraestrutura ligada ao terrorismo no Paquistão e na Caxemira administrada pelo Paquistão, onde ataques terroristas contra a Índia teriam sido planejados.
"Nossas ações foram focadas, ponderadas e não tiveram a intenção de escalar. Nenhuma instalação militar paquistanesa foi atacada. A Índia demonstrou considerável contenção na seleção de alvos e no método de execução", afirmou o governo indiano na ocasião por meio de um comunicado.
Um porta-voz militar paquistanês disse que Islamabad responderia "no momento e local de sua escolha".
"Todos os nossos caças estão no ar. Este é um ataque vergonhoso e covarde realizado a partir do espaço aéreo indiano", acrescentou o porta-voz.

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A Índia acusa o Paquistão de apoiar o terrorismo transfronteiriço, algo que o governo paquistanês nega.
A Caxemira, uma região montanhosa ao sul do Himalaia, tem sido alvo de um longo conflito — e duas guerras — entre as duas potências nucleares.
Os problemas começaram em 1947, com a partição da região do sul da Ásia até então colonizada pelo Reino Unido em dois países, o Paquistão e a Índia.
O antigo principado da Caxemira ficou de fora da divisão e desde então tem sido disputado por ambas as nações (saiba mais a seguir).
Reação internacional
Questionado sobre os ataques de 7 de maio, o presidente dos EUA, Donald Trump, lamentou o ocorrido: "Só espero que isso acabe logo".
O Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou no X (o antigo Twitter) que monitoraria a situação de perto.
A embaixada indiana nos EUA chegou a informar que o Conselheiro de Segurança Nacional da Índia, Ajit Doval, havia conversado com Rubio "e o informado sobre as medidas tomadas".
Rubio disse que concordava com os comentários do presidente dos EUA e esperava que "isso termine rapidamente".
Ele também afirmou que continuaria a dialogar com as lideranças indianas e paquistanesas "para uma resolução pacífica".
Um porta-voz do Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou na ocasião estar "muito preocupado com as operações militares indianas".
"Ele [Guterres] pede a máxima contenção militar de ambos os países. O mundo não pode se dar ao luxo de um confronto militar entre a Índia e o Paquistão."
O Secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, David Lammy, declarou que as tensões atuais entre a Índia e o Paquistão são uma "séria preocupação".
"O governo do Reino Unido insta a Índia e o Paquistão a demonstrarem contenção e a se engajarem em um diálogo direto para encontrar um caminho diplomático rápido", afirmou ele em um comunicado.
Lammy disse que o Reino Unido mantém um relacionamento próximo e único com ambos os países: "Deixei claro aos meus colegas na Índia e no Paquistão que, se isso se agravar ainda mais, ninguém sairá ganhando".
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia declarou em comunicado que está "profundamente preocupado com o aprofundamento do confronto militar".
"A Rússia condena veementemente os atos de terrorismo, opõe-se a qualquer uma de suas manifestações e enfatiza a necessidade de unir os esforços de toda a comunidade internacional para combater eficazmente esse mal", afirma o comunicado.

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'Escalada dramática'
Anbarasan Ethirajan, editor de Sudeste Asiático do Serviço Mundial da BBC, classificou a situação como uma "escalada dramática" e lembrou que os dois rivais têm armas nucleares.
"Embora houvesse expectativas de que a Índia pudesse lançar algum tipo de ação militar, a intensidade dos ataques com mísseis dentro do Paquistão surpreendeu muitos", escreve ele, sobre os eventos do último dia 7 de maio.
"A Índia afirma que alguns dos locais bombardeados estavam ligados a militantes, e que eles não tinham como alvo instalações militares paquistanesas. O Paquistão prometeu retaliação, e a natureza e os alvos dessa retaliação determinarão a contra-reação de Delhi."
"Ambos os países acreditam que podem administrar a escalada, mas as tensões estão altas e é difícil prever o curso de qualquer conflito militar."
Ethirajan destacou que, no passado, os EUA e outros países intervieram para conter as tensões na região.
"Com o foco do governo Trump desviado a outras questões globais, resta saber com que rapidez Washington intervirá para apaziguar a situação. Líderes políticos em ambos os países vão querer mostrar ao público que agiram de forma decisiva e reivindicar a vitória", analisa o editor.
Já Jeremy Bowen, editor de Internacional da BBC, pontuou que Índia e Paquistão sabem o que está em jogo numa retomada do conflito.
"Será necessário um grande esforço diplomático para impedir que as tensões se intensifiquem", anteviu ele.

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Histórico de conflitos
Desde a criação dos Estados em 1947, a Índia e o Paquistão travaram múltiplas guerras — a maioria centrada na Caxemira.
A primeira eclodiu poucos meses após a fundação dos dois países, e terminou num cessar-fogo mediado pela ONU em 1949.
A região foi dividida, mas as duas nações continuaram a reivindicar controle total do território.
Em 1965, o conflito foi retomado quando as forças paquistanesas cruzaram para a Caxemira administrada pela Índia, o que gerou a ferozes batalhas terrestres e aéreas.
Em 1971, a guerra eclodiu no Paquistão Oriental, onde a Índia apoiava as forças de independência, o que levou à criação de Bangladesh.
O conflito de Kargil, em 1999, viu tropas paquistanesas infiltrarem-se na Caxemira administrada pela Índia. Foi o primeiro confronto entre os rivais com armas nucleares, o que gerou um alarme global.
Nos últimos anos, as tensões aumentaram após ações de grupos militantes: a Índia lançou "operações cirúrgicas" em 2016 após um ataque em Uri e realizou ações militares perto de Balakot em 2019, após um bombardeio em Pulwama.
O Paquistão respondeu com incursões aéreas, o que marcou uma das escaladas mais perigosas em duas décadas.