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Reino Unido convoca embaixador de Israel e amplia pressão contra bloqueio de ajuda a Gaza
O Reino Unido suspendeu negociações sobre um novo acordo de livre comércio com Israel nesta segunda-feira,19

O Reino Unido suspendeu negociações sobre um novo acordo de livre comércio com Israel nesta segunda-feira (19).
O secretário de Relações Exteriores, David Lammy, anunciou a suspensão das negociações com o governo israelense e informou que a embaixadora de Israel em Londres, Tzipi Hotovely, foi convocada ao Ministério das Relações Exteriores.
"Também vamos reavaliar a cooperação bilateral no âmbito da Rota 2030", disse Lammy. "As ações do governo Netanyahu tornaram isso necessário."
O secretário afirmou que a guerra em Gaza está prejudicando a relação do Reino Unido com Israel e anunciou a imposição de sanções a três indivíduos e quatro entidades ligados ao movimento de colonos israelenses.
"Bloquear ajuda, ampliar a guerra, ignorar as preocupações de aliados e parceiros é indefensável — e precisa parar", afirmou.
A França e o Canadá alertaram Israel que tomarão "ações concretas" se o país continuar com a expansão das suas operações militares em Gaza.
Os líderes dos três países — Keir Starmer, Emmanuel Macron e Mark Carney — pedem ao governo israelense que "interrompa suas operações militares" e "permita imediatamente a entrada de ajuda humanitária em Gaza".
Nenhum alimento, combustível ou remédio foi autorizado a entrar em Gaza desde 2 de março — uma situação que a ONU já descreveu como um "preço desastroso" a ser pago pela população palestina.
O chefe de ajuda humanitária da ONU, Tom Fletcher, disse que o número de caminhões de ajuda que foram autorizados a entrar em Gaza são apenas uma "gota no oceano do que é urgentemente necessário".
Fletcher afirma que 14 mil bebês morrerão em Gaza nas próximas 48 horas se os suprimentos de ajuda não chegarem.
Ele disse que cinco caminhões de ajuda cruzaram a Faixa de Gaza na segunda-feira, após Israel encerrar um bloqueio de 11 semanas, mas ainda não chegaram às comunidades.
Fletcher afirma que espera enviar 100 caminhões para Gaza hoje, acrescentando que "precisamos inundar a Faixa de Gaza com ajuda humanitária".
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, respondeu ao comunicado dizendo que os três líderes ofereceram um "grande prêmio" ao Hamas na guerra de Gaza.
No domingo (18/05), Netanyahu disse que seu país permitiria a entrada de uma "quantidade básica de alimentos" no território após um bloqueio de 11 semanas, mas que Israel planeja assumir "o controle de toda Gaza".
Reino Unido, França e Canadá criticaram a ação, dizendo que ela é "totalmente inadequada", pois "a negação de assistência humanitária essencial à população civil é inaceitável e corre o risco de violar o Direito Internacional Humanitário".
Eles dizem que o nível de sofrimento em Gaza é "intolerável".
Os líderes dos países ocidentais também condenaram "a linguagem abominável usada recentemente por membros do governo israelense, ameaçando que, em seu desespero por causa da destruição de Gaza, os civis começarão a se realocar".
"O deslocamento forçado permanente é uma violação do direito internacional humanitário", disseram.

Crédito,Reuters
"Sempre apoiamos o direito de Israel de defender os israelenses contra o terrorismo. Mas essa escalada é totalmente desproporcional", acrescentou a declaração dos líderes, referindo-se à nova ofensiva israelense.
Starmer, Macron e Carney também pediram que o Hamas liberte imediatamente os reféns restantes feitos no "hediondo ataque" ao sul de Israel em 7 de outubro de 2023.
A guerra de Gaza foi desencadeada pelo ataque liderado pelo Hamas, que deixou um saldo de cerca de 1,2 mil mortos e 251 reféns.Cerca de 58 reféns permanecem em Gaza, dos quais acredita-se que até 23 estejam vivos.
O Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas, diz que mais de 53 mil palestinos foram mortos durante a campanha militar de Israel.
A declaração do Reino Unido, França e Canadá reiterou o apoio a um cessar-fogo, bem como à implementação de uma "solução de dois Estados", que propõe um Estado palestino independente que existiria ao lado de Israel.
Netanyahu rebateu a sugestão: "Ao pedir a Israel que encerre uma guerra defensiva pela nossa sobrevivência antes que os terroristas do Hamas em nossa fronteira sejam destruídos e ao exigir um Estado palestino, os líderes em Londres, Ottawa e Paris estão oferecendo um prêmio enorme pelo ataque genocida contra Israel em 7 de outubro, ao mesmo tempo em que convidam mais atrocidades semelhantes."
Ele também pediu que "todos os líderes europeus" sigam a "visão" do presidente dos EUA, Donald Trump, para acabar com o conflito.
'Crédito esgotado'
Em uma cúpula realizada em Londres entre a União Europeia e o Reino Unido, o presidente do Conselho Europeu, Antonio Costa, chamou a crise humanitária em Gaza de "uma tragédia onde o direito internacional está sendo sistematicamente violado e uma população inteira está sendo submetida a uma força militar desproporcional".
"Deve haver acesso seguro, rápido e desimpedido para ajuda humanitária", disse ele.
A decisão de Netanyahu de permitir a entrada de suprimentos limitados foi criticada por seus parceiros de coalizão ultranacionalistas.
O ministro da Segurança, Itamar Ben Gvir, condenado em 2007 por incitação ao racismo e apoio a um grupo extremista judeu que Israel classifica como uma organização terrorista, reclamou que a decisão de Netanyahu "alimentaria o Hamas e lhe daria oxigênio enquanto nossos reféns definhavam em túneis".
Apenas cinco caminhões chegaram a Gaza na segunda-feira (19/05), enquanto as tropas israelenses avançavam e ataques aéreos e de artilharia matavam mais civis palestinos, incluindo crianças.

Crédito,Reuters
Para o editor da BBC Jeremy Bowen, Israel parece ter perdido todo o crédito que tinha junto a França, Reino Unido e Canadá. O estopim teria sido um incidente recente, em que médicos foram mortos.
"Às vezes, na política da guerra, um único incidente carrega um poder simbólico que cristaliza os fatos de forma tão nítida que pode forçar governos a agir. Desta vez, foi o assassinato, em 23 de março, pelas forças israelenses em Gaza, de 15 paramédicos e trabalhadores humanitários", afirma Bowen.
"Isso ocorreu depois que Israel, em 18 de março, quebrou um cessar-fogo que durou dois meses com uma série de ataques aéreos de grande escala."
"Cinco dias após o reinício da guerra, uma unidade israelense atacou o comboio médico e cobriu com areia os homens que havia matado e seus veículos crivados de balas. O relato israelense sobre o ocorrido foi desmentido quando um celular foi recuperado de um corpo na vala comum."
"Seu proprietário havia filmado o incidente antes de ser morto. Longe de comprovar a alegação de Israel de que os socorristas constituíam uma ameaça potencial aos soldados israelenses de combate, o vídeo do túmulo mostrou que ambulâncias e veículos de emergência, claramente sinalizados e bem iluminados, foram atacados sistematicamente até que quase todos dentro deles morressem."
Segundo Bowen, a declaração pedindo o fim da ofensiva israelense é a crítica mais dura que países ocidentais fizeram a Israel até o momento.
"Uma importante fonte diplomática europeia envolvida nas discussões me disse que a linguagem dura refletia um 'sentimento real de crescente raiva política com a situação humanitária, de uma linha sendo cruzada e de que este governo israelense parece agir com impunidade'", diz o editor da BBC.
No entanto, os países não especificaram quais sanções adotariam caso Israel não mude o curso de sua operação.
A França tem considerado se juntar a outros 148 Estados que reconhecem a Palestina como Estado independente. Isso seria feito em uma conferência organizada pela França e Arábia Saudita que será realizada em Nova York no começo de junho. O Reino Unido também conversou com os franceses sobre o reconhecimento palestino.