Política
O poder de persuasão em qualquer sociedade, com o passar dos anos, são tomados por verdades absolutas e manipulações históricas com interesses políticos e/ou econômicos e que fazem com que muitos fatos e atos passam para a história de maneira distorcida.
Um desses fatos ocorreu na semana que passou com o Deputado Estadual tucano Wilson Santos. No afã de gravar um vídeo enaltecendo a inauguração dos últimos 51 quilômetros de asfalto da BR-163, que liga Cuiabá-Santarém, até o Porto do rio Tapajós, no estado do Pará e que foi inaugurado pelo presidente Jair Bolsonaro e construído pelo Exército Brasileiro, o parlamentar abortou fatos históricos.
É certo que a imaginação e a épica ‘maquia’ alguns episódios da história ao longo dos anos e nós acreditamos naquilo que ao longo de nossa vida nos ensinaram os livros de texto, as obras de arte e o cinema, sem questionar. Agora com a modernidade, esses canais de informação tem sido a rede social, o WhatsApp, o Instagram e o Facebook.
Em uma dessas ferramentas, o parlamentar mato-grossense gravou um vídeo de 1:00 min e que circulou na rede onde ele afirma que o percursor do inicio da BR-163 teria sido o ex-coronel José Meirelles, ex-comandante do 9º Batalhão de Engenharia e Construção. “Olá pessoal nós tamu aqui no Pará, viemos participar da inauguração do último trecho da BR-163. BR que iniciou a ser aberta e asfaltada em 1970. Na gestão do presidente Medici e lá em Cuiabá o 9º BEC comandado pelo coronel Meirelles. Hoje, dia 14 de fevereiro de 2020, 40, 50 anos depois nós estamos inaugurando o último trecho de Cuiabá até Santarém, 100 por cento de asfalto. É um dia histórico para a infraestrutura brasileira e especial para o nosso Mato Grosso”, disse Wilson no vídeo.
Sem adotar o ufanismo que tomou conta da conquista do Oeste brasileiro no final da década de 60 e início de 70, devemos corrigir um erro histórico cometido pelo parlamentar tucano enraizados em duas vertentes: primeiro sobre a importância da rodovia para a integração do Brasil e em especial de Mato Grosso. Segundo, pelas dezenas de civis e militares que tombaram nessa rodovia, vítimas de febre amarela, ataques de índios e acidentes.
Mas, vamos lá. O inicio da construção da BR-163 ocorreu em 1970 e foi iniciado pela antiga Comissão de Estradas de Rodagem nº 05(CR 5), antigo DNER(hoje DNIT) órgão ligado ao Ministério da Infraestrutura(antigo ministério dos Transporte).
A ordem de desbravar a Amazônia Brasileira em Mato Grosso construindo uma rodovia de integração foi estudada e proposta ainda no Governo do ex-presidente Costa e Silva(15/03/67 a 31/08/69). Percursores, na época, começaram no início de 1970 a fazer picadas e a construções de pontes de madeiras.
Em novembro de 1970, já no Governo de Emílio Garrastazu Médici(30/10/1969 a 15/03/1974) desembarca no aeroporto Marechal Rondon, em Várzea Grande os primeiros maquinários(tratores e caminhões) para o novo Exército de Cuiabá, o 9º Batalhão de Engenharia e Construção e que tinha vindo da cidade de Carazinho, Rio Grande do Sul, terra natal do ex-governador do Rio Grande, Leonel Brisola.
O 9º BEC veio substituir o 5º BEC que tinha deixado Cuiabá para se instalar na cidade de Porto Velho, em Rondônia em 1967.
O 9º BEC, na época, teve como seu primeiro comandante, o Coronel José Paranhos e que iniciou de fato a abertura da BR. Ele foi substituído em pouco tempo pelo Coronel Meirelles e a BR-163 foi de fato inaugurado em 1974, pelo presidente Médici.
O asfalto só aconteceu em 1984 até a cidade de Sinop(500 KM de Cuiabá), na gestão do ex-presidente Figueiredo, em ato com o ex-governador Júlio Campos(DEM). Portanto, o 9º BEC iniciou em definitivo as obras da BR-163 em 31 de janeiro de 1971 conjuntamente com o 8º BEC de Belém, no Pará, e a missão dos dois quartéis naquela época era implantar o trecho de Cuiabá até o norte de Cachimbo/Santarém, além de conservar a BR 364 no trecho Cuiabá-Barracão Queimado.
Portanto não se pode negar a importância do Coronel Meireles na construção da obra, além, de outros comandantes e de trabalhadores civis e militares, além de visionários como os ex-presidentes Costa e Silva, Medici e Figueiredo. Mas, verdadeiramente o asfalto na rodovia só ocorreu em 1984, na gestão do ex-presidente Figueiredo. E agora com o término de 51 quilômetros que faltavam, termina um ciclo e inicia outro na história.
https://www.youtube.com/watch?v=5O3Hv6wYyTo&feature=youtu.be