Política

Quem é o “El Patrão”, o grande chefe, que comandou o desvio de R$ 87 milhões de Prefeitura em MT?

Um conjunto de provas, que incluem delações e relatos de testemunhas, acaba sendo usado para juntar as peças do quebra-cabeça

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA 22/10/2023
Quem é o “El Patrão”, o grande chefe, que comandou o desvio de R$ 87 milhões de Prefeitura em MT?
Esse Poderoso Chefão seria uma pessoa ‘poderosa’ que daria apoio moral e institucional para que o grupo criminoso efetivasse os contratos fraudulentos na saúde daquele município | Divulgação

Corrupção, por natureza, é um crime que se mantém nas sombras. E, quanto mais alta a posição ocupada pelo líder, o chamado O Poderoso Chefão, menores são as chances de que deixe rastros óbvios dos crimes cometidos.

Por isso, um conjunto de provas, que incluem delações e relatos de testemunhas, acaba sendo usado para juntar as peças do quebra-cabeça.

No caso específico da Operação Cartão Postal feita por Policiais da Delegacia de Combate a Corrupção(Deccor) na secretaria de saúde de Sinop(500 KM de Cuiabá), ficou evidente que existe um líder maior, um chefão que vive nas ‘sombras’, a quem a organização criminosa estava subordinada, o chamado “El Patrão”.

Os presos da Operação: Jefferson Geraldo Texeira, Roberta Arend Rodrigues Lopes, Elizangela Bruna da Silva, Célio Rodrigues(ex-secretário de saúde de Cuiabá), e João Bosco da Silva, nenhum deles quiseram revelar quem de fato seria o “El Patrão”, o grande chefe da pilhagem de R$ 87.419.285,018(Oitenta e Sete Milhões, Quatrocentos e Dezenove Mil, Duzentos e Oitenta e Cinco Reais e Dezoito Centavos) que eram destinados para a saúde de Sinop e que deveria atender crianças e idosos pobres daquele município, cerca de 90 mil, mensalmente.

O outro preso e que é considerado um líder intermediário e quem relatava nas conversas pelo telefone e por WhatsApp, é o advogado, Hugo Florêncio de Castilho, irmão caçula do juiz de Cuiabá, Jurandir Florêncio de Castilho Júnior.

Álbum de Família
Álbum de Família

Ele afirmava nas conversas, que metade da dinheirama do grupo criminoso deveria ser entregue ao chefe, o chamado “El Patrão”. Esse Poderoso Chefão seria uma pessoa ‘poderosa’ que daria apoio moral e institucional para que o grupo criminoso efetivasse os contratos fraudulentos na saúde daquele município.

A polícia montou um verdadeiro ‘quebra-cabeça’, para tentar desvendar e descobrir quem é o chefe, o ‘El Patron’. A Operação Policial também afastou o advogado Ivan Shneider e a secretária municipal de Saúde, Daniela Galhardo.

Também foram alvos da Operação o médico cirurgião plástico, Euller Gustavo Pompeu de Barros Gonçalves Preza e a dentista Fabíula Martins Lourenço, que usará tornozeleira eletrônica.

Além de Ângela Maria Pitondo de Oliveira, Deise Juliani, Helena Maria Santos Barbosa, Bruno Borges e Adriana Teixeira Martins.

As ordens de prisão e buscas e apreensões foi determinada pelo juiz de Cuiabá, João Bosco Soares das Silva, um dos magistrados mais éticos da magistratura de Mato Grosso.

O juiz também determinou que fosse cumprido 32 mandados de busca e apreensão nas cidades de Sinop, Cuiabá, Várzea Grande, São Paulo e nos municípios paulistas de Praia Grande e São Vicente. Também foram alvos, além de pessoas físicas, as seguintes empresas e escritórios: Instituto de Gestão de Políticas Públicas – IGPP,, Cuyabana Cervejaria Artesanal, Vida e Sorriso Clínica Médica e Odontológica (MedicPlus), HC Gestão em Informática, Mais Saúde Serviços Médicos e Hospitalares, Acácia Construtora e Incorporadora, Sappo Company Comercio Ltda, Pronto Mais Serviços Médicos e Hospitalares, DDigital Comércio e Serviços de Informática e S8 Service.

E o escritório de advocacia Castilho e Caldas Advogados Associados do irmão do juiz Jurandir Florêncio de Castilho Júnior.

Fazendo um comparativo da Operação Cartão Postal com a ficção do cinema, a chamada metáfora cinematográfica no filme O Poderoso Chefão, serve para mostrar que, “nos esquemas de corrupção sistêmica, necessariamente você vai encontrar uma troca especifica, 'isso por aquilo'.”

Episódios envolvendo agentes públicos podem revelar sistemas corruptos, com trocas imediatas.

Na primeira cena de O Poderoso Chefão, Don Corleone recebe um homem, Bonasera, que pede ajuda do poderoso chefão porque sua filha apanhou do namorado e de um amigo.

Bonasera foi lá pedir ajuda do poderoso chefão para que ele mandasse homens para bater nos dois. Depois de algum drama, o poderoso chefão concorda em ajudar, sem matar os homens, como Bonasera queria, mas mandando pessoas baterem neles. Bonasera pergunta no fim da cena o que Don Corleone quer em troca, e O Poderoso Chefão dá uma resposta bem interessante. Ele disse: “Não quero nada agora, mas um dia, talvez um dia, eu vá te pedir algo e então precisarei que você retorne o favor”, e neste caso específico da Operação Cartão Postal, esse favor chegou.

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Câmara dos Deputados

Quanto ao prefeito de Sinop, Roberto Dorner, do Republicanos, ele realmente é um homem de muitos talentos. Primeiro ele ganhou o prêmio Rui Barbosa de Gestão de Qualidade, como um dos melhores prefeito mato-grossense, ao mesmo tempo que ‘milagrosamente´ reverteu uma decisão que tinha rescindido o contrato com a Organização Goiânia de Terapia Intensiva(OGTI), para gerenciamento de uma UTI pediátrica em Sinop, mesmo sem documentação médica.

Realmente a ficção, com a Operação Cartão Postal, se tornou realidade.