Polícia
Casa de lobista da venda de sentenças é vasculhada pela PF em MT; segurança preso por obstrução
Andreson Gonçalves, apontado como intermediador entre desembargadores e advogados, teve a residência em Primavera do Leste vasculhada por ordem do ministro Cristiano Zanin; policial aposentado foi preso por tentar esconder celular
A Polícia Federal deflagrou mais uma ofensiva contra o esquema bilionário de venda de sentenças judiciais que sacudiu os bastidores do Judiciário em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
O alvo, desta vez, foi a residência do lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, em Primavera do Leste (240 km de Cuiabá), apontado como o elo mais poderoso entre desembargadores, advogados e empresários em operações suspeitas.
A ação desta sexta-feira (3), autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Cristiano Zanin, resultou na prisão em flagrante do policial militar aposentado Dejair Silvestre dos Santos, segurança pessoal do lobista, acusado de obstrução de Justiça ao tentar esconder um celular durante a batida.

Segundo os investigadores, Andreson — que cumpre prisão domiciliar por motivos de saúde — estaria descumprindo medidas cautelares e mantendo influência ativa nos tribunais. Há indícios de que ele acessava minutas de decisões judiciais antes mesmo da publicação oficial, reforçando a suspeita de que integrava um sofisticado esquema de compra e venda de sentenças envolvendo magistrados de alto escalão.
As investigações da Operação Sisamnes começaram após a apreensão do celular do advogado Roberto Zampieri, assassinado em 2023. As mensagens revelaram que Andreson teria atuado para aproximar desembargadores do TJMT e TJMS de escritórios de advocacia interessados em manipular julgamentos.
Não é a primeira vez que o lobista aparece nas manchetes: em 2024, ele já havia sido alvo da Operação Última Ratio, que afastou cinco desembargadores do TJMS. Agora, com nova ofensiva, a PF reforça a tese de que Andreson é peça-chave de um dos maiores escândalos de corrupção judicial do país.
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O caso desnuda as entranhas do Judiciário brasileiro e expõe como decisões judiciais de alto impacto — muitas vezes milionárias — podem ter sido negociadas nos bastidores, manchando a credibilidade das cortes.
Enquanto isso, Andreson segue em prisão domiciliar, monitorado por tornozeleira eletrônica, mas sob forte vigilância da PF, que promete avançar nas investigações.