Política
Lobista da Máfia das Sentenças deixa prisão por ordem do STF e vai cumprir pena em casa de luxo em MT
Acusado de comprar decisões em tribunais e ligado a quatro ministros do STJ, Andreson Gonçalves vai viver em prisão domiciliar com a esposa também investigada

O Supremo Tribunal Federal (STF) mandou soltar o lobista Andreson Gonçalves de Oliveira, apontado como peça-chave na máfia da venda de sentenças judiciais que abalou o Judiciário brasileiro. A decisão foi assinada pelo ministro Cristiano Zanin, que converteu a prisão preventiva em prisão domiciliar após exames apontarem supostos problemas de saúde do detento.
Andreson, que estava trancafiado desde novembro de 2024, vai cumprir a medida em casa, em Primavera do Leste, no Mato Grosso, ao lado da esposa Mirian Ribeiro — que também é investigada no escândalo.
A defesa alegou que o lobista, ex-empresário e bacharel em Direito, teria complicações por conta de uma cirurgia bariátrica e não estaria recebendo dieta adequada no presídio. A Procuradoria-Geral da República deu parecer favorável à soltura.
Andreson era o cérebro da operação ao lado do advogado Roberto Zampieri, executado com 10 tiros em Cuiabá em dezembro de 2023 — numa possível queima de arquivo.
As investigações da Polícia Federal mostram que Andreson comprava sentenças e decisões antecipadas com ajuda de assessores de ministros do STJ. Entre os citados nas conversas extraídas do celular de Zampieri estão quatro ministros da mais alta corte infraconstitucional do país: Isabel Gallotti, Og Fernandes, Nancy Andrighi e Paulo Moura Ribeiro
Os bastidores revelam pagamentos em troca de votos prontos e decisões moldadas para beneficiar clientes. A dupla agia com precisão: Zampieri captava os “interessados” e Andreson fazia o serviço sujo em Brasília.
O esquema também atingiu o Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), onde os desembargadores Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho foram afastados após serem citados nas mensagens trocadas entre Andreson e Zampieri. Mandados foram cumpridos nas casas dos magistrados, e o conteúdo apreendido só reforçou a teia de corrupção.
A operação ainda respingou no TJ de Mato Grosso do Sul, onde cinco desembargadores foram afastados após o cumprimento de buscas em condomínios de luxo. Em uma das ações, a PF apreendeu um notebook recheado de provas na casa de Andreson, em Cuiabá.
O assassinato de Roberto Zampieri chocou o meio jurídico e levantou suspeitas de silenciamento estratégico. O advogado foi emboscado ao sair do escritório, em dezembro de 2023, e morreu com mais de 10 tiros disparados à queima-roupa.
A polícia apontou como mandante o produtor rural Aníbal Manoel Laurindo, com intermediação do coronel do Exército Luiz Cacadini e execução por pistoleiros contratados. Todos foram indiciados.
Mesmo sendo considerado perigoso para as investigações, Andreson ganhou o direito de cumprir a pena em casa. A ordem do ministro Zanin ainda determinou avaliação médica urgente, mas o caminho está aberto: o lobista da máfia das sentenças vai deixar o presídio.
Enquanto isso, o Brasil assiste, mais uma vez, a um protagonista de um escândalo nacional sair pela porta da frente — e voltar para o conforto do lar.