A tradicional e poderosa família Riva, que por décadas exerceu influência nos bastidores da política de Mato Grosso, agora se vê no centro de um novo escândalo — desta vez, denunciado por um de seus próprios membros.

Priminho Antonio Riva, ex-prefeito de Juara e irmão do ex-deputado e ex-presidente da Assembleia Legislativa José Geraldo Riva, fez uma denúncia pública gravíssima: segundo ele, a campanha de 2014 de sua sobrinha, a hoje deputada estadual Janaina Riva (MDB), foi financiada com dinheiro de caixa dois, movimentado por meio da conta bancária de sua esposa, usada de forma irregular para mascarar despesas eleitorais.

“Usei a conta da minha esposa para fazer o caixa dois da Janaina e pagar conta de campanha”, afirmou, em vídeo que circula nas redes sociais.

O que chama atenção não é apenas a denúncia de crime eleitoral — 11 anos após a eleição —, mas a exposição de um conflito familiar escancarado. Priminho revela que, desde o fim da eleição, tenta um acerto com o irmão José Riva, que inicialmente teria prometido resolver a situação, mas depois teria se recusado a indenizar os prejuízos causados à cunhada, hoje com o nome sujo e impossibilitada de movimentar conta bancária.

“Venho lutando com o meu irmão para que acerte, mas nunca tive apoio. Agora ele diz que não vai pagar. Só quero os direitos da minha esposa e meus”, desabafa no vídeo.

A denúncia atinge diretamente a imagem de Janaina, mas o pano de fundo envolve o nome do pai, José Riva, considerado por muitos como símbolo da corrupção sistêmica no Legislativo mato-grossense. Condenado em diversas ações por desvios de dinheiro público, lavagem de dinheiro e improbidade administrativa, ele foi acusado pelo Ministério Público de integrar um esquema bilionário que teria saqueado os cofres da Assembleia por quase duas décadas.

Apesar do peso das acusações, José Riva segue exercendo influência nos bastidores políticos. E é justamente essa influência que, segundo Priminho, impediu por anos que o caso viesse à tona. A assessoria da deputada foi procurada e informou que não haverá manifestação oficial. Em nota, limitou-se a dizer que as contas da campanha de 2014 foram aprovadas pelo TRE e que nada deve à Justiça Eleitoral. Sobre a denúncia do tio, Janaina teria sido surpreendida e “não entende por que ele decidiu falar agora”.

Esse silêncio, no entanto, não convenceu parte do eleitorado e acendeu um alerta nos corredores do Palácio Paiaguás. A repercussão do vídeo gerou desconforto na base aliada da parlamentar e pode motivar uma reabertura de apuração sobre as finanças de sua primeira campanha. A denúncia de Priminho Riva não é apenas um ataque político: ela revela o colapso interno de uma família que sempre operou em bloco no poder, mas agora parece dividida por interesses pessoais, ressentimentos e contas não pagas — literalmente.

Com a explosão do vídeo, cresce a expectativa de que o Ministério Público Eleitoral entre em cena, investigue as movimentações financeiras da época e apure a possível prática de caixa dois, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica eleitoral. Além das consequências jurídicas, o caso atinge diretamente a credibilidade de Janaina Riva, que tem se posicionado como liderança política no Estado e até nacionalmente.

Agora, diante de uma acusação vinda de dentro da própria casa, sua trajetória pode ser profundamente abalada — a depender da disposição dos órgãos de controle em ir até o fim. Acompanhe nos próximos dias os desdobramentos do escândalo que expôs rachaduras profundas na mais emblemática dinastia política de Mato Grosso.