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China retalia EUA com tarifa de 125% e dólar despenca em relação a moedas de outros países ricos

Enquanto isso, o presidente americano Donald Trump publicou em sua rede social Truth Social que os EUA estão

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM BBC 11/04/2025
China retalia EUA com tarifa de 125% e dólar despenca em relação a moedas de outros países ricos
O presidente da China, Xi Jinping, pediu que a União Europeia se junte a Pequim na oposição à 'intimidação' dos EUA | EPA

China aumentou as tarifas sobre produtos americanos para 125%.

Esse é mais um ponto na escalada da guerra comercial com os Estados Unidos após o anúncio de tarifas globais feito por Donald Trump na semana passada.

Após o anúncio, o dólar atingiu seu valor mais baixo em três anos nesta sexta-feira (11/4), em relação a uma cesta de moedas de seus principais parceiros comerciais, incluindo euro, iene, libra esterlina, dólar canadense, coroa sueca e franco suíço.

Enquanto isso, o presidente americano Donald Trump publicou em sua rede social Truth Social que os EUA estão "se saindo muito bem em nossa política tarifária".

"Muito empolgante para os Estados Unidos e para o mundo!!! Está avançando rapidamente", escreveu ele.

De acordo com as novas regras anunciadas pelo presidente americano, o governo chinês enfrenta uma taxa de 145% sobre alguns dos produtos importados pelos EUA.

O presidente Xi Jinping pediu que a União Europeia se junte a Pequim na oposição à "intimidação" dos EUA.

Ele também afirmou que "não há vencedores em uma guerra tarifária".

Apesar disso, Trump afirma que ainda espera fechar um acordo com Pequim.

Segundo ele, é possível chegar "a um acordo muito bom para ambos os países".

Enquanto esses fatos se desenrolam, o ouro atingiu uma máxima histórica — um sinal de que os investidores migram para ativos de refúgio mais seguros.

Anteriormente, Trump anunciou uma "pausa" de 90 dias na aplicação de tarifas extras aos países que não retaliaram sua nova política de comércio.

A pausa significa que uma tarifa "universal de 10%" será aplicada a todos os países, exceto a China, disse a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt.

Até o momento, a Rússia também não sofreu aumento de tarifas pelos EUA. O país já se encontra sob sanções econômicas severas, mas ainda mantém um comércio em menor escala com os americanos.

O Brasil, taxado em 10% por Trump e que não anunciou retaliações, fica como está.

Dólar perde valor contra outras moedas fortes

O ICE US dollar index, um índice do valor do dólar em relação às moedas dos grandes parceiros comerciais dos EUA, chegou a cair 1,8% nesta sexta-feira, indo abaixo de 100 e atingindo seu menor patamar desde abril de 2022.

Para as empresas americanas que importam produtos do exterior, isso se soma ao impacto das tarifas, tornando as importações ainda mais caras.

O movimento surpreende porque, tradicionalmente, em períodos de turbulência do mercado, o dólar costumava ser um ativo seguro e seu valor aumentava.

A moeda americana se valorizou após a pandemia porque o crescimento econômico dos EUA foi relativamente forte. Ela saltou novamente após a eleição de Trump, na expectativa de que o republicano pudesse estender essa tendência.

Mas agora, com as tarifas, analistas esperam que o crescimento dos EUA enfraqueça.

As tarifas também provocaram um forte aumento nas taxas de juros exigidas pelos investidores em títulos do Tesouro americano.

Como a relação China-EUA se desfez

Autoridades chinesas têm usado consistentemente palavras fortes para descrever a oposição às novas tarifas de Donald Trump, que aumentaram de forma astronômica nos últimos dias.

Quando o presidente dos EUA anunciou pela primeira vez seu abrangente esquema global de impostos de importação, a alíquota da China estava em 34% — uma taxa elevada, mas longe de representar o país mais afetado pelas medidas.

Pequim retaliou com uma tarifa de 34% sobre produtos americanos, o que deu início a uma guerra comercial retaliatória.

Os EUA responderam e aumentaram as tarifas para 104%.

Daí a China elevou as suas para 84%.

Os Estados Unidos retaliaram novamente — e, por ora, as tarifas americanas atuais sobre alguns produtos chineses já chegam a 145%, com a taxa geral ainda mantida em 125% .

Essa porcentagem de 145% para alguns produtos é devido a uma taxa pré-existente imposta às empresas que produzem fentanil, uma droga que causa problemas de saúde e segurança em terras americanas.

O último aumento anunciado pela China foi acompanhado por comentários do Ministério das Finanças do país, que descreveu as ações da Casa Branca como "tirania comercial" na mídia estatal.

Pequim "se opõe firmemente e jamais aceitará tais práticas hegemônicas e intimidatórias", disse Lin Jian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, a repórteres.

O Ministério do Comércio da China já havia rotulado a taxa adicional dos EUA como "um erro atrás do outro" e afirmou que jamais aceitará a "natureza chantagista" dessas medidas.

Por sua vez, o presidente americano acusou a China de falta de respeito e de "explorar" os EUA.

Após anunciar uma nova tarifa de 125% sobre as importações dos EUA nesta sexta-feira (11/04), o governo de Pequim assegurou que não responderá a quaisquer novas tarifas impostas pelos EUA.

Segundo o comunicado, as "tarifas anormalmente altas" impostas pelos EUA "violam gravemente as regras de comércio internacional, as leis econômicas básicas e o bom senso, além de serem uma forma de intimidação e coerção totalmente unilateral".

Trump e Xi Jinping

Crédito,Reuters

Legenda da foto,Governo chinês afirmou que tarifas de Trump têm 'natureza chantagista'

UE discutirá resposta se negociações com EUA falharem

A União Europeia discutirá uma resposta caso as negociações tarifárias com os EUA não cheguem a uma solução aceitável, afirmou o ministro das Finanças alemão, Joerg Kukies.

"No momento, estamos em uma boa situação, com um período de tempo bastante longo em que há potencial para negociar. E, claro, os EUA precisam ser conscientes de que, se as negociações não funcionarem, teremos outra discussão sobre mecanismos de resposta", declarou Kukies antes de uma reunião informal dos ministros da Economia e das Finanças da UE em Varsóvia, na Polônia.

Ele acrescenta que a UE deve ser criteriosa em sua resposta às tarifas americanas, pois o bloco tem um superávit comercial em bens, mas um déficit comercial em serviços.

Kukies detalhou que a Europa deve cultivar sua própria indústria digital — pois, no momento, não possui alternativas reais aos serviços oferecidos pelos provedores de serviços digitais dos EUA.