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O novo plano 'secreto' de Trump para acabar com guerra na Ucrânia
O acordo exigiria que a Ucrânia cedesse territórios que ainda controla e reduzisse drasticamente o tamanho de suas forças armadas
Estados Unidos e Rússia estariam preparando uma nova proposta de paz para pôr fim à guerra na Ucrânia, que exige concessões significativas de Kiev, segundo informações veiculadas em diversos sites de notícias.
O acordo exigiria que a Ucrânia cedesse territórios que ainda controla e reduzisse drasticamente o tamanho de suas forças armadas.
Acredita-se que as negociações excluem autoridades europeias e ucranianas, aumentando os temores de que o plano seja amplamente favorável à Rússia. Washington, porém, rejeitou as alegações de que a Ucrânia não esteja envolvida na elaboração do plano.
A Casa Branca reconheceu a existência de um plano de paz "detalhado e aceitável". Também acrescentou que o presidente Donald Trump estava cada vez mais "frustrado" com a Rússia e a Ucrânia "por sua recusa em se comprometer com um acordo de paz" e que sua equipe vinha trabalhando nessa proposta.
Moscou não confirmou nem negou a existência de um plano.
Em pronunciamento na tarde de quinta-feira (20/11), o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que representantes dos EUA em Kiev apresentaram "sua visão" de um plano para pôr fim à guerra, mas que ele estava "pronto para trabalhar com os EUA".
"Desde os primeiros dias da guerra, mantivemos uma posição muito simples: a Ucrânia precisa de paz. Uma paz verdadeira, que não seja destruída por uma terceira invasão."

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A primeira-ministra da Ucrânia, Yulia Svyrydenko, se reuniu com autoridades americanas em Kiev na quinta-feira.
"As partes concordaram em trabalhar nas disposições do plano para que um fim justo para a guerra possa ser alcançado", afirmou o gabinete de Zelensky.
A Rússia lançou uma invasão em grande escala da Ucrânia em 2022, o maior conflito na Europa desde a 2ª Guerra Mundial.
O que se sabe até o momento?
Diversos veículos de imprensa internacionais divulgaram detalhes de um suposto plano de 28 pontos, que teria sido acordado entre o enviado de Trump, Steve Witkoff, e o enviado especial da Rússia, Kirill Dmitriev.
Um alto funcionário americano confirmou à BBC que Witkoff vinha trabalhando discretamente em uma proposta e que havia recebido contribuições tanto dos ucranianos quanto dos russos sobre os termos que consideravam aceitáveis para o fim da guerra.
Na quarta-feira (19/11), começaram a surgir relatos sugerindo que o plano exigiria concessões significativas da Ucrânia, embora o funcionário entrevistado pela BBC tenha afirmado que "ambos os lados terão que fazer concessões, não apenas a Ucrânia".

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Os veículos Axios, Financial Times e Reuters, citando fontes próximas às negociações, noticiaram que Kiev deverá ceder as áreas da região de Donbas, no leste da Ucrânia, que ainda controla, reduzir o tamanho de suas forças armadas e entregar grande parte de seu armamento.
Segundo a Axios, que noticiou o plano em primeira mão, a transferência do restante de Donbas seria feito em troca de garantias de segurança dos EUA para Kiev e a Europa contra futuras agressões russas.
O Financial Times acrescentou que, de acordo com o plano, a Ucrânia teria que concordar em reduzir pela metade o tamanho de suas forças armadas, reconhecer oficialmente o idioma russo e conceder status de proteção à Igreja Ortodoxa Russa.
Já segundo o The Telegraph, Kiev manteria a propriedade legal de Donbas, enquanto a Rússia pagaria um aluguel não especificado por seu controle de fato.

Crédito,Reuters
De acordo com a Constituição ucraniana, as questões territoriais devem ser submetidas a um referendo nacional, uma votação que quase certamente fracassaria. Mas um sistema de "arrendamento" proposto contornaria essa exigência.
Uma fonte entrevistada pela agência de notícias AFP afirmou que o plano exige "o reconhecimento da Crimeia e de outras regiões ocupadas pela Rússia".
As forças russas controlam aproximadamente um quinto do território ucraniano e continuam avançando, além de realizarem frequentes ataques à infraestrutura energética ucraniana com a aproximação do inverno.
Em 2022, o Kremlin anexou quatro regiões ucranianas — Donetsk, Luhansk, Zaporizhzhia e Kherson — apesar de não ter controle total sobre elas.
A Rússia também anexou a península ucraniana da Crimeia em 2014.

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O que ainda não está claro no plano vazado?
Os detalhes completos do plano ainda são desconhecidos.
Segundo uma fonte citada pela AFP, também não está claro quais compromissos a Rússia assumiria em troca das concessões que Kiev descreveu anteriormente como uma derrota.
Putin exige há muito tempo que Kiev abandone seus planos de ingressar na Otan, a aliança liderada pelos EUA, e retire suas tropas das quatro províncias que Moscou reivindica como parte da Rússia.
Moscou não deu qualquer indicação de que irá retirar essas exigências, e a Ucrânia já declarou que não as aceitará.

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Os EUA confirmaram a existência de um plano, mas a Rússia não.
Na quarta-feira, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, escreveu no X que alcançar uma paz duradoura exigirá que ambos os lados aceitem concessões difíceis, porém necessárias.
Ele afirmou que os EUA estavam consultando ambos os lados envolvidos no conflito para desenvolver uma lista de possíveis ideias para o fim da guerra.
Embora a equipe de Dmitriev tenha se recusado a comentar as notícias, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, declarou na quinta-feira que contatos foram feitos com os EUA, mas que nenhuma consulta ou negociação estava ocorrendo.
Em resposta a uma pergunta da BBC, Peskov afirmou na quinta-feira que não podia confirmar a existência desse plano, acrescentando: "Não temos nada de novo a acrescentar ao que foi dito em Anchorage (onde ocorreram as últimas conversas entre Putin e Trump). Não temos nada de novo a dizer sobre este assunto."

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O chefe da diplomacia da UE, Kakha Kallas, alertou na quinta-feira que qualquer plano exigiria o apoio tanto dos ucranianos quanto dos europeus.
O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noël Barrot, acrescentou que "os ucranianos não querem nenhuma forma de capitulação".
Antes da declaração emitida também na quinta-feira pelo gabinete de Zelensky, o presidente ucraniano não havia mencionado o plano que vinha sendo especulado.
No entanto, a primeira-ministra ucraniana, Yulia Svyrydenko, afirmou que sua reunião naquele dia com autoridades americanas proporcionou "uma oportunidade para que representantes do governo dos EUA avaliassem a situação no terreno e vissem as consequências da agressão russa".
Zelensky descartou repetidamente a possibilidade de ceder território à Rússia.
Kiev e seus aliados ocidentais, incluindo os EUA, exigiram um cessar-fogo imediato ao longo da extensa frente, mas Moscou rejeitou essa exigência e reitera suas demandas, que, segundo a Ucrânia, equivalem a uma rendição de fato.
No início deste mês, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, afirmou que as pré-condições de Moscou para um acordo de paz — que incluem a cessão de território, severas restrições ao tamanho do exército ucraniano e a neutralidade do país — não mudaram desde que Putin as formulou em 2024.

Crédito,Ukrainian Armed Forces handout / EPA / Shutterstock
O plano pode funcionar?
Vitaliy Shevchenko, especialista em Rússia e Ucrânia do BBC Monitoring, acredita que o suposto plano de paz EUA-Rússia para a Ucrânia "difere pouco das exigências maximalistas que Moscou já expressou".
Ele acrescenta que, se for verdade que Washington apoia o que, na prática, é a lista de desejos de Vladimir Putin na Ucrânia, "isso alimentaria ainda mais as dúvidas sobre a imparcialidade dos EUA como mediadores nos esforços para pôr fim à guerra".
Ele explica que isso também aumentaria as preocupações existentes na Europa de que Washington esteja tentando marginalizar seus aliados no bloco enquanto trabalha para melhorar suas relações com Moscou.
O correspondente da BBC no Departamento de Estado de Washington, Tom Bateman, observa que Moscou já fez essas exigências antes e que Kiev as considera uma capitulação.
"Washington endureceu recentemente sua posição em relação a Moscou com novas sanções e pode estar se preparando para pressionar ainda mais o presidente Zelensky em relação ao que ele e seus aliados europeus sempre consideraram linhas vermelhas", conclui.